
25/02/2025
Para ajudar a cobrir o custo de mover cerca de 10 mil residentes de casas situadas em áreas ameaçadas pelo aumento do nível do mar e inundações, a remota nação de Nauru, no oceano Pacífico, pretende vender cidadanias para a ilha ameaçada pelas mudanças climáticas.
O presidente David Adeang quer arrecadar inicialmente US$ 65 milhões (cerca de R$ 370 milhões) para transformar o árido interior —deixado por décadas como uma paisagem inabitável de mineração de fosfato— com um projeto que visa, ao final, desenvolver um novo município, fazendas e locais de trabalho. Cerca de 90% da população seria eventualmente realocada.
Estrangeiros que pagarem pelo menos US$ 140,5 mil (R$ 800 mil) por um passaporte provavelmente nunca colocarão os pés na ilha, que fica a cerca de 4.000 quilômetros a nordeste de Sydney, mas poderão aproveitar o acesso sem visto a destinos, incluindo o Reino Unido, Singapura e Hong Kong.
"Enquanto o mundo debate a crise climática, devemos tomar medidas proativas para garantir o futuro de nossa nação", disse Adeang, eleito em 2023, em uma resposta por escrito a perguntas da reportagem. "Não vamos esperar as ondas levarem nossas casas e infraestrutura."
Nauru segue a Dominica, ilha no Caribe, ao tentar usar os recursos da venda de cidadanias para proteger suas populações dos impactos crescentes das mudanças climáticas. Isso ilustra os desafios que as pequenas nações enfrentam para garantir financiamento para iniciativas que aumentem a resiliência. Embora as economias ricas tenham aumentado a taxa de empréstimos e subsídios para países em desenvolvimento, o déficit entre o financiamento para adaptação climática disponível e o necessário pode chegar a até US$ 359 bilhões (R$ 2 trilhões) por ano, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em um relatório de novembro.
Negociadores de um bloco de pequenos estados insulares, incluindo Nauru, saíram abruptamente de negociações tensas sobre financiamento climático durante a cúpula COP29 do ano passado no Azerbaijão, e um acordo eventual — sob o qual os estados ricos prometeram entregar pelo menos US$ 300 bilhões (R$ 1,7 tri) anuais para a ação climática — ficou muito aquém dos mais de US$ 1 trilhão (quase R$ 5,7 tri) por ano que haviam sido solicitados.
Iniciativas de adaptação "exigem recursos financeiros substanciais, o que é uma luta contínua", disse Adeang à Assembleia Geral da ONU em Nova York, em setembro passado. "Quando se trata de financiamento climático, frequentemente somos relegados para o fim da fila. "Entre 2008 e 2022, Nauru recebeu US$ 64 milhões (cerca de R$ 364 milhões) em financiamento para o desenvolvimento com foco no enfrentamento das mudanças climáticas, de acordo com o Lowy Institute, um centro de pesquisa em assuntos internacionais.
Nauru enfrentará aumentos significativos nas inundações extremas nas próximas décadas, de acordo com a equipe de Mudanças no Nível do Mar da NASA. O número de dias de inundação —quando os níveis da água estavam pelo menos 0,5 metros acima de uma referência— foi de 8 entre 1975 e 1984, e 146 entre 2012 e 2021, mostram os dados da NASA. Já o custo anual estimado para pequenos estados insulares em desenvolvimento —um grupo de 39 nações que inclui Jamaica e Fiji— com inundações costeiras é superior a US$ 1,6 bilhão por ano.
Termine de ler esta reportagem clicando na Folha de S. Paulo
Novos registros da onça-pintada no RJ mostram o felino se refrescando em rio
18/12/2025
Lupo inaugura loja construída com tijolos 100% de resíduos têxteis
18/12/2025
Zona Leste de SP ganha pontos para descarte de tintas e latas
18/12/2025
Nova Lei da Agricultura Urbana de Curitiba segue para sanção
18/12/2025
Através de felinos, projeto monitora ameaças ao pampa, bioma menos protegido do Brasil; veja fotos
18/12/2025
Comunidades tradicionais do Bico do Papagaio alertam para recuo dos rios Tocantins e Araguaia
18/12/2025
