
11/12/2025
As vastas planícies desérticas da região de Ica, no Peru, deram lugar, nas últimas décadas, a extensas plantações de mirtilos e outras frutas.
Até a década de 1990, era difícil imaginar que essa área do deserto costeiro peruano, onde à primeira vista se vê pouco mais do que poeira e mar, pudesse se transformar em um grande centro de produção agrícola.
Mas foi exatamente isso que aconteceu não só ali, mas na maior parte do litoral desértico peruano, onde cresceram grandes plantações de frutas não tradicionais da região, como manga, mirtilos e abacates.
A enorme faixa que atravessa o país paralela às ondas do Pacífico e às elevações andinas converteu-se em um imenso pomar e no epicentro de uma pujante indústria agroexportadora.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Irrigação do Peru, as exportações agrícolas peruanas cresceram, entre 2010 e 2024, a uma média anual de 11%, alcançando em 2024 o recorde de US$ 9,185 milhões.
O Peru se transformou, nesses anos, no maior exportador mundial de uvas e de mirtilos — uma fruta que quase não era produzida no país antes de 2008.
E sua capacidade para produzir em grande escala durante as estações em que isso é mais difícil no hemisfério norte, fez com que o país se consolidasse como uma das grandes potências agroexportadoras, e um dos principais fornecedores dos Estados Unidos, Europa, China e outros mercados.
Mas quais são as consequências disso? Quem se beneficia? E esse boom de exportação agrícola peruano é sustentável?
O processo que levaria o desenvolvimento da indústria agroexportadora peruana começou na década de 1990, quando o governo do então presidente Alberto Fujimori promoveu profundas reformas para reanimar um país — atingido por anos de crise econômica e hiperinflação.
"O trabalho de base foi realizado para reduzir as barreiras tarifárias, promover o investimento estrangeiro no Peru e reduzir os custos administrativos para as empresas. Buscava-se impulsionar os setores que tivessem potencial exportador", disse à BBC Mundo — serviço em espanhol da BBC — César Huaroto, economista da Universidade Peruana de Ciências Aplicadas.
"No início, o foco era o setor de mineração, mas, no fim do século já surge uma elite empresarial que vê o potencial do setor de exportação agrícola."
Mas não bastavam apenas leis mais favoráveis e nem boas intenções.
A agricultura em grande escala no Peru enfrentava tradicionalmente obstáculos como a baixa fertilidade dos solos da selva amazônica e a acidentada geografia da serra andina.
Ana Sabogal, especialista em ecologia vegetal e em mudanças antrópicas nos ecossistemas da Pontífica Universidade Católoca do Peru, explicou que "o investimento privado de grandes agricultores, que são menos avessos ao risco do que os pequenos, facilitou inovações técnicas como a irrigação por gotejamento e o desenvolvimento de projetos de irrigação".
A solução para o problema da escassez de água no deserto permitiu que se começasse a cultivar em uma área onde tradicionalmente não se achava possível fazer agricultura, e a explorar suas condições climáticas únicas, que especialistas descrevem como uma "estufa natural".
"A região não tinha água, mas com água tornou-se uma terra muito fértil", afirma Huaroto.
Tudo isso, somado a inovações genéticas, como a que permitiu o cultivo local do mirtilo, possibilitou que o Peru incorporasse grandes extensões de seu deserto costeiro à superfície cultivável, que se expandiram em cerca de 30%, segundo estima Sabogal.
"Foi um aumento surpreendente e enorme da agroindústria", diz a especialista.
Hoje, regiões como Ica e Piura, no norte do país, tornaram-se importantes centros de produção agrícola, e a agroexportação é um dos motores da economia peruana.
Segundo a Associação de Exportadores (ADEX), as exportações agrícolas representaram 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) peruano em 2024, em comparação com apenas 1,3% em 2020.
O impacto econômico e ambiental tem sido significativo e ambivalente.
Seus defensores destacam os benefícios econômicos, mas os críticos apontam para os custos ambientais, como alto consumo de água em áreas onde ela é escassa e o abastecimento não é garantido.
O economista César Huaroto conduziu um estudo para avaliar o boom agroexportador na costa do Peru.
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