14/11/2024
Enquanto globalmente a concentração de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera aumentou mais de 10% em duas décadas, o Brasil teve uma redução de 12% em 2023. O país emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e). É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990.
Os dados são do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) e foram lançados na última quinta-feira (7/11). Eles mostram que a queda do desmatamento na Amazônia foi a responsável solitária pelo feito, que, ao menos por enquanto, põe o Brasil mais perto de cumprir suas metas climáticas para 2025.
De acordo com o SEEG, as mudanças de uso da terra – que respondem por 46% de todos os gases-estufa que o Brasil lançou na atmosfera em 2023, ou 1,062 GtCO2e – tiveram uma queda de 24% nas emissões. O controle do desmatamento na Amazônia, retomado em 2023 com a volta do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), foi o único responsável pela redução. Nos outros biomas as emissões por conversão de vegetação nativa aumentaram: 23% no Cerrado, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. No Pampa as emissões por conversão também caíram, 15%, mas o bioma responde por apenas 1% do setor.
Mesmo com a desaceleração na Amazônia, a devastação dos biomas brasileiros emitiu 1,04 GtCO2e brutas em 2023. Ela torna o Brasil o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Se fosse um país, o desmatamento do Brasil seria o oitavo maior emissor do planeta, atrás do Japão e à frente do Irã.
“A queda nas emissões em 2023 certamente é uma boa notícia, e põe o país na direção certa para cumprir sua NDC, o plano climático nacional, para 2025. Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes do que acontece na Amazônia, já que as políticas para os outros setores são tímidas ou inexistentes. Isso terá de mudar na nova NDC. O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente e que faça de fato uma transformação na economia”, afirma David Tsai, coordenador do SEEG.
“O Brasil está vendo o combate ao desmatamento na Amazônia surtir efeito. Mas, enquanto isso, o desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, acelera. Esse ‘vazamento’ não é algo novo e precisa de solução urgente para que continuemos tendo chances de atingir as metas de mitigação brasileiras”, aponta Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, organização responsável pelo cálculo de emissões de uso da terra no SEEG.
Os outros setores da economia também tiveram aumento nas emissões, na esteira do crescimento de 2,9% do PIB no ano passado. A agropecuária teve seu quarto recorde consecutivo de emissões, com elevação de 2,2%, devido principalmente a mais um aumento do rebanho bovino. A maior parte das emissões vem da fermentação entérica (o popular “arroto” do boi), com 405 milhões de toneladas em 2023 (mais do que a emissão total da Itália). A agropecuária respondeu por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado. Somando as emissões por mudança de uso da terra, a atividade agropecuária segue sendo de longe a maior emissora do país, com 74% do total.
O setor de energia teve um pequeno incremento de 1,1% em suas emissões, devido ao aumento do consumo de óleo diesel, gasolina e querosene de aviação no ano passado, que causaram, por sua vez, uma elevação de 3,2% nas emissões de transporte, que chegaram a seu recorde histórico (224 MtCO2e). Essa elevação mais do que compensou a redução de emissões devido à queda de 8% na geração de eletricidade por termelétricas fósseis no ano passado, no qual não houve crise hídrica para impactar a geração hidrelétrica. No total, energia e processos industriais emitiram 22% do total nacional, 511 MtCO2e.
No setor de resíduos as emissões cresceram 1%, para 92 MtCO2e. Historicamente, as emissões desse setor são marcadas pelo forte crescimento, que acompanha o aumento da população e, felizmente, avanços no acesso aos serviços de saneamento.
O SEEG também reporta neste ano emissões por queimadas. À medida que a crise do clima se agrava, o fogo é um fator cada vez mais importante no balanço de carbono do Brasil; como visto em 2024, mesmo com o desmatamento em queda as queimadas vêm aumentando, só que o carbono do fogo não associado ao desmatamento (que afeta, por exemplo, florestas em pé na Amazônia e na Mata Atlântica) não é contabilizado nos inventários nacionais.
O Observatório do Clima vem monitorando essas emissões desde 2018, a fim de reduzir a incerteza em suas medições, para que elas possam passar a ser contabilizadas. Neste ano também foram monitoradas, pela primeira vez, emissões de metano e de óxido nitroso (dois potentes gases de efeito estufa) por queima de pastagens.
Fonte: CicloVivo
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