
23/09/2025
A Escola Jatobazinho, localizada às margens do rio Paraguai, a quase 100 km do centro de Corumbá (MS), abriga 55 alunos, da educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, que passam a semana toda na escola. Em 2024, o colégio foi afetado pelas queimadas históricas que atingiram a região e, um ano após o episódio, os efeitos ainda são percebidos por professores e alunos.
Durante meses, a região foi tomada pela fumaça e as chamas na mata passaram a ser parte da paisagem. Até que, em junho passado, a escola precisou ser esvaziada às pressas devido à proximidade do incêndio. "A gente estava realmente cercado, então os bombeiros chegaram aqui avisando que estávamos correndo risco, porque o fogo daqui da frente [outra margem do rio] podia pular para cá", conta a professora de educação infantil Larissa Paula Costa Mota, 28.
O episódio foi o estopim da situação que vinha se agravando desde o mês de maio — quando a região registrou os primeiros focos de incêndio do ano. As aulas foram suspensas por cerca de dez dias e, no retorno, outras queimadas apareceram pela região. Dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) mostram que em 2024 o pantanal teve 2,6 milhões de hectares atingidos, 17% da área total do bioma.
A convivência com sintomas como dores de cabeça, dificuldades para respirar e diarreia, devido a fumaça, passou a fazer parte do cotidiano das professoras, que recorriam a receitas naturais, como chás, para amenizar as queixas de seus alunos.
Além dos efeitos na saúde física, a equipe começou a notar mudanças no comportamento dos alunos. A convivência com os incêndios passou a parecer normal para algumas crianças, elas brincavam com cinzas no chão como se fossem neve, frequentemente desenhavam casas queimadas, árvores em chamas e animais mortos.
"Elas estavam acostumadas, porque isso vem acontecendo todos os anos. E começou a ficar muito preocupante para a gente, não queremos que elas passem a normalizar um fogo que mata os animais, destrói a casa delas."
Os meses em que a escola ficou tomada pela fumaça foram os mais desafiadores, a professora conta ter tentado tranquilizar os alunos e dar algum conforto para eles, mas, ao mesmo tempo, lidava com o medo e a ansiedade que a situação trazia.
"Ficava desesperada, porque eu não sabia o que fazer e estava todo mundo mal, física e mentalmente. Então, a gente passava mal à noite e acordava sem ar, via fumaça dentro do quarto; quando acordava, tinha muita fuligem nas nossas roupas, nas cobertas. E o fogo tem barulho, dá para escutar o desespero dos animais, os galhos quebrando, isso é horrível", conta Larissa, que hoje faz tratamento para as crises de ansiedade, que surgiram no ano passado.
Conclua a leitura desta reportagem clicando na Folha de S. Paulo
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