
10/06/2025
Olhando de um avião para fazendas nas grandes planícies e no oeste dos Estados Unidos, é possível ver círculos verdes no campo, uma espécie de pontilhismo agrícola.
Eles vêm de sistemas de irrigação de pivô central. Mas alguns agricultores estão descobrindo que versões mais antigas desses equipamentos, muitos deles construídos há dez, 15 ou até 20 anos, não estão acompanhando a realidade mais quente de hoje, disse Meetpal Kukal, hidrólogo agrícola da Universidade de Idaho.
"Existe uma lacuna entre a quantidade de água que você pode aplicar e o que as culturas demandam", afirmou.
No momento em que o braço do irrigador volta ao seu ponto inicial, o solo já está quase seco. O principal culpado? A sede atmosférica.
"Um mundo mais quente é mais sedento", disse Solomon Gebrechorkos, hidroclimatologista da Universidade de Oxford. Ele liderou um novo estudo, publicado na quarta-feira (4) na revista Nature, que descobriu que a sede atmosférica, um fator que preenche algumas lacunas em nossa compreensão da seca, nas últimas quatro décadas tornou as secas mais frequentes, mais intensas e fez com que cobrissem áreas maiores.
Em geral, as secas acontecem quando há um desequilíbrio entre oferta e demanda de água.
A chuva fornece água à superfície. A atmosfera remove água da superfície através da evaporação, com temperatura, vento, umidade e radiação do sol controlando quanta água é evaporada. É um processo físico complicado, difícil de capturar em modelos e, por muito tempo, estudos sobre secas globais focaram apenas na precipitação.
"Simplesmente não era detalhado o suficiente", disse Gebrechorkos. Ele compara com a tentativa de fazer um balanço de contabilidade olhando apenas para a receita e deixando de fora as despesas.
O novo estudo teve como objetivo descobrir como a sede atmosférica mudou ao longo de mais de cem anos, incluindo como aprimorar a modelagem e como ela pode melhorar o monitoramento e as previsões de seca.
Gebrechorkos e seus coautores usaram múltiplos conjuntos de dados de precipitação, modelos climáticos e formas de calcular a seca de 1901 a 2022 para avaliar a sede atmosférica e como ela tem afetado as secas.
Eles descobriram que ela desempenhou um papel ainda maior do que se pensava anteriormente, secando regiões historicamente áridas e úmidas igualmente.
A seca tem se espalhado e se intensificado desde a década de 1980 em quase todos os lugares do mundo, exceto no sudeste da Ásia, descobriu o estudo. A sede atmosférica, resultado direto do aquecimento global, tornou essas secas cerca de 40% mais severas, segundo o estudo.
A região oeste dos Estados Unidos, grandes áreas da África e América do Sul, Austrália e Ásia Central são particularmente propensas à seca devido ao aumento da sede atmosférica, descobriu o estudo.
"Ficamos muito chocados quando vimos os resultados", disse Gebrechorkos. Um aumento acentuado na atividade de seca nos últimos cinco anos do estudo, de 2018 a 2022, particularmente o alarmou.
A área afetada por secas durante esse período foi, em média, 74% maior do que nas quatro décadas anteriores. A área de seca no oeste dos EUA mais que dobrou durante esse período, assim como na Austrália e no sul da América do Sul. A sede atmosférica foi a culpada.
E 2022 foi impressionante. Cerca de um terço do mundo experimentou seca moderada ou extrema em algum momento. O lago Mead, importante reservatório no rio Colorado, quase secou. A Europa viu uma combinação recorde de seca e calor extremo que levou a limites no uso da água. Milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar no chifre da África.
Os resultados mais amplos do estudo coincidiram com a experiência de Kukal trabalhando com agricultores no Oeste, bem como com padrões nacionais de irrigação.
"Há uma grande mudança", disse Kukal. Alguns agricultores no oeste estão desistindo da irrigação, enquanto mais agricultores no meio-oeste superior e no leste dos Estados Unidos estão começando a investir em sistemas de irrigação caros, à medida que a sede atmosférica causa cada vez mais secas repentinas.
"Tudo isso vemos por causa do aquecimento", disse Gebrechorkos. "Olhando para o futuro, infelizmente, a tendência deve continuar."
Fonte: Folha de S. Paulo
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