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Câmeras semelhantes às da Nasa serão usadas pela Cedae para monitorar poluentes em rios que abastecem Niterói e São Gonçalo

13/02/2025

A Cedae deu início à implantação de um sistema inédito de monitoramento ambiental nos rios Guapiaçu e Macacu, responsáveis pelo abastecimento do Sistema Imunana-Laranjal, que atende Niterói, São Gonçalo, Ilha de Paquetá, parte de Maricá e Itaboraí. Com um investimento anual de R$ 50 milhões, o projeto inclui sondas flutuantes, câmeras de alta tecnologia, drones e uma frota de veículos para ações de fiscalização em terra, água e ar.
A medida surge em meio a uma crise ambiental que já dura quase um ano, marcada pela contaminação da bacia hidrográfica pelo composto químico tolueno. Essa substância tóxica, geralmente associada a atividades industriais e petroquímicas, foi identificada na área e, mais recentemente, voltou a ser detectada, ainda que em concentrações menores.
— A gente vive com essa preocupação. A água não tem mais a mesma cor, e o cheiro às vezes é diferente — conta Zeca Pereira, pescador há mais de 30 anos no Rio Macacu.
Para ele, o monitoramento é uma boa notícia, mas ainda deixa incertezas:
— Se eles não descobrirem de onde vem essa contaminação, como vão evitar que isso continue acontecendo?
O gerente de qualidade da Cedae, Robson Campos, explica que o plano de contingência já está em operação:
— Desde 9 de janeiro, realizamos monitoramento aéreo diário de uma área de 70 km² com helicópteros e drones. Instalamos sete pontos de monitoramento ao longo dos rios Guapiaçu e Macacu. Qualquer alteração na qualidade da água será identificada em tempo real e reportada para um centro de controle provisório.
Entre os equipamentos instalados, estão câmeras espectrais, uma tecnologia de ponta semelhante à utilizada pela Nasa. A câmera joga um feixe de luz na água e detecta o retorno, identificando cerca de 20 parâmetros físico-químicos.
— Nenhuma outra empresa de saneamento no Brasil possui essa tecnologia — afirma Campos.
A Cedae também está construindo um laboratório de última geração na Estação de Tratamento de Água (ETA) Laranjal, com previsão de inauguração para julho. O sistema conta com câmeras específicas para detectar detritos e mudanças visuais, como manchas de óleo, além de sondas flutuantes para medições constantes de turbidez, pH e outros parâmetros da água.
Embora a iniciativa traga esperança, produtores rurais da região ainda temem os impactos da contaminação.
— Já perdemos parte da plantação por causa da qualidade da água para irrigação — lamenta Ana Lúcia dos Santos, fazendeira em Cachoeiras de Macacu.
Segundo ela, o mistério sobre a origem do tolueno gera incerteza entre os agricultores:
— Não adianta só monitorar. A gente precisa de uma solução definitiva.
Para Alexandre Pessoa Dias, engenheiro sanitarista e professor pesquisador da Fiocruz, a preocupação das comunidades locais é legítima, já que a presença de tolueno na bacia hidrográfica continua sendo um mistério. Dias ressaltou a necessidade urgente de identificar a origem do contaminante.
— Todas as hipóteses precisam ser investigadas e descartadas ou confirmadas, seja contaminação por dutos da Petrobras, furtos ou vazamentos. Só assim poderemos afastar o risco de nova contaminação. O tolueno não surge naturalmente no ambiente. É fruto de uma ação humana. Precisamos encontrar a fonte dessa contaminação. Sem isso, o risco de novas crises permanece — alerta.
Ele também destaca a degradação ambiental da região.
— A bacia está completamente degradada, sem áreas reflorestadas nem matas ciliares. Isso precisa ser tratado com urgência pelo Estado. Sem reflorestamento e controle das atividades industriais no entorno, não há como garantir a qualidade da água — afirma.
Maurício Muniz, chefe do NGI Guanabara do ICMBio, reforça que atividades industriais na região devem ser controladas pelo poder público:
— O tolueno é um produto químico vinculado a atividades produtivas. O Inea e outros órgãos precisam prestar uma informação decisiva sobre a origem desse vazamento. Se apareceu em grandes volumes há um ano e agora reaparece, isso mostra que a investigação não foi conclusiva.
A degradação ambiental da bacia hidrográfica também é motivo de preocupação. Segundo os especialistas, a poluição deixou a bacia completamente degradada. Não tem mais áreas reflorestadas nem matas ciliares. Renato Espírito Santo, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental elogia o projeto da Cedae, mas destaca que apenas a instalação de equipamentos não basta.
— É preciso manter o controle rigoroso de empresas que utilizam poluentes químicos e realizar inspeções periódicas para evitar despejos irregulares e criminosos —ressalta.
Diretor-presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon defende que, quanto melhor a qualidade da água captada, menor será a necessidade de produtos químicos no tratamento. E que esse sistema permite reações rápidas, além de criar uma base de dados confiável para análises ambientais de longo prazo.
A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), abriu um inquérito em abril do ano passado. Segundo a corporação, "imediatamente após as primeiras informações sobre uma possível contaminação, a polícia instaurou inquérito para apurar o que provocou a interrupção da captação de água da Estação do Sistema Imunana-Laranjal".
De acordo com a nota, "segundo apurado, a hipótese mais provável é de vazamento. A perícia científica foi realizada e encontrou grande concentração de tolueno. A Polícia Civil, em conjunto com órgãos ambientais, realizou vistorias e percorreu grande área, identificando os locais com maior concentração do poluente. Agentes da Civil fizeram busca e apreensão em 17 empresas da região. Os mandados foram cumpridos por meio de uma grande força-tarefa, apenas 5 dias após os fatos. As diligências contaram com novas perícias e vistorias".
A Polícia Civil informou que, no decorrer do inquérito, os representantes legais e técnicos das empresas foram ouvidos e diversos laudos periciais foram analisados. No entanto, nenhum suspeito foi preso até agora. As investigações seguem em andamento.
Por nota, a polícia esclareceu que "é importante registrar que esta investigação auxiliou no aperfeiçoamento dos protocolos de fiscalização da DPMA. A especializada vem identificando todas as empresas que utilizam, compram ou vendem tolueno no estado do Rio de Janeiro e realiza vistorias permanentes para prevenir novos casos semelhantes".
Gerente de qualidade da Cedae, Robson Campos afirma que a expectativa é que o sistema de monitoramento seja expandido para o Sistema Guandu, responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana.
— Antes, monitorávamos apenas a captação. Agora, qualquer contaminação em toda a bacia será detectada rapidamente — garante Campos.
Enquanto aguardam por soluções definitivas, comunidades locais seguem em estado de alerta.

Fonte: O Globo

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