10/12/2024
Em setembro de 2023, um filhote recém-nascido de baleia-jubarte encalhou na Praia de Manguinhos, na Serra, Grande Vitória. Enquanto lutava para voltar ao mar, a mãe do animal estava presente na costa do Espírito Santo, como se tentasse ajudar o seu bebê.
Entre fazer a eutanásia do mamífero ou salvá-lo, a equipe que participou do resgate escolheu a segunda opção. Essa opção teve um papel decisivo para a mudança nacional do protocolo de desencalhe desse tipo de animais em todo o Brasil.
Pelo protocolo utilizado na época, animais encalhados e em sofrimento aparente deveriam passar pelo processo de eutanásia. No entanto, após a identificação de boas condições de saúde no filhote - mesmo com variados ferimentos - e a presença da mãe na costa, os especialistas contrariaram o procedimento padrão.
Eles decidiram devolver o animal ao mar após um trabalho de salvamento que passou de seis horas.
O diretor-executivo do Instituto Orca, João Marcelo Nogueira, realiza o monitoramento de praias no litoral capixaba e estava presente na operação de resgate do filhote. Segundo o profissional, a decisão salvou a vida do "pequeno" animal e pode salvar muitos outros ao redor do Brasil.
“Estávamos com o protocolo na mão. Mas foi um atendimento atípico de um filhote que perdia muito sangue e tudo apontava para a eutanásia. Porém, a mãe apareceu e ele começou a reagir, o que é extremamente raro. Mesmo ciente da quebra do protocolo, vimos que ali existia uma chance de arriscarmos tudo para salvar a vida do animal”, lembrou João.
Segundo o gestor do instituto, além de reagir aos estímulos da equipe de resgate, o animal ferido vocalizava ao ouvir o contato da mãe, que ficou na região durante todo o processo como se estivesse ansiosa para ver o bebê novamente.
Dias depois ao resgate, o mamífero, batizado de Jurema por uma criança moradora da região, apareceu nadando com a mamãe jubarte. Um caso raro na espécie que surpreendeu os responsáveis pela iniciativa.
Durante a operação de resgate, o grupo fez a análise de sangue do filhote em laboratório, comprovando a boa saúde do animal e mostrando que a decisão de devolver o recém-nascido ao mar foi acertada.
O resultado positivo do litoral capixaba foi somado a casos parecidos no país, alterando o protocolo da Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB), documento que não esclarecia quem deveria tomar a decisão sobre a vida do animal.
O médico veterinário do Instituto Orca, Ian Augusto Gusman Cunha, explicou que este novo protocolo foi publicado em janeiro de 2024 pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA).
“Antes você seguia o protocolo a risca. Agora, deixou a mão da equipe veterinária fazer a decisão da eutanásia ou reintroução do animal. Essa equipe é composta pro diferentes profissionais, como veterinários, biólogos, entre outros", ponderou.
Por meio de um vídeo feito pelo grupo Amigos da Jubarte, o animal do sexo masculino resgatado foi visto nadando com saúde ao lado da mãe. Muitos "bebês" baleias acabam morrendo após o desencalhe por não encontrarem mais a figura materna, o que não aconteceu com o "Jurema".
“Infelizmente, em casos como esse [de desencalhe], já é esperado que o animal vá morrer ou que encalhe novamente. Esse foi um verdadeiro momento especial onde sentíamos que o filhote estava querendo viver, e foi o que aconteceu”, contou Thiago Ferrari, coordenador do projeto Amigos da Jubarte.
A identificação do animal três dias depois do resgate foi possível graças a imagens feitas por um dronemonitoramento e fotogrametria (técnica de extrair de fotografias métricas, a forma, as feições, as dimensões e a posição dos objetos nelas contidos captados), que reconheceram uma cicatriz em formato de meia-lua na nadadeira caudal do animal.
O filhote e a mão estavam a cerca de 4km de distância onde o desencalhe ocorreu.
A matéria na íntegra pode ser lida no g1
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