
01/07/2025
A nova “Teoria da Mudança Profunda” afirma que o futuro depende da transformação de premissas e estruturas fundamentais por trás das crises globais atuais
Em meio ao aprofundamento das desigualdades e à escalada de crises, incluindo mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição, um relatório das Nações Unidas, lançado em abril, apresenta uma abordagem ousada para a mudança.
O relatório de Riscos de Desastres Interconectados de 2025, “Virando uma Nova Folha”, publicado pelo Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (UNU-EHS), muda o foco do diagnóstico de problemas para o mapeamento de soluções. O documento estabelece que muitas das soluções atuais são soluções superficiais e que, para criar mudanças duradouras, precisamos questionar as estruturas e mentalidades sociais que perpetuam esses desafios.
“A sociedade está em uma encruzilhada”, afirma o Prof. Shen Xiaomeng, Diretor do UNU-EHS. “Durante anos, cientistas nos alertaram sobre os danos que estamos causando ao nosso planeta e como pará-los. Mas não estamos tomando medidas significativas. Sabemos que as mudanças climáticas estão piorando, mas o consumo de combustíveis fósseis continua atingindo níveis recordes. Já temos uma crise de resíduos, mas a projeção é de que o lixo doméstico dobre até 2050. Repetidamente, vemos o perigo à frente, mas continuamos caminhando em sua direção. Em muitos casos, vemos o abismo, sabemos como nos virar e, ainda assim, continuamos caminhando com confiança em sua direção. Por quê?”
A Teoria da Mudança Profunda
Essa teoria investiga as causas-raiz dos problemas globais, identificando estruturas e premissas na sociedade que permitem sua persistência. Por exemplo, quando um rio está tão congestionado com resíduos plásticos que causa inundações desastrosas, as pessoas podem criticar o sistema de gestão de resíduos e exigir mais reciclagem. No entanto, a Teoria da Mudança Profunda vai mais fundo: primeiro, identifica as estruturas que permitem o acúmulo de resíduos, como itens de uso único ou sistemas de produção em massa, e, em seguida, aprofunda-se nas premissas que levaram à criação desses sistemas e que incentivam as pessoas a mantê-los em funcionamento, como acreditar que “o novo é melhor” ou que a produção e o consumo de materiais são um sinal de progresso.
5 mudanças profundas
O relatório descreve cinco áreas onde mudanças sistêmicas profundas são urgentemente necessárias:
Repense o desperdício
O modelo mundial de “extrair-produzir-descartar” é insustentável, gerando 2 bilhões de toneladas de lixo doméstico anualmente – o suficiente para encher uma linha de contêineres marítimos que circundam o Equador 25 vezes. O relatório pede uma reformulação do conceito de “resíduo” e a mudança para uma economia circular que priorize durabilidade, reparo e reutilização. Kamikatsu, no Japão, é destacada como um modelo de sucesso, uma cidade que adotou estratégias circulares como compostagem, upcycling, troca de roupas e coleta seletiva, e que atingiu uma taxa de reciclagem quatro vezes maior que a média japonesa.
O relatório alerta que a falha em manter os recursos em uso também pode afetar sua disponibilidade no futuro. O lítio, usado em baterias de dispositivos recarregáveis como celulares, é coletado em grandes quantidades, mas raramente reutilizado. Estima-se que as reservas de lítio se esgotem por volta de 2050. Ao mesmo tempo, projeta-se que mais de 75% do lítio extraído até 2050 acabará no lixo. Estamos esgotando as reservas de lítio enquanto desperdiçamos o lítio que foi utilizado.
Realinhar-se com a natureza
A humanidade precisa parar de se ver separada e superior à natureza. Os humanos tentaram controlar os processos naturais em vez de coexistir com eles, mas séculos de exploração levaram ao desmatamento, à extinção de espécies e ao colapso dos ecossistemas. Destruir a natureza destrói alguns dos recursos mais preciosos necessários à sobrevivência humana, como ar e água limpos, alimentos ou os materiais usados para abrigo. Um exemplo no relatório é a canalização de rios, um processo que altera os rios para que fluam em linhas retas, para melhorar a navegabilidade, criar mais terras agrícolas ou proteger cidades de inundações.
Na década de 1960, o Rio Kissimmee, na Flórida, EUA, foi canalizado, secando cerca de 160 quilômetros quadrados de áreas úmidas e levando a um declínio maciço de espécies. Além disso, embora a canalização seja frequentemente feita para reduzir as inundações em uma área, muitas vezes agrava as inundações para as comunidades a jusante. Mas o Rio Kissimmee também é um exemplo positivo: tendo sido recentemente restaurado, as espécies de áreas úmidas retornaram, corredores para panteras e ursos atravessarem o estado foram restabelecidos, e as áreas úmidas estão novamente servindo como uma esponja, armazenando bilhões de galões de água para ajudar a prevenir inundações durante tempestades, especialmente importante à medida que os furacões se tornam mais frequentes e severos.
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