
13/02/2025
Duas vezes ao dia, sirenes soam no forno de cimento da Chip Mong Insee, no Camboja, alertando que em breve o calcário será extraído da montanha cárstica que domina o extenso complexo industrial.
Fumaça branca sai de sua chaminé prateada, visível apenas à noite contra o céu escuro, e a poeira cobre grande parte da área ao redor, onde os moradores se queixam de doenças respiratórias persistentes que chegaram junto com o forno.
A fábrica pode parecer um símbolo improvável na luta contra a poluição plástica, mas os fornos de cimento estão no centro do crescente setor de créditos de plástico, no qual compradores pagam pela coleta e descarte de resíduos plásticos.
Os créditos têm como objetivo combater o flagelo da poluição plástica e aumentar a oferta de plástico reciclado.
No entanto, eles não impõem nenhuma obrigação aos compradores de parar de produzir ou usar plástico não reciclável que acaba no meio ambiente.
Uma investigação da AFP e da SourceMaterial revela que o setor depende fortemente da poluente indústria do cimento para queimar os resíduos coletados, apesar das preocupações com os riscos à saúde e as emissões de carbono.
Essa técnica, conhecida como coprocessamento, pode liberar produtos químicos tóxicos nas comunidades vizinhas, muitas vezes em países menos equipados para monitorar e lidar com o problema.
"O fardo recai sobre a comunidade, e o benefício sobre essas empresas", afirma Miriam Rotkin-Ellman, cientista da área de saúde pública. "Há uma completa desconexão entre quem se beneficia e quem é prejudicado."
Nos arredores do forno da Chip Mong Insee, meia dúzia de moradores locais descrevem os mesmos problemas de saúde.
"Estamos sempre tossindo", diz Pheara, que, assim como todos na região, pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome. "Antes, quando ficávamos doentes, tomávamos um pouco de remédio, mas agora temos que fazer vários tratamentos e até trocar de médico para melhorar."
O forno trouxe empregos para a região, mas não melhorou a vida dos moradores.
"Eu não quero morar aqui porque é muito empoeirado", acrescenta ela. "Mas eu não sei quem compraria minha casa."
Há pouco debate sobre o problema da poluição plástica –pelo menos 22 milhões de toneladas foram despejadas no meio ambiente em 2019, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os mais afetados são os países em desenvolvimento com infraestrutura limitada de gestão de resíduos, como o Camboja, onde o plástico entope ruas, campos e riachos.
Os créditos de plástico visam direcionar fundos para esse problema.
Eles são gerados por projetos que coletam e processam resíduos, geralmente ao ritmo de uma tonelada por crédito.
Os compradores podem então reivindicar essa tonelada para "compensar" ou anular parte de sua pegada plástica, ou ainda para demonstrar ação ambiental.
No entanto, o setor, concentrado principalmente na Ásia, América Latina e África, não possui regras universais.
Auditores autodeclarados certificam créditos com base em diferentes padrões, sob pouca supervisão governamental.
Entre os compradores estão subsidiárias da Colgate-Palmolive, PepsiCo e Mondelez, e, embora o mercado ainda seja pequeno, a BloombergNEF projeta que a receita pode chegar a US$ 4,2 bilhões (R$ 24,1 bilhões) até 2050.
Para alguns, isso não é uma boa notícia.
"É uma solução preguiçosa, muito preguiçosa", critica Piotr Barczak, gerente do programa de economia circular da Fundação ACEN. "Isso permite que as empresas produtoras de plástico continuem com seu modelo de negócios."
Conclua a leitura desta reportagem acessando a Folha de S. Paulo
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