
23/09/2025
Se as temperaturas globais continuarem subindo, praticamente todos os corais no oceano Atlântico deixarão de crescer e poderão sucumbir à erosão até o final do século, revela um novo estudo.
A análise de mais de 400 recifes de coral existentes no oceano Atlântico estima que mais de 70% dos recifes da região começarão a morrer até 2040, mesmo nos cenários otimistas de aquecimento climático.
E se o planeta exceder 2°C de aquecimento acima das temperaturas pré-industriais até o final do século, 99% dos corais na região enfrentarão esse destino. Hoje, o planeta já aqueceu cerca de 1,3°C acima das temperaturas pré-industriais.
As implicações são graves. Os corais atuam como blocos de construção fundamentais dos recifes, fornecendo habitat para milhares de espécies de peixes e outros organismos marinhos. Eles também são barreiras que quebram as ondas e ajudam a proteger as costas contra o aumento do nível do mar. Um quarto de toda a vida oceânica depende dos recifes de coral, e mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo se beneficiam deles, segundo a Noaa (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica).
Para prever como esses seres se sairão em condições futuras, cientistas analisaram corais que cresceram há mais de 10 mil anos no Caribe, incluindo aqueles próximos a Barbados e Costa Rica, e os do arquipélago de Florida Keys.
Muitos dos vestígios antigos estão agora em ilhas onde a atividade tectônica elevou e expôs o fundo do mar. Essas paisagens permitem aos cientistas coletar dados impossíveis de obter de corais vivos sem danificá-los. "Os recifes mudaram tanto que não estão fazendo nem ligeiramente o que os recifes do passado costumavam fazer", afirmou Alice Webb, ecologista de recifes de coral da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e uma das autoras do estudo, publicado na última quarta-feira (17) na revista Nature.
Durante milhares de anos, os corais —que precisam de águas rasas com acesso à luz solar para prosperar— cresceram verticalmente para acompanhar o aumento da elevação dos mares, geralmente mantendo uma estreita relação entre a altura do recife e os níveis do mar.
Compreender o equilíbrio histórico entre crescimento e erosão é crucial para prever como os recifes de coral podem mudar no futuro, disse Webb.
Mas hoje, o clima está mudando rápido demais para que os corais se adaptem facilmente, e a relação entre o crescimento dos recifes e o aumento do nível do mar "está essencialmente rompida", disse Chris Perry, geocientista de recifes de coral da Universidade de Exeter e autor principal do estudo.
No Caribe, os corais foram especialmente afetados pelos recentes anos de estresse térmico severo e surtos de doenças, que podem ser agravados por temperaturas mais altas. Cerca de 60% dos recifes estudados perto da Flórida e quase 40% daqueles próximos ao México basicamente pararam de crescer.
"Vimos um aquecimento fora da escala, cuja magnitude e longevidade nunca foram vistas na região", disse Perry.
O mundo parece estar a caminho de cruzar o limite de aquecimento que o estudo indica que colocaria os corais em perigo. De acordo com o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, limitar o aquecimento global a 2°C exigiria um aumento "sem precedentes" nos esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Os corais são criaturas vivas que abrigam algas microscópicas em seus tecidos, que lhes conferem cor e uma fonte de alimento. Quando a água fica muito quente, esses microrganismos são expulsos, fazendo com que os corais fiquem brancos. Se o calor excessivo durar muito tempo, o branqueamento pode levar à morte em massa dos corais.
No início de 2023, temperaturas recordes da superfície do mar desencadearam o quarto evento de branqueamento em massa de corais. Desde então, ondas de calor marinho varreram grande parte do planeta, danificando mais de 80% dos corais do mundo.
Os oceanos absorvem grande parte do dióxido de carbono liberado pela atividade humana e pela queima de combustíveis fósseis. Isso acidifica os oceanos, esgotando o composto que os corais usam para construir seus esqueletos e corroendo suas estruturas.
Os autores do estudo observam que esforços concentrados para restaurar recifes poderiam ajudar a amortecer o aumento do nível do mar, mas o sucesso generalizado continuará enfrentando desafios enquanto o planeta estiver aquecendo.
Mesmo com uma abordagem direcionada, a restauração tem muitos desafios. Os corais geralmente crescem lentamente, e pode levar séculos para que um recife se desenvolva o suficiente para proteger as costas. Duas espécies de coral conhecidas por sua capacidade de acumular e ramificar rapidamente são especialmente vulneráveis ao estresse térmico e têm desaparecido nas últimas décadas.
"Não podemos presumir que, se restaurarmos os corais do passado, eles serão capazes de lidar com as condições do futuro", disse Andrew Baker, ecologista marinho da Universidade de Miami, que não participou do novo estudo.
Em vez disso, ele disse, os cientistas estão buscando novas estratégias, como cruzar corais de diferentes áreas para aumentar a diversidade e promover características resistentes ao calor, e usar estruturas híbridas que utilizam componentes artificiais de concreto para impulsionar a construção de recifes.
Fonte: Folha de S. Paulo
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