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Traços de cocaína, cafeína e relaxante muscular são detectados nas águas do estuário de São Vicente, em SP

09/09/2025

Em julho de 2024, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz publicaram os resultados da dissecação de treze pequenos tubarões nativos das águas do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.
Os animais da espécie Rhizoprionodon lalandii, capturados acidentalmente por pescadores, estavam contaminados com cocaína e benzoilecgonina, uma molécula que é subproduto do metabolismo da droga pelo fígado humano e serve como indício de seu consumo.
A descoberta surpreendeu o público, e o artigo foi mencionado mais de 350 vezes pela mídia nacional e a internacional. Porém, oceanógrafos e outros estudiosos dos mares e de seus habitantes sabem, há décadas, que águas fluviais e costeiras do mundo todo estão contaminadas por drogas ilegais e fármacos, e que essas substâncias oferecem risco à fauna.
O problema se acentua em regiões urbanizadas com piores condições socioeconômicas, em que não há acesso universal ao tratamento de esgoto.
O oceanógrafo Camilo Seabra —que é docente da Universidade Federal de São Paulo e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade de Ambientes Costeiros da Unesp, no campus do Litoral Paulista— é um dos pioneiros dessa área no Brasil.
Ele dedicou a carreira a estudar diversos tipos de poluição nas águas da Baixada Santista, e também acumula experiências em outros litorais, como uma investigação sobre derramamento de petróleo no Nordeste.
Seabra orientou no Programa de Biodiversidade em Ambientes Costeiros a pesquisa de doutorado de Andressa Ortega, que teve como tema a presença de fármacos e drogas ilegais em amostras coletadas em oito locais diferentes no estuário de São Vicente.
Os resultados da pesquisa foram publicados em artigo no mês de julho no periódico especializado Marine Pollution Bulletin.
Essa área de transição entre rio e mar, margeada por mangues a oeste e uma densa urbanização a leste, é um dos recortes da Baixada que ainda não havia sido avaliado pelo pesquisador e seus colaboradores costumeiros após mais de uma década passando um pente fino no litoral paulista.
A análise inédita da água, dos sedimentos e de ostras no estuário acusou a presença, em concentrações relevantes, de cocaína e de seu metabólito benzoilecgonina, bem como de quatro outras substâncias que não têm problemas com a lei: a cafeína; o losartan, que é um remédio para pressão alta; a carbamazepina, usada contra a epilepsia; e a orfenadrina, um relaxante muscular que aparece com a dipirona em diversos analgésicos vendidos sem receita
Em várias das coletas, as concentrações encontradas já eram suficientes para oferecer risco ecológico baixo ou moderado a crustáceos, peixes e algas.
A região é um hotspot de poluentes. Além da grande quantidade de casas irregulares construídas sobre palafitas, que descartam seus dejetos sem tratamento, mesmo as partes da ilha que dispõem de coleta de esgoto regular não têm acesso a tratamento: os dejetos são descartados diretamente na água por meio do Emissário Submarino de Santos, um gigantesco cano que libera tudo a 4 km de distância da costa (o que evita sólidos e líquidos indesejáveis nas praias).
Outro problema é a proximidade com o porto de Santos, que é o mais movimentado do Brasil e do hemisfério Sul, e sabidamente empregado também para atividades de tráfico de drogas.
O uso velado do porto por criminosos, junto à presença do crime organizado nas áreas de baixa renda e difícil acesso da periferia de São Vicente, explica a presença de quantidades incomuns de cocaína pura na água.
Normalmente, o fígado humano metaboliza algo como 90% do pó, de modo que o subproduto benzoilecgonina tende a aparecer aproximadamente nove vezes mais que a cocaína em si em amostras de regiões que recebem apenas urina dos usuários.
Nas cercanias de Santos, porém, também há um bocado da substância que jamais passou pelo organismo humano. Isso sugere que parte do produto acaba sendo perdido no frete, e contamina diretamente o mar.
A detecção de drogas na água é uma informação muito importante para o estabelecimento de políticas públicas para a área ambiental.
Seabra conta que, quando publicou alguns de seus primeiros estudos sobre cocaína, ainda em 2016, tanto a mídia quando os moradores da região ignoravam que a Sabesp não trata o esgoto da Baixada. Esse levantamento também proporciona um retrato peculiar dos padrões de consumo de substâncias ilícitas, e serve de alerta para estudos que avaliem outros problemas decorrentes da poluição, como a contaminação de peixes consumidos por nós.
"As concentrações mais altas são no Ano Novo e Carnaval", diz Seabra. "E a gente já sabe que a droga bioacumula —tanto nos mexilhões, como nas ostras, como nos peixes. Esses são todos organismos comestíveis, o que já dá uma ideia também do risco para consumo humano, (…) ainda que o foco deste estudo específico fosse o risco para os animais em si."

Saiba mais na Folha de S. Paulo

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