12/08/2024
Alimentados pelo aquecimento das águas oceânicas, os furacões costumam ser chamados de máquinas a vapor da natureza.
Enquanto viajam sobre os oceanos, eles transformam o calor dos mares em imensas quantidades de energia cinética. Os furacões arrasam ilhas e inundam cidades costeiras, causando danos que exigem meses de trabalho de reparação.
Com as temperaturas dos oceanos quebrando todos os recordes, esses "motores" estão reagindo de forma proporcional, atravessando os mares em trajetos diferentes, reduzindo sua velocidade e passando a ser menos previsíveis e mais perigosos.
Surge agora uma corrida para entender exatamente como os furacões estão reescrevendo as regras e padrões que observávamos anteriormente. A esperança é aprender como podemos nos adaptar a essas mudanças.
Existe um ciclo sazonal distinto dos furacões no Oceano Atlântico: nenhum ou muito poucos no verão do hemisfério sul e o pico, em setembro.
Com as mudanças climáticas, seria esperado um início antecipado e mais forte da estação dos furacões, segundo o cientista climático e atmosférico James Kossin, aposentado da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).
"Os furacões apenas reagem ao ambiente onde são encontrados", afirma Kossin. "Se você fizer com que o ambiente em junho se pareça com o que seria normal em agosto ou setembro, os furacões simplesmente irão se comportar como se fosse agosto ou setembro. Eles não têm calendário."
As condições extraordinariamente quentes dos oceanos que estamos observando atualmente são causadas pelas mudanças climáticas, embora haja outros fatores que tornam esta estação especialmente ativa. Um deles é a atual transição entre os fenômenos El Niño e La Niña, que tende a aumentar a atividade das tempestades.
"Em um clima em aquecimento, o esperado seria que as águas atingissem a temperatura necessária para [a formação dos] furacões mais cedo ao longo do ano", afirma a professora Kristen Corbosiero, do Departamento de Ciências Ambientais e Atmosféricas da Universidade de Albany, em Nova York, nos Estados Unidos.
"Por isso, certamente será possível observar estações de furacões mais longas, surgindo mais cedo", segundo ela.
O início intenso e precoce da estação de 2024, com o furacão Beryl, está de acordo com o que os cientistas climáticos podem esperar com as mudanças climáticas. Mas é cedo demais para observar alterações consistentes da estação.
"Ainda não [é] algo que apareça claramente nos dados", afirma a brasileira Suzana Camargo, professora de física climática e oceânica da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Uma das tempestades mais fortes a se formar recentemente no Oceano Atlântico enfrentou condições que deveriam ter evitado a formação de furacões, segundo o professor de pesquisa da terra e meio ambiente Hugh Willoughby, da Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos.
Em setembro de 2023, no pico da estação no Oceano Atlântico, o furacão Lee se intensificou rapidamente, até se tornar uma tempestade categoria 5. Era época de El Niño, que geralmente tem efeito sufocante sobre as tempestades no Oceano Atlântico, devido ao aumento do vento cortante e da estabilidade atmosférica.
"O vento cortante é a morte para os furacões", segundo Willoughby.
O vento cortante vertical é a mudança da velocidade e da direção dos ventos em diferentes alturas. O alto vento cortante prejudica a estrutura dos furacões.
"Imagine a turbina de um motor", explica Willoughby. "O vento cortante elimina algumas das suas pás."
Por isso, a formação de um furacão categoria 5 como o Lee, apesar do considerável vento cortante, foi uma "surpresa desagradável".
O extraordinário aquecimento dos oceanos em setembro de 2023 pode ter, de alguma forma, superado a influência do vento cortante, segundo Willoughby, mas não se sabe muito claramente por quê. "Nós, teóricos, precisamos pensar a respeito."
A ampla maioria dos furacões que se formam no Oceano Atlântico não atinge seu potencial, segundo Willoughby.
Nas condições relativamente restritas da bacia do Atlântico, as tempestades, muitas vezes, chegam a terra antes de atingirem o pico da sua intensidade ou caem em alto vento cortante, que ajuda a dissipá-las.
"Mas, quando tudo dá certo, ela irá se intensificar rapidamente e atingir seu potencial de intensidade máxima, que é definido pela temperatura da superfície do oceano abaixo do furacão", explica Willoughby.
Existe "uma quantidade absurda de evidências" de que a velocidade da intensificação aumenta quando o oceano fica mais quente, fornecendo mais combustível para as tempestades, segundo Kossin. "Tudo se resume na quantidade de combustível disponível."
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