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Poeira do Saara em alta intensidade é registrada na Amazônia

22/07/2025

“Eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma”. Os versos de Caetano Veloso, na música Reconvexo, são uma metáfora para um fenômeno real: as tempestades de areia no deserto do Saara fazem com que partículas minerais “viajem” ao redor do mundo, chegando inclusive no Brasil. O Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO) registrou três eventos intensos de poeira vinda do deserto do Saara no primeiro trimestre de 2025.
O ATTO, que é um programa científico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), aponta que os eventos observados no primeiro trimestre foram “razoavelmente” intensos, mas não em níveis inéditos. O registro de partículas minerais do Saara na Amazônia é comum entre dezembro e março.
De acordo com os dados de monitoramento, os três episódios com maior concentração de partículas foram observados entre 13 e 18 de janeiro, 31 de janeiro e 3 de fevereiro, e 26 de fevereiro e 3 de março. As concentrações atingiram valores entre 15 e 20 μg/m³ de PM2.5 (material particulado menor que 2.5μm de diâmetro), o que significa que são de 4 a 5 vezes mais altas no período em comparação com a média registrada na estação chuvosa na Amazônia, que é de cerca de 4 μg/m³.
Os impactos da poeira do Saara sobre a Amazônia ainda não são totalmente conhecidos. Um dos aspectos aceitos é que as partículas levam fósforo (importante nutriente para as plantas), o que reabastece a necessidade de nutrientes que a floresta amazônica perde com as fortes chuvas e inundações na região.
“O que já se sabe é que o potássio e o fósforo da poeira mineral contribuem, no longo prazo, para a manutenção da fertilidade do solo, que em geral é muito pobre”, afirma o pesquisador do INPA e coordenador do ATTO pelo lado brasileiro, Carlos Alberto Quesada.
Durante o voo transatlântico, as partículas também podem ser nutritivas para micróbios marinhos, de acordo com um estudo publicado em 2024. A pesquisa sugere que esta seria uma fonte de ferro para florações de fitoplâncton.
Em 2015, o CicloVivo noticiou um vídeo da Nasa que ilustrava, por animação em 3D, como a poeira do Saara viaja até a Amazônia.
Torre na Amazônia
Com 325 metros de altura e instalada no meio da floresta, a Torre Alta da Amazônia capta o ar na atmosfera e realiza monitoramentos de modo ininterrupto, 24 horas todos os dias. A infraestrutura, segundo os pesquisadores, está auxiliando na melhor compreensão sobre a interação entre a maior floresta tropical do mundo e a atmosfera.
Em nota, o MCTI explica em detalhes como funciona a torre capaz de identificar a poeira do Saara:
No transporte intercontinental, a poeira do Saara é carregada pelas correntes de ar na troposfera livre, principalmente, entre 2km e 5km de altitude. Tempestades com fortes ventos no deserto suspendem as partículas empurrando até essa altitude. Dependendo da circulação atmosférica e das condições meteorológicas, as partículas são depositadas a milhares de quilômetros de distância.
Rafael Valiati, doutorando em física atmosférica no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), explica que o transporte transatlântico das partículas do deserto do Saara até a floresta Amazônica ocorre quando os ventos convergem na Zona de Convergência Intertropical, que se posiciona mais ao sul nos primeiros meses do ano, quando é verão no hemisfério sul. A partir do meio do ano, a convergência fica um pouco mais ao norte, quando a poeira do Saara é registrada, ocasionalmente, no Caribe e na América do Norte.
A distância transatlântica entre África e a América é de mais de 5 mil km. O tempo de transporte das partículas depende da velocidade dos ventos, pode levar entre 7 e 14 dias.
“A intensidade desses episódios é bastante variável na Amazônia, pois depende da quantidade de poeira que foi lançada na atmosfera no Saara, da velocidade do vento ao longo do transporte, e, principalmente, da precipitação, pois a chuva remove as partículas da atmosfera. Para observarmos a poeira com alguma intensidade aqui na América do Sul, a massa de ar que saiu lá do Saara precisa passar por todo esse transporte sem sofrer precipitação”, detalha o pesquisador.
As partículas são detectadas por múltiplos instrumentos científicos instalados no topo da ATTO. Os equipamentos avaliam diversos aspectos da composição atmosférica, como propriedades físicas, tamanho das partículas e composição química. As partículas de poeira do Saara, geralmente, são um pouco maiores do que as de outras origens, como as emissões da própria floresta ou fumaça de queimadas, por exemplo. A composição química também difere do que é observado na Amazônia. “Se vemos que aumentou rapidamente a concentração de partículas maiores, é bem possível que seja um evento de transporte de poeira mineral”, relata o pesquisador sobre a concentração de partículas na atmosfera nos primeiros meses do ano.
O programa científico é coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) em cooperação internacional com o Instituto Max Planck da Alemanha, que monitora os processos da atmosfera e da conexão com a floresta, desde o solo até a alta atmosfera, e como a floresta influencia no clima.

Fonte: CicloVivo

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