
21/08/2025
No coração da Amazônia, às margens do Rio Guaporé, na fronteira entre Brasil e Bolívia, cientistas registraram um feito inédito: o maior local de nidificação (feitura de ninho e desova) já documentado da tartaruga-gigante-de-rio-sul-americana, também chamada de tartaruga-de-arrau. Mais de 41 mil tartarugas foram contabilizados graças a um estudo que usou drones e modelagem estatística avançada.
A pesquisa, conduzida pela Universidade da Flórida em parceria com a Wildlife Conservation Society (WCS) e publicada no Journal of Applied Ecology, estabelece um novo marco tanto na conservação da espécie quanto na forma de contar animais em ambientes naturais. “Descrevemos uma nova maneira de monitorar populações animais com mais eficiência”, afirma o pesquisador Ismael Brack, autor principal do estudo. “E embora o método seja usado para contar tartarugas, ele também pode ser aplicado a outras espécies.”
As protagonistas da descoberta são as tartarugas-de-arrau (Podocnemis expansa), uma das maiores espécies de água doce do mundo. Podem chegar a 90 centímetros de comprimento e pesar até 80 quilos, com coloração que varia do verde-oliva ao cinza-escuro. Conhecidas por seu comportamento coletivo, elas se reúnem aos milhares durante a estação seca — entre julho e agosto — para depositar ovos nas praias arenosas.
Apesar das proteções legais, as populações seguem sob pressão da caça ilegal e da degradação dos rios. Saber se estão em declínio, estáveis ou em recuperação é essencial para definir estratégias de conservação, mas até hoje as contagens eram imprecisas e trabalhosas.
Métodos tradicionais, feitos em terra, podem ser invasivos, sujeitos a falhas e duplicações. Até as imagens aéreas, sem ajustes, resultavam em distorções. Para superar esses limites, a equipe liderada por Brack realizou sobrevoos diários com drones ao longo de 12 dias, registrando 1.500 imagens de alta resolução.
Cerca de 1.200 tartarugas foram marcadas com tinta branca, o que permitiu acompanhar seus deslocamentos e distinguir indivíduos. As imagens foram transformadas em ortomosaicos (combinações de várias imagens aéreas ou de satélite) detalhados, nos quais os cientistas identificaram quais animais estavam nidificando, se movendo ou descansando.
O resultado impressiona: enquanto as contagens em solo apontavam 16 mil indivíduos e os dados brutos de drone sugeriam quase 79 mil, o modelo estatístico desenvolvido pela equipe chegou a uma estimativa considerada mais realista — pouco mais de 41 mil tartarugas. “Esses números variam muito, e isso é um problema para os conservacionistas”, explica Brack. “Se não conseguimos estabelecer uma contagem precisa, como saberemos se a população está em queda ou se os esforços de proteção estão dando certo?”
Mais do que símbolo da fauna amazônica, as tartarugas-de-arrau têm papel fundamental no equilíbrio ecológico. Elas ajudam a dispersar sementes, sustentam cadeias alimentares e mantêm a dinâmica dos rios. Preservar seus locais de nidificação significa também proteger a biodiversidade ao redor.
Com dados mais confiáveis, ações de conservação podem ser melhor direcionadas — desde a proteção de praias estratégicas até o planejamento de investimentos em diferentes regiões. Os pesquisadores acreditam que a metodologia poderá ser aplicada em outros países amazônicos, como Colômbia, Peru e Venezuela, e até mesmo em espécies distintas, como focas, cabras-montesas ou alces. “Combinando informações de vários levantamentos, podemos detectar tendências populacionais”, diz Brack. “E a Wildlife Conservation Society saberá onde investir em ações de conservação.”
Fonte: CicloVivo

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