30/07/2024
Essenciais para o equilíbrio climático do planeta, os manguezais enfrentam ameaças conforme a urbanização avança em Santa Catarina —no passado, esses ecossistemas chegaram a ser aterrados para ocupação de cidades mais próximas do litoral.
Iniciativas tentam agora proteger e recuperar essa vegetação. Uma delas é o projeto Raízes da Cooperação, que, além de plantar mudas, conduz pesquisas científicas e faz ações de educação ambiental em Florianópolis e na vizinha Palhoça (SC).
As atividades do grupo iniciaram em 2023, com apoio da Petrobras, e mobilizam biólogos, educadores, estudantes e comunidades tradicionais.
Dilton de Castro, ecólogo e coordenador do projeto, afirma que hoje as zonas de mangues, mesmo sendo reconhecidas como APPs (áreas de preservação permanente) pelo Código Florestal Brasileiro, enfrentam efeitos da expansão urbana, que leva à supressão e poluição desses locais.
A falta desses ecossistemas, destaca Castro, tem consequências. Eles servem como uma proteção na área costeira contra a erosão, junto à vegetação de restinga, e também de habitat para peixes, caranguejos, mariscos e camarões.
"Se o país perde manguezal, as cidades litorâneas vão sofrer com as enchentes, com a elevação do nível do mar. Inundações já são realidades em Florianópolis e Palhoça. Então os manguezais, enquanto estratégia de mitigação para as mudanças climáticas, devem ser valorizados", diz.
Para evidenciar a importância desses ecossistemas, também pela alta capacidade de estoque de carbono, a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) instituiu o Dia Internacional para a Conservação de Manguezais, celebrado nesta sexta-feira, 26 de julho.
De acordo com a plataforma MapBiomas, o Brasil tinha, em 2022, uma cobertura de mangue de 1.038.359 hectares (quase o tamanho do Líbano) –em meados de 2000, eram 1.037.941 hectares, o que aponta uma estabilidade.
Do total, Santa Catarina possui 6.984 hectares de manguezais, ainda segundo o dado mais recente do MapBiomas. Florianópolis tem 1.423 hectares, o que representa, portanto, 20,37% da cobertura do estado.
Na capital e seu entorno, as pressões são enfrentadas mesmo dentro de locais com status de proteção. Castro lembra que cerca de 400 hectares de vegetação foram queimados no Parque Estadual Serra do Tabuleiro, no sul de Palhoça, no ano passado, numa tentativa de invasão das terras. Episódios como esse, diz, ilustram as ameaças aos mangues da região.
O Raízes da Cooperação atua nesse parque, além de na Estação Ecológica Carijós, na Resex (reserva extrativista) Pirajubaé, em Florianópolis, e na TI (terra indígena) Guarani Mbya Morro dos Cavalos, em Palhoça.
"Na Baixada do Maciambú, em Palhoça, nas imediações do Parque do Tabuleiro, o fogo tem sido utilizado como uma forma de se criar um factoide para especulação imobiliária, para que haja novas invasões, ocupações irregulares", diz o ecólogo.
Outra linha de atuação do Raízes da Cooperação é o desmate de árvores exóticas que são prejudiciais para a região. O principal alvo são os pinheiros (do gênero pinus, originária da Ásia e Europa), trazidos ao Brasil como estratégia de desenvolvimento, principalmente no Sul.
Como parte de um projeto econômico, os pinus ganharam mais incentivo para plantios florestais em grande escala a partir da década de 60. Apesar de o governo, na época, tentar controlar a reprodução, as árvores tomaram espaços de forma desordenada e ameaçam diversas vegetações nativas da mata atlântica, entre elas os mangues e as restingas.
Para combater esse problema, o projeto contratou uma empresa para fazer o corte das árvores nas ilhas dos rios da Madre e do Maciambú e no entorno do centro de visitantes do Parque da Serra do Tabuleiro.
Após a retirada, mutirões de voluntários plantam 30 espécies de restinga e de vegetação característica dos manguezais. Com 600 mudas já plantadas, a meta é chegar a 3.000 até o ano que vem.
"Quando uma floresta de pinus se desenvolve, tem poucas árvores embaixo dela, devido à sombra. E a restinga necessita de um ambiente muito ensolarado, com bastante luminosidade. Com a presença do pinus, ela acaba sendo suprimida de uma forma bem agressiva", explica a bióloga Mônica Gomes, integrante do projeto.
Paulo Pagliosa, professor de biologia e oceanografia na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), destaca a urgência dessas ações em meio à crise climática, uma vez que, por estar protegido na transição da água doce para a salgada, com pouco oxigênio e baixa circulação, o ambiente do manguezal é "sumidouro de carbono".
"No manguezal, a matéria orgânica sedimenta e cria um solo orgânico rico, composto por raízes, galhos e folhas que não são decompostos rapidamente devido à baixa oxigenação. Esse processo lento de decomposição resulta em um solo rico em material orgânico, estocado ao longo de centenas e milhares de anos", diz ele, que é responsável pela pesquisa científica e pela educação ambiental dentro do projeto.
Segundo o educador, na ilha de Santa Catarina e na região do entorno foram criados muitos ambientes costeiros a partir de aterros, que tem possibilitado uma forma de reabilitação de manguezal inédita no Brasil.
Agora, amostras desses novos manguezais têm sido analisadas em laboratório para avaliar a sua capacidade de armazenamento de carbono. A ideia é entender se o estoque nessas novas áreas é igual ao daquelas onde o mangue existe há muito tempo.
Fonte: Folha de S. Paulo
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