08/08/2024
A cientista brasileira Nemailla Bonturi encontrou na Estônia um terreno fértil para fundar, em 2022, junto do sócio Petri-Jaan Lahtvee (natural da Estônia e professor de Tecnologia de Alimentos e Bioengenharia na Universidade de Tallin – TalTech), a ÄIO, uma empresa-filha da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que atua no desenvolvimento de óleos a partir de resíduos, em especial a serragem.
A pesquisadora e empreendedora cursou seu mestrado e doutorado na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, onde teve os primeiros contatos com leveduras oleaginosas. Foi ainda no doutorado em Engenharia Química que Bonturi começou a fazer testes com hidrolisados do bagaço de cana em um projeto de pesquisa, que tinha parceria com a Universidade de Luleå, na Suécia, onde passou a usar resíduos de hidromassa de madeira para gerar óleos para produzir biocombustível.
Após o término do doutorado, em 2016, em meio a um cenário de instabilidade política e com crescentes cortes de recursos para a ciência no Brasil, a pesquisadora se mudou para a Estônia para atuar como docente e pesquisadora na Universidade de Tartu, trabalhando com fermentação com leveduras e microorganismos, e também no campo da biologia sintética, conhecimentos e experiência que adquiriu durante o período de doutorado no Brasil. Atualmente, além de ser uma das fundadoras da ÄIO, ela também é docente no Departamento de Química e Biotecnologia da Universidade de Tallinn (TalTech).
O foco da ÄIO é o desenvolvimento de óleos a partir de leveduras oleaginosas para as áreas de alimentação, ração animal e cosméticos. A matéria-prima usada pela empresa é composta basicamente por resíduos, como permeado de lactose, resíduos de produção de bebida, de produção de pães e confeitaria, resíduo de comidas (frutas e vegetais), além de açúcares extraídos de serragem, que é o maior resíduo gerado na Estônia, gerando um produto mais sustentável e competitivo.
“Para que o preço possa competir com óleo de palma, de coco ou gordura animal, ao invés de usarmos açúcares ou substratos puros, a gente faz o upcycling. A gente recicla resíduos de empresas ou da agricultura que, tecnicamente, teriam valor negativo, uma vez que as empresas precisam pagar para descartar esses resíduos”, explica Bonturi.
Além do preço, entra em cena também um importante fator de economia circular, como no caso da Valio, uma das maiores empresas de laticínios da Finlândia, e que também desenvolve linhas de produtos alternativos a carnes. A gigante dos laticínios, comenta Bonturi, tinha um problema com aproveitamento e descarte de grandes quantidades de permeado de lactose e foi aí que entrou a parceria com a ÄIO, que usa esse permeado de lactose para produzir os óleos que a Valio está testando nos produtos da linha vegetariana.
Todo o processo de produção é feito por meio da fermentação dessas leveduras, resultando numa produtividade que, ao depender do tipo de óleo, pode ser até dez vezes mais rápida e com diminuição em área desmatada de, pelo menos, dez vezes, de acordo com Bonturi. O processo para produção do óleo de palma, por exemplo, gera um grande impacto na biodiversidade com a extração das palmeiras.
O mesmo acontece no processo envolvendo a pecuária para o desenvolvimento de óleos de origem animal, cujo impacto é ainda maior. Já no processo da ÄIO, ao invés de hectares de terra, o óleo pode ser produzido em um reator de 30 metros, usando menos água, menos terra, menos recursos, gerando menos dióxido de carbono e, ainda, com redução do tempo de produção.
“Pensando em tempo, há uma variação, porque no caso do gado e da palmeira, que pode levar vários anos para o crescimento, no nosso processo, em uma semana já conseguimos produzir o óleo”, ressalta a pesquisadora.
A Europa pretende banir produtos originados de deflorestamento, o que abre oportunidades para soluções inovadoras, como da ÄIO. “Vemos que em qualquer questão geopolítica ou até mesmo climática, nossa segurança alimentar não está garantida. E uma das formas que temos para garantir uma produção sustentável é conseguir usar a fermentação, usar microrganismos para nos ajudar”, afirma.
De acordo com Nemailla, a tecnologia desenvolvida pela ÄIO tem se mostrado uma alternativa mais sustentável aos óleos de origem animal e vegetal, especialmente para o uso na indústria alimentícia devido ao potencial antioxidante maior do que em óleos de palma e de coco, mais parecido com o azeite de oliva nesse aspecto, além de ser livre de gorduras trans.
“Temos um chef trabalhando conosco, estamos desenvolvendo receitas para usar em alternativas de carne, alternativas para pães e confeitaria, chocolates, molhos. Além da sustentabilidade, o produto oferece outras propriedades de sabor, aroma e emulsificante. Já testamos em pães e doces, como cinnamon rolls, em comparação com outros óleos e manteiga, ele trouxe várias características. No chocolate, por exemplo, nós conseguimos simular o sabor da manteiga de cacau e do próprio cacau em pó”, diz Bonturi.
Devido às propriedades do óleo desenvolvido pela ÄIO, a aplicação pode se estender ainda mais, de acordo com Nemailla. A empresa está desenvolvendo aplicações de seus óleos na produção de ração animal e também para linhas de cosméticos, como sabonetes, cremes e uma ampla gama de produtos. “Em relação a ração animal e cosméticos, tecnicamente, queremos ver para fazer todos os licenciamentos necessários no ano que vem”.
A ÄIO compõe o ecossistema empreendedor Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicamp.
Fonte: CicloVivo
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