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Brasileiro participa de experimento nos EUA para reduzir arrotos de vacas e ajudar o clima

17/12/2024

O cientista brasileiro Paulo de Méo Filho introduz um tubo longo da boca até o estômago de "Thing 1", um bezerro de dois meses que faz parte de um projeto de pesquisa cujo objetivo é evitar que as vacas arrotem metano, um poderoso gás de efeito estufa.
Méo Filho, pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Califórnia na cidade de Davis, participa deste experimento ambicioso, que pretende desenvolver uma pílula para transformar as bactérias intestinais das vacas de forma que emitam menos ou nenhum metano.
Embora a indústria dos combustíveis fósseis e algumas fontes naturais emitam metano, a pecuária se tornou uma forte preocupação climática devido ao grande volume de emissões gasosas das vacas.
"Quase metade do aumento da temperatura (global) que tivemos até agora se deveu ao metano", explica Ermias Kebreab, professor de ciências animais da UC em Davis.
O metano, segundo maior fator que influencia nas mudanças climáticas após o dióxido de carbono, se decompõe mais rapidamente que o CO2, mas tem um efeito mais potente.
"O metano dura cerca de 12 anos na atmosfera", diferentemente do dióxido de carbono, que persiste durante séculos, disse Kebreab.
Segundo ele, "se começarmos a reduzir o metano agora, poderemos ver o efeito na temperatura rapidamente"Filho usa o tubo para extrair líquido do rúmen de "Thing 1", o primeiro compartimento do estômago que contém comida parcialmente digerida.
Usando as amostras do líquido do rúmen, cientistas estudam os micróbios que transformam o hidrogênio em metano, que não é digerido pelo bovino, mas arrotado.
Uma única vaca arrota aproximadamente 100 kg de gás por ano.
"Thing 1" e outros bezerros recebem uma dieta suplementada com algas marinhas para reduzir a produção de metano.
Os cientistas esperam obter resultados similares introduzindo micróbios geneticamente modificados para absorver hidrogênio, matando de fome as bactérias produtoras de metano na própria fonte.
No entanto, a equipe trabalha com cautela.
Matthias Hess, diretor do laboratório da UC em Davis, adverte que "não podemos simplesmente reduzir a produção de metano eliminando" as bactérias produtoras deste gás, pois o hidrogênio poderia se acumular e afetar a saúde do animal.
"Os micróbios são uma espécie de criaturas sociais. Realmente gostam de viver todos juntos", diz. "A forma como interagem e afetam uns aos outros influencia no funcionamento geral do ecossistema", acrescenta.
Os estudantes de Hess testam diferentes fórmulas em biorreatores, recipientes que reproduzem as condições de vida dos microrganismos dentro do estômago, dos movimentos à temperatura.
O projeto é executado em conjunto com o Instituto Genômica Inovadora (IGI), da UC em Berkeley.
Os cientistas do IGI estão tentando identificar o micróbio correto, que esperam alterar geneticamente para substituir os micróbios produtores de metano.
Estes microrganismos modificados serão testados na Universidade da Califórnia em Davis, em laboratório e também nos animais.
"Não só estamos tentando reduzir as emissões de metano, mas também aumentamos a eficiência da alimentação", ressalta Kebreab.
"O hidrogênio e o metano são energia, e se reduzirmos essa energia e a redirecionarmos para outra coisa... Teremos uma produtividade melhor e menos emissões ao mesmo tempo", explica.
O objetivo final é um tratamento com dose única administrado nas primeiras etapas da vida, pois a maioria do gado pasta livremente e não pode receber suplementos diários.
As três equipes de pesquisa receberam um fundo de US$ 70 milhões (R$ 419 milhões, na cotação atual) e prazo de sete anos para obter avanços.
Kebreab estuda há muito tempo as práticas pecuaristas sustentáveis e se opõe aos apelos para reduzir o consumo de carne para salvar o planeta.
Embora reconheça que isto poderia funcionar no caso de adultos sadios em países desenvolvidos, ele cita países como a Indonésia, onde o governo tenta aumentar a produção de carne e laticínios porque 20% das crianças menores de cinco anos sofrem atraso em seu crescimento.
"Não podemos dizer-lhes que não comam carne", reforça.

Fonte: g1

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