
24/06/2025
O coração medieval desta cidade de 955 anos abriga um dos sistemas de gestão de resíduos mais avançados em tecnologia no mundo.
Sob as pedras de calçamento existe uma rede de tubos que suga o lixo para fora da cidade com a força de meio milhão de aspiradores domésticos. Os moradores acessam os tubos por meio de receptáculos designados para lixo e reciclagem, cada um programado para liberar automaticamente seu conteúdo quando cheio.
Como resultado, os caminhões de lixo fazem menos viagens pelas ruas estreitas de Bergen, aliviando o tráfego, reduzindo a poluição do ar e cortando as emissões de diesel em até 90%, segundo autoridades locais. Os moradores dizem que as ruas parecem mais organizadas e os avistamentos de ratos diminuíram.
Além disso, há menos risco de incêndios acidentais causados por lixo —uma preocupação séria nesta cidade de casas coloridas de madeira que já foi destruída pelo fogo cerca de 12 vezes desde sua fundação em 1070.
Bergen é uma das aproximadamente 200 cidades ao redor do mundo que instalaram o chamado sistema pneumático de coleta de resíduos, de acordo com Albert Mateu, consultor de planejamento urbano e professor da Universidade de Barcelona.
Algumas cidades, incluindo Estocolmo (Suécia), Seul (Coreia do Sul) e Doha (Catar), exigem ou incentivam os incorporadores a instalar tubos de lixo em grandes projetos de construção novos. Mas Bergen se destaca por ter buscado adaptar seus bairros centenários com um sistema automatizado de coleta de lixo em toda a cidade.
A experiência oferece um vislumbre do potencial desta tecnologia, mas também dos obstáculos íngremes para qualquer cidade que queira seguir seus passos.
Bergen, com uma população de pouco menos de 300 mil habitantes, gastou 1 bilhão de coroas norueguesas (US$ 100 milhões, ou cerca de R$ 550 milhões) desde que começou a construir o sistema em 2007, e ainda não terminou.
Nos bairros não conectados, ainda há muitas lixeiras tradicionais, e os caminhões de lixo continuam circulando. Concluir a rede levará anos e mais 300 milhões de coroas (US$ 30 milhões, ou R$ 165 milhões), dizem as autoridades.
A dificuldade não está apenas no custo —que acabará totalizando cerca de um ano do orçamento anual da divisão de gestão de resíduos— mas também na dor de cabeça logística de escavar as ruas da cidade.
"É quase impossível", disse Terje Strom, que chefia a divisão de infraestrutura da empresa de gestão de resíduos de Bergen e lidera o projeto de tubos de lixo desde o início. Então, para enfatizar, ou talvez para se tranquilizar, ele repetiu: "Quase."
Odd Einar Haugen, professor emérito de filologia nórdica antiga na Universidade de Bergen, vive em uma rua íngreme acima do porto há 50 anos.
A estrada é larga e pavimentada quando passa por sua porta, mas se estreita até uma viela de paralelepípedos ao contornar um parque no final do quarteirão. Isso significa que, durante anos, os caminhões de lixo tiveram que dar ré neste beco sem saída para fazer as coletas —um incômodo barulhento e regular.
Além disso, Haugen diz que muitos de seus vizinhos nem se davam ao trabalho de colocar suas lixeiras na rua e depois guardá-las no dia da coleta. Eles simplesmente as deixavam na rua como um incômodo visual permanente. "Visualmente, isso era ruim", disse ele. "Algo precisava ser feito."
O bairro de Haugen foi o primeiro a ser conectado ao sistema de tubos de lixo de Bergen há dez anos.
Agora, as dezenas de lixeiras com rodas em sua rua foram substituídas por três "entradas de resíduos" cinzentas que se parecem com caixas de correio futuristas.
"Estamos muito, muito satisfeitos com isso", disse Haugen.
Quando uma entrada na rua de Haugen enche, uma porta se abre e despeja o conteúdo em um tubo de aço de 50 centímetros abaixo da rua.
Em uma estação de resíduos a um quilômetro e meio de distância, três ventiladores industriais começam a girar. Eles sugam o ar através dos tubos a 65 km/h, criando uma ventania de lixo com força de tempestade tropical que termina em um contêiner de 6 metros na estação. É como ter um sistema de aspiração central para sua casa, mas também para todos os seus vizinhos.
Ocasionalmente, um trabalhador precisa desobstruir uma entrada entupida —depois que alguém tenta enfiar um guarda-chuva velho ou uma grande caixa de papelão que não cabe. Há também um trabalhador de saneamento envolvido no final do processo.
Um braço de guindaste no teto da estação de resíduos iça o contêiner para a traseira de um caminhão, e um motorista o leva para um incinerador ou usina de reciclagem.
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