
06/02/2025
Mudanças climáticas já são sentidas na capital amazônica que recebe a COP30, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2025. Cenário prevê mais dias de calor extremo e menos chuva no futuro impactando principalmente população mais carente.
Poderia ser um dia comum de trabalho para as mulheres extrativistas da ilha do Combu, em Belém, no Pará. Mas há meses elas não conseguem mais colher a mesma quantidade de andiroba que colhiam antes. O calor extremo e a estiagem prolongada na região estão mudando essa produção.
"Este ano que a gente começou a sentir o impacto. Na verdade, é o aquecimento global, que há anos a gente falava, mas agora já estamos sentindo. A produção era bem mais intensa, esse ano já deu uma baixa. Estamos sentindo essa diferença agora", conta à DW Dayse Soares, da AME (Associação das Mulheres Extrativistas do Combu).
A andiroba é uma semente típica da amazônia e o seu óleo é utilizado para fins medicinais. Devido à baixa produção atual, as extrativistas do Combu tiveram que se adaptar e começaram trabalhar com recursos menos escassos na floresta, como a folha de cacau, que a AME desidrata e transforma em embalagens.
O Combu integra a região ribeirinha da capital paraense, que conta com dezenas de ilhas e possui cerca de 40 mil habitantes, segundo as autoridades municipais. O artesão Charles Teles faz parte dessa população e diz estar preocupado com o "calor desordenado" que está sentindo.
"Apesar de estarmos no meio da floresta, numa ilha, rodeados de água, percebemos que o calor esse ano foi desordenado mesmo. Tinha tempo de a gente entrar quase em desespero de tanto calor. Um calor que nunca sentimos antes", afirma o artesão.
Tanto nas ilhas como na parte continental de Belém, a sensação da população é a mesma: "a cidade ficou muito mais quente". É o que diz a pesquisadora Marlucia Martins, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que explica que "os efeitos das mudanças climáticas já estão acontecendo há sete, oito anos, mas se intensificaram nos dois últimos anos".
"2023 e 2024 foram os anos mais quentes. E mesmo a região das ilhas, que é uma região de temperatura e de clima muito mais ameno, já está muito mais quente. E isso é interessante porque é perceptível por todos", observa Martins.
Um dos aspectos que intensifica a sensação de calor é a quantidade de árvores por metro quadrado, que nessa capital amazônica está aquém do tamanho da população —que já passa de 1,3 milhão. Levando em consideração os municípios do entrono, o número de habitantes ultrapassa os 2,2 milhões.
O professor e coordenador do curso de Geografia da UEPA (Universidade do Estado do Pará), Rodrigo Rafael, afirma que Belém tem uma média de 2,5 árvores por metro quadrado para cada morador, o que "traz um desconforto térmico muito grande".
Segundo o professor, o índice de cobertura vegetal por habitante preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) fica em torno de 9 e 12 árvores por metro quadrado.
O calor é intenso mesmo no centro da cidade, onde a falta de arborização passa despercebida devido aos famosos túneis verdes de mangueiras de Belém —conhecida como "Cidade das Mangueiras". A sensação térmica é ainda pior na periferia, onde o verde está menos presente.
"São os bairros onde temos um alto índice, por exemplo, de criminalidade, de pobreza. É o que a gente fala de injustiça ambiental. Temos uma população que é vulnerável economicamente e que também está mais exposta a esses eventos climáticos extremos, como ondas de calor excessiva e formação de ilhas de calor", afirma Rafael.
A ativista ambiental Waleska Queiroz, dos movimentos COP das Baixadas e Observatório das Baixadas, diz que as periferias são "zonas de sacrifício" e também defende que problemas como a falta de saneamento e de arborização se agravam na crise climática.
A reportagem completa pode ser lida na Folha de S. Paulo
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