16/01/2025
Já se sabe que os plásticos estão presentes na água, nos alimentos e até no ar que respiramos. Agora, como a poluição por resíduos plásticos afeta a nossa saúde é ainda uma questão aberta. Um novo estudo, porém, mostra, pela primeira vez, a capacidade de partículas plásticas liberadas por saquinhos comerciais de chá serem absorvidas por células intestinais humanas e, portanto, serem capazes de atingir a corrente sanguínea e se espalhar por todo o corpo.
A embalagem de alimentos é uma grande fonte de contaminação por micro e nanoplásticos (MNPLs) e a inalação e ingestão são a principal via de exposição humana. Cientes disso, pesquisadores do Departamento de Genética e Microbiologia da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) realizaram um estudo em que caracterizaram micro e nanoplásticos derivados de vários tipos de saquinhos de chá disponíveis comercialmente. Os cientistas observaram que quando esses saquinhos de chá são usados para preparar uma infusão, grandes quantidades de partículas nanométricas e estruturas nanofilamentosas são liberadas, o que é uma fonte importante de exposição a MNPLs.
Os saquinhos de chá usados na pesquisa foram feitos dos polímeros nylon-6, polipropileno e celulose. O estudo mostra que, ao preparar o chá, o polipropileno libera aproximadamente 1,2 bilhão de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 136,7 nanômetros; a celulose libera cerca de 135 milhões de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 244 nanômetros; enquanto o nylon-6 libera 8,18 milhões de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 138,4 nanômetros.
Um estudo canadense anterior já apontava a capacidade dos plásticos serem liberados nos saquinhos de chá.
Para caracterizar os diferentes tipos de partículas presentes na infusão, um conjunto de técnicas analíticas avançadas, como microscopia eletrônica de varredura (MEV), microscopia eletrônica de transmissão (MET), espectroscopia infravermelha (ATR-FTIR), espalhamento dinâmico de luz (DLS), velocimetria Doppler a laser (LDV) e análise de rastreamento de nanopartículas (NTA) foram usadas.
“Conseguimos caracterizar esses poluentes de forma inovadora com um conjunto de técnicas de ponta, o que é uma ferramenta muito importante para avançar na pesquisa sobre seus possíveis impactos na saúde humana”, comenta a pesquisadora da UAB, Alba Garcia.
As partículas foram coradas e expostas pela primeira vez a diferentes tipos de células intestinais humanas para avaliar sua interação e possível internalização celular. Os experimentos de interação biológica mostraram que as células intestinais produtoras de muco tiveram a maior absorção de micro e nanoplásticos, com as partículas até mesmo entrando no núcleo da célula que abriga o material genético. O resultado sugere um papel fundamental para o muco intestinal na absorção dessas partículas poluentes e ressalta a necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos que a exposição crônica pode ter na saúde humana.
“É essencial desenvolver métodos de teste padronizados para avaliar a contaminação por MNPLs liberada de materiais plásticos de contato com alimentos e formular políticas regulatórias para efetivamente mitigar e minimizar essa contaminação. À medida que o uso de plástico em embalagens de alimentos continua a aumentar, é vital abordar a contaminação por MNPLs para garantir a segurança alimentar e proteger a saúde pública”, acrescentam os pesquisadores.
O estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto europeu PlasticHeal (https://www.plasticheal.eu/en), coordenado por Alba Hernández, professora do Departamento de Genética e Microbiologia da UAB. Pesquisadores do Grupo de Mutagênese da UAB Alba García-Rodríguez, Ricard Marcos e Gooya Banaei, primeiro autor do artigo de pesquisa, também estiveram envolvidos no estudo, com a colaboração de pesquisadores do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental em Leipzig, Alemanha.
Mais detalhes você encontra no artigo Micro/nanoplásticos derivados de saquinhos de chá (MNPLs reais) como um substituto para cenários de exposição da vida real clicando no CicloVivo
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