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Mudanças climáticas ameaçam recarga de aquíferos do Brasil

19/08/2025

A crise climática global pode comprometer de forma significativa a recarga natural dos aquíferos do Brasil, reduzindo a oferta de águas subterrâneas em praticamente todo o território nacional. A conclusão é de um estudo, conduzido por cientistas do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que analisou os impactos de diferentes cenários climáticos sobre a disponibilidade hídrica até o final do século. O trabalho foi publicado no periódico Environmental Monitoring and Assessment.
Águas subterrâneas são aquelas que se acumulam abaixo da superfície terrestre, em formações geológicas chamadas aquíferos. Infiltram-se lentamente no solo após as chuvas e abastecem poços, nascentes, rios e ecossistemas. No Brasil, estima-se que 112 milhões de brasileiros (56% da população) sejam abastecidos total ou parcialmente por essa fonte.
O estudo do IGc-USP e do Inpe utilizou um modelo de balanço hídrico baseado em geoprocessamento e dados corrigidos de projeções climáticas do Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6) para estimar as alterações de temperatura, precipitação, escoamento superficial e recarga de aquíferos entre 2025 e 2100. O CMIP6 unifica dados de vários centros de pesquisa em todo o mundo e é o modelo mais recente produzido pelo Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP, na sigla em inglês).
A pesquisa considerou dois cenários de emissões de gases de efeito estufa: um moderado e outro pessimista. “O que constatamos foi a possibilidade de uma diminuição drástica da recarga dos aquíferos do país, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, que vão ficar mais secas segundo praticamente todos os modelos climáticos analisados”, afirma Ricardo Hirata, professor titular do IGc-USP e primeiro autor do artigo.
Os resultados mostram que o país deverá registrar aumentos consistentes de temperatura ao longo do século, entre 1,02 °C e 3,66 °C, dependendo do cenário e do período considerado. Ao mesmo tempo, a distribuição das chuvas tende a se tornar ainda mais desigual. A região Norte e parte do litoral Leste devem apresentar queda na precipitação média anual, ao passo que o Sul e parte do Nordeste (especialmente Ceará, Piauí e Maranhão) podem experimentar aumentos pontuais.
“Mesmo em regiões como o Sudeste, onde a quantidade total de chuvas não deverá variar muito, teremos uma mudança de regime, com verões mais chuvosos e períodos secos mais longos. Chuvas muito intensas e concentradas promovem o escoamento superficial e podem provocar inundações, mas não favorecem a infiltração da água no solo. E, sem infiltração, não há recarga”, informa Hirata.
O pesquisador destaca que, mesmo quando a água penetra no solo, o processo até atingir o aquífero pode levar meses. “Em vários estudos nossos, vimos que a água leva dois ou três meses para atravessar 10 a 15 metros de solo e chegar ao lençol freático. Se a chuva for intensa demais e durar pouco, essa água não chega lá”, pontua.
A recarga subterrânea pode diminuir até 666 milímetros por ano nas áreas mais afetadas. A situação mais crítica deve ocorrer no Sistema Aquífero Bauru-Caiuá (localizado na região Centro-Oeste do Brasil, abrangendo partes dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso), com redução de 27,94% no volume recarregado. Outros aquíferos importantes, como a área de afloramento do Guarani (em porções dos Estados de MG, SP, GO, MS, MT, PR, SC, RS), Furnas (BA, GO, MG), Serra Geral (MS, SP, PR, SC, RS), Bambuí Cárstico (PI, PB, PE, BA, GO, MG) e Parecis (RO, AM, MT), também devem sofrer perdas significativas.
Apesar de sua importância estratégica, a dimensão subterrânea da crise hídrica tem recebido pouca atenção de políticas públicas. “A água subterrânea continua sendo esquecida na discussão sobre mudanças climáticas. Quando se fala do clima, fala-se de rios, de vegetação, de agricultura. Mas os aquíferos não entram na agenda”, aponta Hirata.
Ele lembra que mais da metade dos municípios brasileiros utiliza água subterrânea para abastecimento. “Temos uma gigantesca reserva de água que é resiliente a variações de recarga. Mesmo em anos de estiagem, o aquífero continua fornecendo água, porque seu armazenamento é muito grande. Foi o que ocorreu na grande estiagem de 2014-2016. As cidades abastecidas por água superficial foram duas vezes mais atingidas pela crise hídrica do que aquelas abastecidas exclusivamente por água subterrânea”, afirma Hirata. Existem cerca de 3 milhões de poços tubulares perfurados e outros 2 milhões de poços escavados no Brasil, que extraem entre 550 e 600 metros cúbicos de água por segundo. Desse total, 80% a 90% destinam-se para uso privado, na agricultura, indústria, serviços e abastecimento residencial complementar nas áreas urbanas.

A matéria na íntegra pode ser lida no CicloVivo

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