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A comunidade que teve que abandonar ilha onde morava porque seria engolida pelo mar

11/02/2025

"É uma ilha quase abandonada. É como se estivesse morta", me avisa Delfino Davies assim que entro em seu pequeno museu de ferramentas e instrumentos.
O som de sua vassoura varrendo é agora a única coisa que pode ser ouvida entre essas casas. Ele quase não recebe ninguém em seu "pequeno tesouro", como ele chama sua casa, mas gosta de mantê-la impecável.
"Antes, era possível ouvir crianças gritando e brincando nos cantos, havia música por toda parte, os vizinhos estavam brigando... Mas todos os sons desapareceram.
As lembranças voltam correndo para esse indígena guna, cuja ilha foi completamente transformada em junho passado, quando dezenas de barcos a motor e canoas de madeira levaram 300 famílias da Ilha Gardi Sugdub, no Caribe panamenho, para uma favela no continente conhecida como Isberyala.
Cerca de mil pessoas fugiram da superlotação e do aumento do nível do mar. Essa é uma das primeiras comunidades a serem realocadas na América Latina devido às mudanças climáticas e a primeira no Panamá.
A mudança levou vários dias.
"Meu pai, meu irmão, minhas cunhadas, meus amigos... foram embora. As crianças perguntavam ´para onde foi meu amiguinho´ e começaram a chorar", conta Delfino.
Solteiro e sem filhos, suas peças de museu são agora sua melhor companhia.
Estima-se que apenas cerca de 20 famílias —pouco mais de cem pessoas— ainda vivam em Gardi Sugdub.
Muitos ficaram porque não havia espaço para todos em Isberyala. A evacuação começou a ser planejada há mais de 10 anos, quando havia menos habitantes. Outros simplesmente se recusaram a deixar sua ilha.
A maioria deles, especialmente os homens, passa o dia em um píer jogando damas ao lado de uma lanchonete que já tem mais funcionários do que clientes. Até que um som se aproxima do horizonte.
"O peixe está chegando", explica Delfino quando vê minha cara de surpresa.
Naquele momento, uma canoa de madeira entra no porto com dois homens a bordo. Enquanto um deles sopra um enorme búzio para sinalizar sua chegada, o outro grita "um peixe, um dólar".
É o momento mais esperado do dia para os últimos ocupantes da ilha.
"Da minha família, apenas três de nós ficaram", diz Delfino. "Em outro, apenas dois ficaram, em outros ninguém ficou... apenas as portas foram fechadas.
Os cadeados em suas fechaduras atestam que eles foram embora.
"Eu me acostumei a estar aqui e ficarei com minha comunidade. Se a ilha afundar, eu afundarei com ela", diz Delfino, sem perder o sorriso.
Os gunas, que originalmente viviam no interior do continente, chegaram a essas ilhas séculos atrás, fugindo primeiro dos conquistadores espanhóis e depois de epidemias e conflitos com outros povos indígenas.
Especificamente, a Ilha Gardi Sugdub —cujo nome significa "Ilha do Caranguejo"— foi ocupada há mais de um século e, desde então, não parou de crescer. Em pessoas... e também em tamanho.
Localizado no arquipélago de Guna Yala (anteriormente chamado de arquipélago de San Blas), é um espaço de aproximadamente 400 por 150 metros, onde, até recentemente, cerca de 1.300 pessoas viviam amontoadas com serviços básicos limitados.
Muitos viviam em áreas de terra recuperadas do mar.
Quando precisaram de mais casas para acomodar a população crescente, os gunas começaram a colocar grandes pedras trazidas dos recifes na costa.
Em seguida, eles preenchiam os buracos usando resíduos como cascas de coco e, como ingrediente final, cobriam tudo com terra extraída da costa. Em cima desse "preenchimento", como eles chamam, construíram novas casas.
Mesmo assim, o espaço ficou pequeno.

Conclua a leitura desta reportagem clicando na Folha de S. Paulo

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