05/12/2024
Com seu xale costumeiro aos ombros e os cabelos grisalhos presos, Jane Goodall exala serenidade. Mesmo em uma chamada de vídeo levemente desfocada.
Em um quarto de hotel em Viena, na Áustria, uma equipe de imprensa e um pequeno grupo de cinegrafistas estão documentando sua série de palestras mais recente. Eles se agitam em torno dela enquanto conversamos.
A famosa primatologista e conservacionista se acomoda em uma cadeira de encosto alto que faz sua constituição esguia parecer ainda menor.
Consigo ver na minha tela, em uma prateleira atrás dela, seu macaco de pelúcia, o Sr. H. O brinquedo, que Goodall ganhou de uma amiga cerca de 30 anos atrás, já viajou pelo mundo com ela.
Jane Goodall tem, agora, 90 anos de idade. Mas ela e o sr. H continuam viajando.
"Estou um pouco cansada", reconhece ela. "Vim para cá de Paris [na França]. Daqui, vou para Berlim [Alemanha], depois Genebra [na Suíça]."
"Estou viajando para falar sobre os perigos para o meio ambiente e algumas das soluções", ela conta.
Uma das soluções que ela deseja apresentar hoje é uma missão de plantio de árvores e restauração de habitat conduzida em Uganda, pela fundação que leva seu nome e pela empresa de tecnologia sem fins lucrativos Ecosia.
Nos últimos cinco anos, com a ajuda de comunidades locais e pequenos agricultores, as duas organizações já plantaram cerca de dois milhões de árvores.
"Estamos em meio à sexta grande extinção", alerta Goodall, em entrevista ao programa Inside Science, da BBC Radio 4. "Quanto mais pudermos fazer para restaurar a natureza e proteger as florestas existentes, melhor."
O principal objetivo do projeto é restaurar o habitat ameaçado dos 5.000 chimpanzés de Uganda.
Jane Goodall estuda e defende a proteção dos primatas há décadas, mas ela também deseja destacar a ameaça ao nosso clima representada pelo desmatamento.
"As árvores precisam crescer até um certo tamanho para poderem realmente fazer o seu trabalho", explica a ativista. "Mas todo este [plantio de árvores] está ajudando a absorver dióxido de carbono."
Entre 11 e 22 de novembro, líderes mundiais se reuniram em Baku, no Azerbaijão, para a COP29 —a nova rodada de discussões das Nações Unidas sobre o clima. E, para Jane Goodall, é mais urgente do que nunca tomar ações para desacelerar o aquecimento do planeta.
"Ainda temos uma janela de tempo para começar a retardar as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade", explica ela. "Mas é uma janela que está se fechando."
A ativista destaca que a destruição das florestas e outros ambientes selvagens está intrinsecamente relacionada à crise climática.
"Tanta coisa mudou durante o meu tempo de vida", lamenta Goodall.
Ela relembra que, nas florestas da Tanzânia, onde ela começou a estudar os chimpanzés, mais de 60 anos atrás, "você conseguia definir o calendário pela época das duas estações chuvosas".
"Agora, às vezes chove na estação seca e, às vezes, fica seco na estação úmida. Isso faz com que as árvores frutifiquem na época errada, o que prejudica os chimpanzés, os insetos e as aves."
Goodall conta que, ao longo das décadas que passou estudando e defendendo a proteção do habitat dos chimpanzés selvagens, ela acompanhou a destruição de florestas em toda a África.
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