
07/10/2025
Em 1970, o papa Paulo 6º anteviu um apocalipse ambiental ao discursar na sede da FAO, o órgão da ONU que trata da segurança alimentar. O planeta, disse então, "corre o risco de acabar numa verdadeira catástrofe ecológica", e os sinais estavam todos lá.
"Já vemos que o ar que respiramos se torna viciado, a água que bebemos poluída, as praias contaminadas, os lagos e até os oceanos, ao ponto de nos fazer temer uma verdadeira morte biológica, num futuro não distante."
Sua preocupação ambiental, pioneira entre líderes do Vaticano, seguiu-se nos pontificados seguintes. João Paulo 2º tabelou a crise ecológica como um problema moral, e Bento 16 chegou a ganhar a alcunha de "papa verde".
Francisco foi ainda mais fundo na ecoteologia. Em 2015, produziu a "Laudato Si", encíclica papal que priorizou de forma inédita a agenda climática. Ali exortou a Igreja Católica a "proteger o homem da destruição de si mesmo".
Naquele mesmo ano, sua passagem pelas Filipinas capturou bem o drama ambiental. Um ciclone de proporções descomunais matara mais de 7.000 no país dois anos antes. O papa conduziu uma missa sob chuva pesada, vestindo uma capa de plástico amarelo. Experimentou na pele a violência das tempestades que, segundo a ciência, se tornam cada vez mais frequentes com o aquecimento global.
A cena condensava a mensagem que marcaria seu pontificado: não há catástrofe ambiental que não seja também uma tragédia humana.
Passados 146 dias desde que assumiu a cabeceira da Igreja, papa Leão 14 já deu todos os sinais de que está fechado com seus quatro antecessores no tema. Ele fez nesta quarta (1°) sua primeira grande fala sobre essa pauta, para uma plateia que reuniu de Marina Silva a Arnold Schwarzenegger, o "Exterminador do Futuro" que trocou Hollywood pelo governo da Califórnia e hoje milita pela causa ambiental.
O pontífice reforçou que cuidar da "casa comum" é obrigação individual e coletiva, daí o puxão de orelha para que "todos na sociedade", por meio de ONGs e grupos ativistas, pressionem governos por políticas públicas e regulamentações que mitiguem danos causados ao meio ambiente.
Palavras importam, claro. Escoltadas por ações concretas, ganham peso extra. O papa aprovou em junho a construção de um parque solar que tornará o Vaticano o primeiro Estado carbono zero do planeta —verdade que o feito é mais simples para um território com 0,44 km², menos de um terço de Higienópolis, bairro paulistano.
Leão 14 também deu ok para um projeto de agricultura sustentável em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas —onde, aliás, deu seu primeiro discurso verde de relevo.
Renan William dos Santos, pesquisador da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no campo de religião e ambientalismo, aponta que o evento reprisou estratégia adotada por Francisco: marcar presença nos debates climáticos em momentos de grande visibilidade, sobretudo às vésperas das COPs, as conferências organizadas pela ONU para debater o revertério climático.
Comparada à de Francisco, contudo, a prosa de Leão 14 é menos carregada de tintas políticas e mais teologizada, avalia Santos.
O papa anterior ia mais na jugular, neste e em outros tópicos sensíveis à polarização. No 2015 da "Laudato Si’", por exemplo, cobrou na Assembleia-Geral da ONU que "organismos financeiros internacionais" zelem pelo desenvolvimento sustentável, "evitando uma sujeição sufocante" dos países a sistemas de crédito que empobreçam o povo.
Acabou estigmatizado, por alas conservadoras da Igreja, como representante da esquerda. Seu sucessor imprime uma verve mais espiritualizada e, portanto, mais palatável para esses setores. A associação de Schwarzenegger, republicano e católico, ao evento papal é sintomática nesse sentido.
Esta reportagem na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo
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