
06/05/2025
Esta pequena ilha no meio do mar de Bering havia recentemente completado seu mais longo período de inverno na história registrada com temperaturas acima do congelamento —343 horas consecutivas, ou 14 dias— quando Aaron Lestenkof dirigiu para observar o Sea Lion Neck.
Era outro dia quente de fevereiro. Ele não viu gelo marinho; pouca neve no chão.
Lestenkof é um dos sentinelas na ilha, parte de uma pequena equipe da tribo Aleut que monitora mudanças no ambiente ao longo desses 69 quilômetros quadrados de colinas varridas pelo vento e tundra. Ele também é um dos 338 residentes que ainda conseguem viver em St. Paul, algo que se tornou significativamente mais complicado à medida que o mar de Bering aquece ao redor deles.
Na última década, águas constantemente mais quentes lançaram o Pacífico Norte em turbulência, eliminando populações de peixes, aves e caranguejos, e expondo as costas a cada vez mais impactos de tempestades de inverno.
A agitação nas águas trouxe tantas mudanças para esta ilha remota, onde os residentes ainda enchem seus freezers com renas e focas, que forçou muitos a considerarem quanto tempo poderão resistir.
As águas quentes mataram cerca de 4 milhões de araus-comuns —a maior mortandade de qualquer espécie de ave já registrada na era moderna— incluindo quase 80% daqueles que nidificavam em St. Paul.
Elas exterminaram cerca de 10 bilhões de caranguejos-da-neve; causaram o colapso da principal pescaria do Alasca que dependia deles; e provocaram o fechamento, há três anos, da maior fonte de receita fiscal de St. Paul, uma usina de processamento de caranguejos da Trident Seafoods.
Os fundos da cidade caíram 60%. O número de funcionários municipais caiu de 43 para 18. A força policial foi dissolvida. Pessoas se mudaram. E os preços, já altos, subiram ainda mais no único supermercado da ilha —onde os ovos estavam sendo vendidos a US$ 14,66 a cartela (cerca de R$ 86).
A experiência de St. Paul mostra como mudanças no clima, graduais até se tornarem inconfundíveis, podem repercutir pelo tecido social. Antes um movimentado centro de processamento de caranguejos no inverno, com casas imponentes construídas na década de 1920 e uma histórica igreja ortodoxa russa, St. Paul está mais silenciosa agora. Em muitas noites no único bar da ilha, onde Lestenkof toca baixo às sextas-feiras, eles nem se preocupam em colocar as cadeiras.
Lestenkof, 40 anos, foi à escola com mais de 100 colegas, ele lembra. A matrícula agora é de 52 alunos. A fábrica da Trident costumava roncar a todas as horas e soltar um vapor com cheiro de caranguejo cozido. O porto fervilhava de barcos.
"Parecia uma cidade em toda a ilha, toda iluminada em laranja", ele recordou.
Quando era jovem, ele se agachava ao lado do pai no promontório rochoso de Sea Lion Neck para caçar patos-rei que voavam baixo, ou leões-marinhos de Steller enquanto nadavam. Anos depois, ele ajudou geólogos do continente a instalar estacas para medir a taxa de erosão, até que eventualmente as estacas foram levadas pela água.
A razão, ele diz, é o aquecimento planetário. O gelo marinho que costumava cercar a ilha quase todos os invernos raramente o faz mais, expondo a terra a tempestades de inverno mais devastadoras que arrancam penhascos e dunas, incluindo enormes pedaços de uma encosta sob o cemitério da ilha.
"Não estamos congelando no inverno como costumávamos", disse ele.
Ele ficou na costa, olhando sobre as ondas para a pequena faixa de terra, tudo o que resta do promontório erodido.
"Costumávamos caminhar direto por aqui", disse Lestenkof. "Bastaram algumas boas tempestades para levar isso embora."
O fim de Sea Lion Neck veio gradualmente, depois de repente.
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