
24/06/2025
Após dias de investigação, policiais e agentes ambientais encontraram, em meados de maio deste ano, uma filhote de macaco-prego escondida dentro de uma pequena bolsa preta. Com sinais de estar dopada, ela havia sido caçada e capturada por um casal dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os traficantes pretendiam vender o animal pelas redes sociais ou em feiras clandestinas.
O caso exemplifica um fenômeno cada vez mais preocupante no tráfico de animais: o uso da internet e das redes sociais para compra e venda ilegal de bichos selvagens, com protagonismo da juventude. Uma pesquisa da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), finalizada em abril, revelou que a maioria dos internautas que comercializam espécies silvestres têm até 30 anos.
Essas negociações são feitas, geralmente, em grupos do WhatsApp, Facebook e Telegram. "A Renctas está presente em cerca de 800 grupos. Há uma quantidade absurda de troca de mensagens. A média é de 5 mil a 6 mil por dia. Mas já houve dias em que tiveram 70 mil", descreve Dener Giovanini, coordenador-geral da Renctas.
Outro fenômeno que se espalha pelas redes sociais, também relacionado à juventude, é a exibição de animais silvestres. "O influencer bota roupinha do Flamengo no filhote de macaco, dá coxinha e sai com ele na rua, onde as pessoas querem tirar foto. Tudo gera like. Muitos jovens olham aquilo e dizem: ‘Nossa, eu quero um também´", afirma o chefe substituto do Núcleo de Fiscalização da Fauna (Nufau) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Bruno Ramos.
Segundo o Ibama, ao dar visibilidade a esse tipo de conteúdo, os internautas fomentam o desejo de outras pessoas de adquirir esses animais. Por isso, em parceria com a ONG WWF-Brasil, o instituto lançou a campanha "Se não é livre, eu não curto". O objetivo é conscientizar a população sobre o tema, para que evite interagir com conteúdos que exploram as espécies silvestres e denuncie a violação dos direitos dos animais.
A Renctas analisou quase três mil mensagens no WhatsApp sobre o tráfico de animais no segundo semestre de 2023. Cerca de 80% das pessoas identificadas tinham entre 11 e 30 anos. "[Isso] demonstra que o tráfico online tem forte apelo entre públicos mais jovens, familiarizados com o uso de redes sociais, aplicativos de mensagens e plataformas de e-commerce. Essa faixa etária cresceu em meio à cultura digital e sabe como operar com discrição, utilizando mecanismos como perfis falsos, linguagens cifradas e redes criptografadas", apontou o relatório.
Na análise do coordenador-geral da Renctas, os jovens também atuam no tráfico de animais pela possibilidade de ganhar dinheiro rápido com pouco investimento, aliado à percepção de baixo risco das consequências.
Os anúncios envolvem uma enorme variedade de animais, como escorpiões, saguis, papagaios, araras, cobras, tartarugas, iguanas e até mesmo formigas. Um vendedor postou um vídeo em um desses grupos de um filhote de macaco tomando mamadeira, incentivando-os com a seguinte frase: "Vem realizar seu sonho."
Em um dos grupos do Facebook, um perfil anônimo postou a foto de uma naja, uma cobra venenosa: "Não é barato. Não é para quem começou agora no hobby. Não vou responder a perguntas do tipo ´o que ela come´." O anúncio mostra que grande parte desses internautas sabe o que faz: ao chamar de "hobby", mascaram a prática ilegal de tráfico de animais.
"A expressão mais usada por eles é ´nós somos hobbistas´", relata Giovanini. Segundo ele, há ainda um componente de vaidade na prática. "Entre essa turma jovem, você percebe que existe aquela coisa do ´eu quero o maior´, ´eu quero o mais perigoso´, ´quero o mais raro´."
Na última terça-feira (17), uma operação da Polícia Civil do Paraná junto com o Ibama mostrou a força da internet no tráfico de animais. Após dois anos monitorando grupos virtuais, os policiais prenderam 16 pessoas em flagrante nos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais.
Além disso, resgataram mais de mil animais, como cobras, pássaros, sapos, tartarugas, macacos, lagartos e até axolotes, uma espécie de anfíbio ameaçada de extinção.
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