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Copacabana perdeu 10% da faixa de areia nos últimos dez anos, segundo estudo da UFRJ

03/07/2025

O calor sempre foi sinal de bom tempo para ir à praia. Mas, à medida que o planeta esquenta, o calor ameaça varrer do mapa as praias da Zona Sul do Rio devido à elevação do nível do mar. Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) indica uma significativa redução da largura da faixa de areia e períodos de inundação prolongados nas próximas décadas no entorno da Baía de Guanabara.
O estudo analisou o impacto da subida do mar do Porto do Rio ao Leblon. Só a Praia de Copacabana perdeu, nos últimos dez anos, 10% da faixa de areia. Em Niterói, os cientistas fizeram estimativas da região portuária à praia e à lagoa de Piratininga. Também foi avaliada a situação dos manguezais da Área de Preservação Ambiental de Guapimirim, que poderão desaparecer até o fim do século, se for mantido o ritmo atual de elevação.
A projeção é que as praias do Leme e de Copacabana percam, em 2100, até cem metros da faixa de areia que tinha no início do século. Em Ipanema e no Leblon, as perdas são de aproximadamente 80 metros e, em Botafogo, até 70 metros. Isso sem somar o avanço esporádico do mar na maré alta ou em uma ressaca, por exemplo, que pode chegar a 60 metros mais para frente.
Segundo os cientistas, a orla da Baía de Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas estarão sujeitas a inundações maiores e, em alguns pontos, permanentes.
— O nível do mar mais elevado impedirá que a água de grandes chuvas escoe das áreas mais baixas, como a Lagoa e o entorno da Baía de Guanabara — afirma a primeira autora do estudo, Raquel Toste, pesquisadora do Laboratório de Métodos Computacionais (Lamce) da Coppe/UFRJ.
A pesquisa se baseou no cenário mais conservador — isto é, otimista — da elevação da temperatura média da Terra até 2100, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os oceanos se elevam principalmente devido à expansão térmica, mas também por conta do degelo de calotas polares.
Se o planeta aquecer dois graus Celsius acima da média do período pré-industrial (1850-1900), o mar subirá, em média, cerca de 75 centímetros. Parece pouco, mas é o suficiente para reduzir a um filete de areia as praias da orla carioca e fazer com que inundações causadas por chuvas, em vez de durarem horas ou dias, como hoje, possam permanecer por semanas, meses ou mesmo se tornarem permanentes — nesse cenário, os manguezais de Guapimirim podem submergir, e as inundações em Niterói serem acentuadas.
Nos últimos dias, a Europa tem sido um exemplo do que está acontecendo. Com temperaturas acima dos 40ºC em muitos dos países, o superaquecimento da bacia mediterrânea estava no domingo em torno de 26°C, quase 3°C acima da média.
O maior problema é que, no ritmo atual de aquecimento e emissões de gases do efeito estufa, o cenário otimista fica cada vez mais fora de alcance. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado globalmente na História pela Nasa e pelo Serviço Europeu do Clima Copernicus, e 2025 segue com médias muito altas. Até o fim do século, a Terra pode estar 4ºC mais quente.
Quatro graus também não parecem muito. A temperatura diária no Rio pode oscilar corriqueiramente da manhã para a noite mais do que isso. Porém, esses 4ºC incluem uma média que considera os polos gelados e os desertos mais quentes em todas as estações do ano. Localmente, representam um impacto severo.
— O impacto com a temperatura mais elevada pode, sim, ser muito maior — alerta Toste.
Esses dados estão no estudo intitulado “Dynamically downscaled coastal flooding in Brazil’s Guanabara Bay under a future climate change scenario” (“Inundações costeiras dinamicamente redimensionadas na Baía de Guanabara, no Brasil, sob um cenário futuro de mudanças climáticas”, em tradução livre), que foi publicado na revista Natural Hazards. Ele se baseou em modelagem numérica a partir de informações de relatórios do IPCC e modelos de condições hídricas regionais.
Toste explica que o mar não subirá de uma só vez, mas gradualmente. Em média, cerca de 7,5mm por ano. O maior efeito da elevação do mar, continua a pesquisadora, é agravar as consequências de ressacas, tempestades e marés altas. O que seria temporário pode se tornar permanente.
— Sabemos que todo o litoral do Rio é vulnerável, embora em diferentes graus nos bairros. Mas isso só pode ser medido com o uso de equipamentos como boias oceânicas e marégrafos, e levando-se em conta a topografia — diz Segen Estefen, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Oceano (Inpo).
A elevação do nível do mar no Rio também foi tema de uma carta de intenções assinada entre a prefeitura e o Inpo, em novembro do ano passado, para estudar e monitorar o litoral da cidade. O acordo permitirá que a cidade tenha monitoramento oceânico, com dados em tempo real de temperatura, correntes, ondas e elevação do nível do mar. O ponto central é identificar os pontos críticos e as medidas mais adequadas a serem adotadas.
— Todos esses dados serão fundamentais para que possamos nos preparar e evitar os efeitos das piores consequências. O monitoramento no Rio é pioneiro e será piloto para o restante do Brasil — conta Estefen.
O Inpo tem feito reuniões com representantes da gestão municipal para definir como será feito o monitoramento. O próximo passo é assinar um acordo de cooperação técnica, o que deve acontecer, de acordo com a prefeitura, neste segundo semestre. Por enquanto, está sendo estudada a implantação de um sistema de boias capaz de monitorar com antecedência uma grande ressaca e os impactos decorrentes dela. Outros dois sistemas vão monitorar os níveis de elevação do nível do mar e a temperatura do oceano para identificar ondas de calor.
— A onda de calor no oceano implica uma evaporação maior e formação de nuvens mais intensas que, ao encontrarem o continente, desabam num grande temporal. Tudo está interligado. Ter estes números bem aferidos vai possibilitar modelos de previsão confiáveis para definir ações de prevenção — explica Janice Trotte Duhá, diretora de Infraestrutura e Operações do Inpo.
Para isso, segundo ela, é preciso investimento em infraestrutura de pesquisa oceânica, principalmente para calibrar os instrumentos.
— Monitorar eventos climáticos no oceano demanda, antes de mais nada, boias, marégrafos e outros instrumentos bem calibrados, para que eles nos deem dados bem aferidos — reforça a diretora.
Também pesquisador do Inpo e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Christofoletti lembra que alguns lugares, como Santos (SP), recorreram a sacos de areia para frear o impacto das ondas na ponta da praia. Outros fazem uso das chamadas soluções baseadas na natureza:
— Depende do que a configuração do lugar pede. Regiões que têm recifes de corais, por exemplo, podem ser recuperadas e melhoradas, porque eles são eficientes para reduzir o impacto das ondas.

Fonte: O Globo

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