
27/11/2025
Na COP30, o agronegócio ganhou destaque. A Agrizone, espaço paralelo coordenado pela Embrapa, reuniu cerca de 400 eventos, que debateram temas diversos, tendo práticas de “baixo carbono” como pano de fundo. A ONG ProVeg Brasil esteve no local para levar uma outra perspectiva: uma rota de desenvolvimento rural sustentável para o Brasil baseada em Sistemas Agroflorestais (SAFs) vegetais.
A ONG ProVeg Brasil, parte da rede ProVeg International, com presença em 15 países, lançou em Belém o estudo “Aumentando a Renda, Respeitando o Planeta, Nutrindo Pessoas”. Segundo o documento, a transição da pecuária para SAFs pode aumentar a renda líquida do produtor rural em 110% por hectare. Ao mesmo tempo, há um ganho climático, uma vez que essa troca resulta em mais captura de gases de efeito estufa do que emissões.
“O Brasil não precisa escolher entre uma economia forte e a proteção climática. Nossas descobertas mostram que os SAFs vegetais são a chave para uma matriz de produção alimentar mais resiliente e justa, capaz de gerar mais valor na mesma área de terra usada hoje pela pecuária, além de regenerar áreas degradadas,” afirma Aline Baroni, diretora executiva da ProVeg Brasil, organização que liderou a pesquisa. “Essa solução passa pelo incentivo da agricultura familiar, da agroecologia, e da produção e consumo prioritários de alimentos vegetais”, completa.
Os Sistemas Agroflorestais são formas de produção que combinam árvores ou plantas arbóreas com culturas agrícolas, integrando esses elementos em um mesmo espaço de forma planejada e sustentável. Desta forma, o sistema produtivo concilia a produção de alimentos com a recuperação de áreas degradadas, promovendo benefícios econômicos e ecológicos.
No relatório lançado pela ONG, as agroflorestas vegetais se mostraram potencialmente mais promissoras do que qualquer um dos tipos de pecuárias analisados (gado para corte, gado leiteiro, aves e suínos), em todos os biomas brasileiros, quando se avalia o potencial de aumento de renda para o produtor.
A transição para SAFs também estimula a criação de empregos e a diversificação das fontes de renda, contribuindo para reduzir a migração rural. A pesquisa revelou que, para cada R$ 1 milhão de produção anual em SAFs vegetais, são gerados 30 postos de trabalho ao longo da cadeia produtiva, enquanto na pecuária o mesmo montante resulta, em média, em apenas 7 empregos.
O estudo também estimou que, em situações excepcionais – como quando a pecuária bovina de baixa produtividade é substituída por SAFs vegetais biodiversos, de alta rentabilidade e com acesso a mercados especiais – o aumento pode alcançar até 1.525%.
Além dos ganhos econômicos, a adoção massiva de sistemas agroflorestais representaria uma grande frente de combate às emissões poluentes, uma vez que a pecuária é a maior emissora de gases de efeito estufa do Brasil. Um estudo lançado este ano, inclusive, calculou que as emissões do setor podem variar de 0,42 a 0,63 gigatonelada de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, enquanto o limite para atender à meta da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) seria de 0,26 GtCO2e.
As emissões poluentes, neste caso, se devem ao processo digestivo dos animais (que emite gás metano) e especialmente ao desmatamento, fortemente relacionado à abertura de pastagens e à monocultura de grãos para ração animal. “20% do território nacional é pastagem, das quais 45-55% apresentam algum grau de degradação”, explica Baroni. “Se transformarmos 12% desses pastos degradados em agroflorestas vegetais, isso já contribuiria para mais de 5% de toda a meta nacional de mitigação do Brasil descrita nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) (do inglês, Nationally Determined Contributions)”, completa.
Em termos nutritivos para a alimentação humana, a expansão da criação de gado também parece não se justificar. A pecuária fornece apenas cerca de 37% das calorias consumidas pelos brasileiros em alimentos in natura e minimamente processados, que o Guia Alimentar para a População Brasileira indica ser a base da alimentação. Em contraposição, a agricultura fornece 63% das calorias, contribuindo para a segurança alimentar e para dietas mais alinhadas com os limites planetários.
Em junho deste ano, a ProVeg anunciou o lançamento do Projeto Cultiva, iniciativa voltada a apoiar produtores rurais na transição de sistemas de produção animal para modelos agroflorestais de base vegetal, oferecendo uma alternativa mais viável, sustentável e justa para a agricultura familiar. No município de Ortigueira, no Paraná, um produtor familiar já iniciou a transição.
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