30/07/2024
Quando o Starship de Elon Musk —o maior foguete já fabricado— decolou com sucesso no mês passado, o lançamento foi aclamado como um grande salto para a SpaceX e o programa espacial civil dos Estados Unidos.
Duas horas depois, uma equipe da SpaceX, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA (FWS, na sigla em inglês, braço ambiental do governo federal) e de um grupo de conservação começou a vasculhar o frágil habitat de aves migratórias que cercava o local de lançamento, uma vez que as condições foram consideradas seguras.
O impacto era óbvio.
O lançamento havia desencadeado uma enorme explosão de lama, pedras e destroços nas terras públicas que cercam o complexo espacial de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 16,3 bilhões) de Musk.
Pedaços de metal e material de isolamento se espalharam pelas planícies de areia ao lado de um parque estadual. Em outro lugar, um pequeno incêndio havia se iniciado, deixando uma mancha carbonizada nas pastagens do parque —resquícios da decolagem que queimou 3.401 mil toneladas de combustível.
O mais perturbador para um membro do grupo foi a mancha amarela no solo no mesmo local onde um ninho de pássaro estava no dia anterior. Nenhum dos nove ninhos registrados pelo programa sem fins lucrativos Coastal Bend Bays & Estuaries antes do lançamento sobreviveu intacto.
A gema do ovo agora manchava o chão.
"Os ninhos foram todos bagunçados ou têm ovos faltando", disse Justin LeClaire, biólogo da Coastal Bend, a um inspetor do FWS enquanto um repórter do New York Times observava nas proximidades.
O resultado faz parte de um padrão bem documentado.
Em pelo menos 19 ocasiões desde 2019, as operações da SpaceX causaram incêndios, vazamentos, explosões ou outros problemas associados ao rápido crescimento do complexo de Musk em Boca Chica, no Texas. Esses incidentes causaram danos ambientais e refletem um debate mais amplo sobre como equilibrar o progresso tecnológico e econômico com a proteção de ecossistemas delicados e comunidades locais.
Essa tensão natural é intensificada pela influência de Musk sobre as aspirações espaciais dos EUA. Membros do Congresso e altos funcionários da administração Biden têm demonstrado preocupação de forma privada e pública com a extensão do poder de Musk, à medida que o governo dos EUA depende cada vez mais da SpaceX para operações espaciais comerciais e para seus planos de viajar para a Lua e para Marte.
Uma análise das táticas de Musk no sul do Texas mostra como ele explorou as limitações e os objetivos das várias agências mais preparadas para fiscalizar a expansão feroz do complexo industrial que ele chama de Starbase.
Aqueles encarregados de proteger os recursos culturais e naturais da área —particularmente os funcionários do Serviço de Pesca e Vida Selvagem do Departamento do Interior e do Serviço de Parques Nacionais— perderam repetidamente para agências mais poderosas, incluindo a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), cujos objetivos estão entrelaçados com os de Musk.
No fim das contas, a ecologia do sul do Texas ficou em segundo plano em relação às ambições da SpaceX —e do país.
Executivos da SpaceX recusaram repetidos pedidos da reportagem para comentar o assunto. Mas Gary Henry, que até este ano atuou como conselheiro da SpaceX em programas de lançamento do Pentágono, disse que a empresa estava ciente das reclamações dos funcionários sobre o impacto ambiental e estava comprometida em abordá-las.
Kelvin B. Coleman, o principal funcionário da FAA responsável pelas licenças de lançamento espacial, disse estar convencido de que sua agência estava cumprindo seu dever, que é promover viagens espaciais com segurança.
"Soprar detritos em parques estaduais ou terras nacionais não é o que prescrevemos, mas o que importa é que ninguém se machucou, ninguém se feriu", disse Coleman em entrevista. "Certamente não queremos que as pessoas sintam que estão sendo atropeladas. Mas é uma operação muito importante que a SpaceX está conduzindo. É realmente importante para o nosso programa espacial civil."
O conflito no sul do Texas provavelmente terá repercussões nos outros locais de lançamento da SpaceX na Califórnia e na Flórida, à medida que a empresa aumenta a frequência de seus lançamentos e, com o Starship, o tamanho de seus foguetes.
Este relato é baseado em mais de 10 mil páginas de e-mails e outros registros estaduais e federais tornados públicos por meio de pedidos de acesso à informação, ações judiciais e divulgações federais, bem como entrevistas com mais de 20 de autoridades locais, federais e estaduais que supervisionam o projeto.
Esses registros revelam como a SpaceX ao longo do tempo expandiu suas operações de fabricação e lançamento de foguetes no sul do Texas para uma escala muito maior do que Musk havia prometido inicialmente.
A leitura completa desta matéria pode ser lida na Folha de S. Paulo
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