
18/02/2025
Com mais de 35 anos de pesquisas com populações na amazônia e uma consolidada carreira de publicações internacionais, o antropólogo brasileiro Eduardo Brondízio, 61, foi um dos vencedores da edição de 2025 do Tyler Prize, popularmente conhecido como o "Nobel" ambiental.
Professor da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Brondízio divide o prêmio de US$ 250 mil (cerca de R$ 1,49 mi) com a ecóloga argentina Sandra Díaz. Esta é primeira vez, em 52 anos de história, que a láurea é concedida a indivíduos da América do Sul.
Embora tenham recebido indicações independentes, a dupla trabalhou em conjunto no comando de um grande relatório de avaliação de biodiversidade publicado pelas Nações Unidas. O levantamento, que teve liderança também do pesquisador Josef Settele (Alemanha), revelou que mais de 1 milhão de espécies estão em risco de extinção.
"Foi uma grande satisfação ser reconhecido e poder compartilhar isso com minha colega Sandra, com quem venho colaborando há mais de uma década", disse Brondízio à Folha. "Fico contente que tenham dado essa oportunidade para destacar os temas e problemas que trabalhamos, especialmente relacionados à região amazônica."
Nascido em São José dos Campos (SP), em uma família com forte ligação rural, o cientista conta que a questão da agricultura e das migrações para áreas urbanas sempre o interessou.
Os estudos na floresta começaram perto de casa, na mata atlântica, ainda na faculdade. O primeiro contato com a amazônia aconteceu em 1989 e nunca parou. Desde então, Brondízio participou de vários trabalhos de campo extensos com diferentes populações ribeirinhas.
As pesquisas do brasileiro adotam uma abordagem multidisciplinar, combinando ciências naturais, antropologia e outros domínios. Dados recolhidos nos trabalhos de campo são integrados a imagens de satélite e georreferenciamento, ampliando o escopo e as interpretações dos resultados.
"Isso permite analisar a transformação da paisagem ao longo do tempo e entender como as mudanças ambientais, econômicas e sociais se interconectam. Nós conseguimos mapear, por exemplo, áreas de produção intensiva de açaí, mostrando que elas não são simplesmente ´floresta nativa´, mas sim sistemas produtivos sofisticados manejados pelas populações locais", detalhou.
Dar visibilidade a essas comunidades é um dos pontos centrais de sua atuação, explicou Brondízio.
"Categorias sociais foram impostas a esses produtores, posicionando-os em uma paisagem social desfavorável. O exemplo do açaí ilustra bem isso: produtores sempre foram chamados de ´extrativistas´, mas, na realidade, os sistemas de produção de açaí são altamente manejados e sofisticados", afirmou. "A ideia de que o extrativista é apenas um sujeito passivo, que colhe o que a natureza dá, desvaloriza a complexidade do trabalho desses produtores."
O mercado de açaí, hoje bilionário, destacou ele, "cresceu graças à resposta da população ribeirinha à demanda urbana nos anos 70 e 80". "No entanto, esses produtores continuam sendo vistos como incapazes de atender a uma economia moderna."
Para Brondízio, a complexa realidade das populações urbanas da amazônia, que muitas vezes se movimentam entre o campo e cidade, também é frequentemente excluída do debate público.
O pesquisador defende que a inclusão do combate à pobreza e à precariedade da infraestrutura é fundamental nas iniciativas de proteção à biodiversidade e no combate das mudanças climáticas. Esses fatores, assim como as pressões adicionais trazidas pelo aumento da presença do crime organizado na amazônia, precisam ganhar atenção, de acordo com o antropólogo.
"Isso amplia as pressões ambientais de uma maneira sem precedentes, porque agora não são só as carências regionais, que sempre estiveram presentes. Há os extremos climáticos, que viraram normalidade e afetam zona rural, indígena e urbana de maneira muito impactante", afirmou.
"Há o crescimento da economia ilegal e do crime organizado, que conecta com outros países amazônicos e que transformou a região, nos últimos anos, em polo também no comércio ilegal de drogas", completou.
Além do trabalho direto com as comunidades brasileiras, o pesquisador também analisou a situação em outros países.
Brondízio é coautor de um trabalho, publicado na revista Nature, sobre a produção de alimentos em mais de 180 países. A pesquisa revelou que 200 milhões de empregos foram perdidos no setor desde 1991, havendo outros 120 milhões em risco até 2030. A maior parte dos afetados estará em comunidades indígenas e rurais em países em desenvolvimento.
A organização do Tyler Prize ressaltou as contribuições do cientista brasileiro para jogar luz sobre a importância de pequenos agricultores e da agricultura familiar no sistema global de alimentação.
"A pesquisa de Brondízio destacou o papel fundamental que os produtores rurais e de pequena escala desempenham na segurança alimentar global. Além de tornar essas contribuições invisíveis mais visíveis, ele tem sido uma voz ativa na defesa da preservação de empregos e conhecimento no setor, pedindo investimentos para combater a pobreza e a desigualdade", disse a comissão do prêmio.
Fonte: Folha de S. Paulo
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