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Como o lugar habitado mais remoto da Terra tenta proteger sua única fonte de renda

23/09/2025

Soa o gongo da pesca. São cinco horas da manhã e o som de um martelo batendo em um antigo cilindro de oxigênio me acorda. É dia de pesca em Tristão da Cunha, um pedaço de terra no sul do oceano Atlântico, onde moram pouco mais de 200 pessoas.
O assentamento humano mais próximo deste território britânico fica a mais de 2.400 quilômetros de distância.
Quando o gongo silencia, os cães começam a latir, motores são ligados e o som das botas de borracha no chão ecoa pelo ar. Os pescadores se dirigem ao porto Callshot, conhecido como "a Praia", para colocar iscas e preparar seus barcos.
Os pescadores da ilha trabalham em meio à quinta maior AMP (área marinha protegida) do planeta. Ela cobre 687 mil quilômetros quadrados de oceano.
Em 91% das águas territoriais da ilha, a pesca comercial é proibida. Nas áreas restantes, existem quotas rigorosas, limites de tamanho e monitoramento a bordo. E a vigilância via satélite ajuda a detectar e impedir atividades ilegais.
Jason Green e seu parceiro de pesca, Dean Repetto, navegam juntos há uma década. Como a maioria dos tristanitas, sua conexão ancestral com o mar data de mais de um século atrás.
Eles têm apenas 18 a 72 dias de pesca por temporada. Por isso, cada oportunidade é importante.
Os pescadores irão atrás do produto mais valioso da ilha: a lagosta-de-são-paulo (Jasus paulensis), encontrada apenas perto de ilhas remotas nos oceanos mais ao sul do planeta.
Apreciadas pela sua carne doce e delicada, uma única cauda pode valor US$ 39 (cerca de R$ 207) no mercado norte-americano. As lagostas também são vendidas no Japão e no Reino Unido.
Aqui, nas águas frias e temperadas do arquipélago de Tristão da Cunha, esses crustáceos vivem perto da costa, em profundidades de até 200 metros.
Mas a ilha nem sempre conseguiu sobreviver da sua riqueza em lagostas. Décadas atrás, a pesca excessiva fez com que o número de crustáceos na região se reduzisse significativamente.
Atualmente, os tristanitas dependem da captura das lagostas. Mas eles também sabem que, sem proteção adequada, elas correm sérios riscos.
"Sempre dependemos do oceano como fonte de alimento, gerenciando da melhor forma possível. Ou seja, sem tirar mais do que o necessário", explica o chefe do Departamento de Pesca de Tristão da Cunha, James Glass.
Para ele, "este é um local precioso e queremos que permaneça assim".
"É o nosso sustento", afirma o pescador Shane Green. "Sem o oceano, nossa comunidade não funcionaria."
Agora, com os oceanos do planeta enfrentando pressões cada vez maiores, as mudanças climáticas, espécies invasoras e a pesca industrial ilegal ameaçam o ecossistema marinho e a principal fonte de renda da ilha.
Os moradores de Tristão da Cunha estão determinados a garantir a sobrevivência das lagostas-de-são-paulo e a deles próprios.
"Na minha família, a pesca é passada de geração em geração", conta Repetto. Ele também trabalha como mecânico no Departamento de Pesca de Tristão da Cunha.
Em um belo dia de janeiro de 2024, Green, Repetto e seu aprendiz Tristan Glass saem para o mar no Island Pride ("Orgulho da ilha", em português), seu barco laranja brilhante oito metros.
Ao deixarem o minúsculo porto de Tristão, eles se dirigem para leste, atravessando as florestas de algas gigantes do litoral. As imensas algas marrons podem crescer mais de meio metro por dia e atingir 45 metros de comprimento.
Eles se dirigem ao seu destino, um ponto de pesca no lado sul da ilha. Os pescadores conseguem identificar o local pela triangulação de pontos de referência e pela profundidade do oceano em certos locais.
"Pode ser um cume, pode ser uma ravina, pode ser uma cabana ou um morro e você alinha um com o outro", explica Eugene Repetto, pescador do barco Kingfisher ("Martim-pescador").
No Island Pride, o rosto do aprendiz fica pálido, em um sinal característico de enjoo marítimo. O trabalho é particularmente difícil para algumas pessoas.
Enquanto Glass se recupera dos sintomas, Green lança 16 armadilhas grandes na água profunda. Ele irá deixá-las ali por horas —o tempo suficiente para que as lagostas encontrem a isca.

A matéria na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo

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