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Ilha de Maré, bairro mais negro de Salvador, está cercado por indústrias e pela crise climática; veja vídeo

24/04/2025

Em março de 1975, o então presidente Ernesto Geisel foi até Candeias, na baía de Todos-os-Santos, para inaugurar o porto de Aratu.
Ele celebrou a ocasião com o ex-governador Antônio Carlos Magalhães em um coquetel na antiga senzala da fazenda Wanderley Pinho, a pouco mais de 1 km do porto, parte de um museu hoje desativado para restauro.
Na margem oposta da baía, estava a comunidade de Bananeiras, na Ilha de Maré, bairro de Salvador criado pelos escravizados fugidos da mesma senzala.
Cinquenta anos depois, ela relata sentir que a previsão foi confirmada.
"Esse modelo que eles chamam de desenvolvimento chegou para acabar com a vida da gente", afirma. "Conheci meus bisavós todos. Eles morreram com mais de cem anos. Agora, a gente está perdendo crianças na comunidade para o câncer."
O porto de Aratu, projetado para atender às necessidades da área cada vez mais industrializada do Recôncavo Baiano, transporta ao ano uma média de 13 milhões de toneladas de produtos como fertilizantes, nafta, cobre, petroquímicos e gases, que, segundo pesquisas, têm contaminado a baía de Todos-os-Santos.
As mesmas suspeitas são direcionadas a um empreendimento mais antigo, a refinaria de Mataripe, que já foi chamada de RLAM (refinaria Landulpho Alves). Fundada em 1951, ela fica ao norte da Ilha de Maré, em frente à comunidade de Porto dos Cavalos.
"Tem um peixe chamado tainha. A gente pega, faz a moqueca, e está com gosto de gás. Falamos [à refinaria]: ‘Isso tem a ver com a falta de manutenção de vocês’", diz Marizelha.
Apesar de cercada pelo maior complexo industrial da Bahia, a população da Ilha de Maré, de cerca de 10 mil pessoas, continua sendo considerada uma comunidade negra rural.
Bairro com maior percentual de pardos e pretos de Salvador (97%, segundo o Censo de 2022), é formado em sua maioria por remanescentes de quilombo que sobrevivem da pesca artesanal, da mariscagem e do turismo.
A ilha só recebeu energia elétrica no final da década de 1980, água encanada no fim da década seguinte e ainda espera pelo saneamento básico.
Segundo lideranças da comunidade, a pesca e a mariscagem, fonte de renda para os moradores, foram afetadas por vazamentos de produtos químicos no mar. Ao problema, se soma o aquecimento das águas do oceano, processo agravado pela crise climática, que diminui a quantidade de mariscos.
A população também queixou-se ao Ministério Público estadual e ao Conselho Nacional de Direitos Humanos de doenças respiratórias, dermatológicas e aumento na incidência de câncer devido ao consumo de pescado que estaria contaminado.
"Eu perdi minha irmã, que tinha 49 anos. Ela morreu vai fazer quatro anos, com câncer de intestino", diz Marizelha, que atribui a doença da irmã à contaminação química.
"Infelizmente, a gente vive num país que não tem lugar para nós, pretas e pretos", afirma também. "A sensação é que continuamos vagando, procurando um lugar. Embora saibamos que nosso lugar é esse aqui, porque foi aqui que nos aquilombamos."
A comunidade pede há cerca de 20 anos um estudo mais abrangente que meça os níveis de metais no mar. A Acelen, administradora da refinaria, entrou em acordo com o Ministério Público Federal para tratar do assunto com os moradores.
Procurada pela Folha, a empresa afirma que ao assumir a refinaria de Mataripe realizou um estudo com a comunidade e mantém diálogo com suas lideranças. A empresa também diz que implementou projetos como o Acelera Pesca, para fortalecer a economia local e melhorar as condições de vida da população.

Conclua a leitura desta reportagem clicando na Folha de S. Paulo

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