
10/07/2025
Após um atraso considerável, a Comissão Europeia apresentou sua proposta legislativa para estabelecer uma meta de 90% de redução das emissões de gases de efeito estufa até 2040, que agora será deliberada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho. O bloco já se posicionou como líder climático, estabelecendo uma meta ambiciosa de redução de emissões para 2030, que está no caminho certo para cumprir.
Porém, com seu novo foco na recuperação da competitividade econômica e do poderio militar, a União Europeia tem debatido uma questão prática e moral: o órgão vai continuar a estabelecer o padrão global para a ação climática?
Sem dúvida, a UE se beneficiará com a adoção da meta proposta para 2040. O aumento do uso de energias renováveis reforçaria a segurança energética, reduziria o risco geopolítico e estabilizaria sua economia, devido aos custos de energia mais baixos e previsíveis.
Mas o compromisso do bloco com a descarbonização também tem implicações globais. A transição para a energia limpa oferece a melhor chance de alcançar uma prosperidade de base ampla, e o mundo não pode permitir que a UE inverta o curso. Essa liderança é especialmente importante no momento em que os países finalizam suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, na sigla em inglês) atualizadas —planos de ação climática para os próximos cinco anos— antes da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em Belém.
O que pode parecer um exercício tecnocrático de contabilização de emissões afeta inúmeras vidas e meios de subsistência, principalmente nos países do Sul Global que suportaram o peso de uma crise criada em grande parte pelo Norte Global.
Comunidades de toda a África já estão sofrendo os efeitos devastadores da mudança climática, incluindo ondas de calor, quebras de safra e erosão costeira. No ano passado, inundações repentinas afetaram mais de um milhão de pessoas na Nigéria.
Em Uganda, onde moro, famílias estão perdendo suas casas e terras devido a deslizamentos de terra provocados por chuvas fortes. Apesar de sermos os que menos contribuem para o aquecimento global, estamos enfrentando suas consequências mais graves e, como resultado, estamos caindo ainda mais na pobreza.
Além disso, muitos governos do Sul Global estão presos numa armadilha de dívidas, com altos pagamentos de juros que limitam sua capacidade de investir em adaptação climática e mitigação de emissões. Sua incapacidade de administrar a piora das condições climáticas pode resultar em até 216 milhões de pessoas deslocadas internamente até 2050, incluindo cerca de 86 milhões de migrantes internos por causa das mudanças climáticas na África Subsaariana.
Como a migração transfronteiriça induzida pelo clima também deve aumentar, os líderes da UE precisam decidir se enfrentam as causas básicas do deslocamento ou tratam os sintomas fortalecendo as fronteiras do bloco —o que pode ser mais desafiador e caro do que a descarbonização.
Deixar de adotar a meta proposta para 2040 seria uma traição às pessoas e aos países com menos influência e mais a perder. Mas não espero que o bloco escolha entre seus próprios interesses e os do Sul Global, porque essa meta beneficia a todos.
A redução das emissões em 90% até 2040 pouparia à UE mais de 850 bilhões de euros em importações de combustíveis fósseis, eliminaria sua dependência de suprimentos estrangeiros de gás e criaria dois milhões de novos empregos em indústrias verdes. É por isso que muitas empresas e investidores europeus apoiam a meta.
Isso também reduziria substancialmente as contas de energia domésticas e a poluição tóxica do ar, melhorando a saúde financeira e humana em todo o continente.
A manutenção de uma política climática ambiciosa também ofereceria à UE uma oportunidade de reconstruir a confiança com os governos do Sul Global, muitos dos quais ficaram desiludidos com a ordem liberal ocidental após promessas não cumpridas de financiamento climático, cortes de ajuda externa, acúmulo de vacinas durante a pandemia de Covid-19 e apoio limitado ao recém-operacionalizado fundo de perdas e danos.
Os países africanos, em particular, estão acompanhando de perto as ações da UE, perguntando-se se anos de retórica grandiosa sobre justiça climática enfim vão se traduzir em ações decisivas.
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