
28/10/2025
Na comunidade indígena de Porto Praia de Baixo, na região de Tefé (AM), o rio Solimões é quem dita o ritmo da vida. O extenso corpo d´água torna possível o ir e o vir, a alimentação, a sustentação e o lazer das 116 famílias, que totalizam cerca de 400 adultos e 200 crianças.
É ali, na região da cidade conhecida como o coração da amazônia e a capital do Médio Solimões, que as pessoas sentem ao longo de todo o ano os impactos das mudanças climáticas, com efeito especial nas vidas das crianças. São elas as que mais sofrem com ondas de calor e efeitos de inundações e de secas.
Esses eventos têm sido piores nos últimos anos, observam Anilton Braz da Silva, 55, cacique da aldeia, da etnia Kokama, e Teresa Silva, 56, sua esposa, nascidos e crescidos no local. "Na época que a gente era adolescente não tinha isso, era estiagem normal. É isso que fico pensando, como mudou tudo, tanto a seca como a cheia", diz Teresa.
A região sofreu com as maiores estiagens da história em 2023 e 2024, quando Tefé e todos os outros 61 municípios do Amazonas entraram em estado de emergência. O que era água deu lugar à areia e lama. A comunidade ficou isolada, com dificuldade de vender o que plantam. A subsistência com base na venda de farinha de mandioca e banana ficou prejudicada.
Mesmo pegar peixe para a alimentação foi difícil. Para isso, era preciso andar para tentar a pesca durante madrugada. O calor não permitia que a travessia fosse feita à luz do sol. A situação era agravada pelas queimadas que acontecem na região durante a seca, quando os moradores queimam a vegetação para plantio. A fumaça turva a visão e provoca problemas respiratórios.
Foi assim que Sofia Emanuelle, 2, desenvolveu uma bronquiolite quando tinha apenas três meses. Sua mãe, Erica Gonçalves, 29, matriarca de seis filhos, passou mal diversas vezes durante a gravidez da menina, em 2023, devido ao calor.
Sofia nasceu durante a estiagem de 2024. "As queimadas atrapalhavam, a gente via tudo branco quando acordava. A bronquiolite acho que teve a ver com isso porque a gente presenciava muito e ela era muito pequenininha", relata.
Os sintomas gastrointestinais também são comuns durante as cheias. Quando extremas, o rio chega a invadir as casas de palafita. As enchentes trazem doenças como disenterias, resultado do contato com água suja, e isolam as crianças dentro das casas, impedindo as brincadeiras nos rios.
Na primeira infância, que compreende as idades entre 0 e 6 anos, a fisiologia do corpo é diferente, diz Marcia Castro, professora de Demografia do Departamento de Saúde Global e População na Universidade Harvard. As crianças inalam mais ar por quilo de peso corporal e absorvem mais poluentes em relação aos adultos enquanto seus pulmões estão em formação, por exemplo.
É nessa fase que bebês e crianças mais se desenvolvem e são profundamente impactados pelas influências do ambiente, aponta relatório do Núcleo Ciência pela Infância, elaborado por pesquisadores brasileiros, entre eles Castro.
O documento mostra que crianças nascidas em 2020 viverão mais desastres climáticos do que as de 1960, enfrentando em média duas vezes mais incêndios florestais, 2,6 vezes mais secas, 2,8 vezes mais inundações e 6,8 vezes mais ondas de calor. Os efeitos se agravam ainda mais quando somados a fatores sociais e econômicos, como pobreza, racismo ambiental e falta de acesso a serviços básicos.
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