03/12/2024
O aumento no registro populacional de baleias-francas nos últimos três anos é recebido com otimismo por biólogos que acompanham a migração da espécie na costa brasileira. As fêmeas sobem da Antártida para parir seus filhotes em águas mais quentes.
Essa odisseia para perpetuar a espécie, ameaçada de extinção, apresentou um resultado acima da média histórica dos últimos 20 anos. A recuperação populacional a longo prazo é atribuída por especialistas ao ciclo lento de reprodução das baleias-francas.
De acordo com os registros do Instituto Australis, baseado em Santa Catarina, 120 baleias-francas (entre elas, cerca de 50 filhotes) foram registradas anualmente, em média, ao longo de duas décadas. Em 2024 e nos dois anteriores, porém, o avistamento contou 216 indivíduos, sendo 107 mães, cada uma com 1 filhote, e 2 adultos solitários.
As fêmeas adultas podem pesar até 60 toneladas, enquanto os machos chegam a 45. O comprimento delas pode alcançar 17 metros. E seu tempo de vida é, em média, de 70 anos. Os filhotes nascem, normalmente, entre junho e dezembro, já com cerca de 5 metros de comprimento e pesando de 4 a 5 toneladas.
O monitoramento é realizado por meio do projeto Franca Austral (Pro Franca), que recebe patrocínio da Petrobras desde 2019. A iniciativa investiga hábitos das baleias-francas, ainda pouco conhecidos pela ciência, e acompanha a recuperação dessas gigantes responsáveis por fertilizar o ambiente e contribuir para o equilíbrio do ecossistema.
Alguns filhotes passam o ano seguinte ao nascimento na companhia da mãe, separando-se somente no retorno à área de reprodução. Nas primeiras semanas de vida, ficam cerca de 90% do tempo no entorno imediato da mãe. Apenas no final da temporada de inverno de seu nascimento passam a se distanciar, explorando de forma mais independente o ambiente das proximidades.
Segundo o Instituto Australis, os filhotes de um ano, que retornam com a mãe para as áreas de reprodução, desligam-se dela nesta fase. A mãe naturalmente toma a iniciativa de afastar-se da cria que conquista sua independência.
Karina Groch, bióloga marinha do Pro Franca, explica que o trabalho de conservação da espécie ocorre há 40 anos. A queda populacional enfrentada ainda hoje deve-se, diz ela, pela caça no passado, que ocorreu pela última vez no Brasil em 1973 —antes da lei de proibição desta prática, que passou a valer no país em janeiro de 1986.
"O monitoramento aéreo é realizado, principalmente, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, onde a gente conta quantas baleias têm no litoral. Além de contar os indivíduos, cada baleia é fotografada, porque elas têm uma característica única, que é o conjunto de calosidades na cabeça, o que permite o reconhecimento individual", conta.
Os sobrevoos feitos pelos pesquisadores abrangem a principal área de concentração reprodutiva da baleia-franca, incluindo a área de proteção ambiental da espécie, que vai de Florianópolis até o Balneário de Rincão (SC).
"A caça reduziu a população, mas restaram alguns indivíduos que começaram a recolonizar chegando inicialmente no litoral sul. E agora, com essa recuperação populacional, a gente está vendo baleias-francas subindo de novo pelo litoral há alguns anos. Em especial, em 2024 teve uma ocorrência grande de baleias-francas indo até o litoral da Bahia", diz Groch.
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