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Cratera maior que o Maracanã aberta debaixo d´água é alvo de ação em SP

23/07/2024

“Muitos pescadores, assim como eu, desistiram”. A fala é de Daniel Freitas, de 50 anos, que mudou de profissão após a abertura da cava subaquática de Cubatão (SP). Ao g1, o ex-pescador afirmou que a decisão foi motivada pela poluição e domínio do espaço pelas empresas privadas. O passivo ambiental causado pela obra rendeu uma nova ação judicial, ainda sem decisão.
A cava subaquática é uma cratera aberta debaixo da água para despejo de sedimentos, lixo e materiais contaminados. Feita no estuário, entre Santos e Cubatão em 2017, ela é maior que o Estádio do Maracanã, com dimensões de 400 metros de diâmetro por 25 metros de profundidade, e está preenchida por cerca de 2,4 bilhões de litros de sedimentos.
A cava está atualmente fechada, mas além da falta de peixes, os moradores reclamam de mau cheiro e de poluição no local. Já o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e o Ministério Público Federal (MPF) apontam outros problemas relacionados à cratera: aumento da profundidade, a licença prévia vencida, a abertura da cava sem a autorização da União, além do prejuízo aos pescadores artesanais e o descarte de sedimentos de maneira incorreta.
No Casqueiro, bairro de Cubatão, a cava foi aberta e escavada sob responsabilidade da Usiminas e da VLI, empresa de logística da Vale, para despejo de material retirado durante a limpeza do Canal de Piaçaguera, ou seja, areia, lodo e outros sedimentos.
A VLI opera o Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam) em Santos. A obra beneficia o acesso marítimo aos terminais localizados nessa região do porto, pelo Canal de Piaçaguera, que agora pode receber navios de maior porte para movimentação de cargas.
O petroleiro e economista Leandro Araújo, de 43 anos, cresceu na comunidade da Vila dos Pescadores, que fica a 2,5 quilômetros da cava subaquática. Durante muito tempo, ele observou o pai vendendo caranguejo pelas estradas do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI).
Assim que recebeu a notícia sobre a abertura da cratera, o ativista se mobilizou para ocupar a coordenação do Movimento Contra a Cava Subaquática. Sete anos após a abertura do buraco, ele segue desaprovando o empreendimento.
“A olhos nus a gente não enxerga o poluente, e poluição não respeita fronteira. Embora a cava esteja em Cubatão, ela fica na divisa com Santos”, afirmou.
À época, a empresa responsável instalou uma tela submersa na área da cava para impedir que os sedimentos deixassem a área delimitada para o estuário. Apesar disso, muitos pescadores artesanais afirmam que a cava afugentou e piorou a qualidade dos peixes.
O cubatense Daniel desistiu da paixão pela pesca profissional, comprou um carro utilitário e agora trabalha com frete. “Eu cacei outro ramo de trabalho porque a pesca, antes dessa poluição toda, era satisfatória para a gente. Hoje não mais. A gente gasta muito para poder colocar combustível no barco, manutenção do motor, para não ter uma pesca com sucesso”, disse ele.
Maurício Santos, de 48 anos, também era pescador quando a cava subaquática começou a ser aberta. Ele disse ao g1 que a dragagem fez com que a rota para buscar os siris mudasse, prejudicando sua rotina.
“Prejudicou muito pescador. Tem pescador que nem podia pescar mais naquele local porque não tinha peixe. Tinha sumido tudo. Tinha que se deslocar para outro lugar mais longe, gastar dinheiro e mais gasolina, mais tempo”, contou ele, que, atualmente, trabalha como montador de andaime.
O jovem Anderson Firmino, de 24 anos, foi outro a sentir a diferença na pesca de siris. Ele contou ao g1 que teme que o leito do mar esteja contaminado em função do depósito de materiais. “Teve dia que eu só ia mesmo para pagar a gasolina [...]. Infelizmente, a gente teve que mudar de ponto".
Marly Vicente, representante do Instituto Socioambiental e Cultural da Vila dos Pescadores, disse que “realmente, o impacto é real". "Demora um pouquinho para você perceber os efeitos, mas você vai percebendo”, disse a líder do movimento.
Mesmo depois que a cava foi recapeada – coberta –, moradores se sentem prejudicados pela construção. Ainda em 2017, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e o Ministério Público Federal (MPF) pediram à Justiça a suspensão da atividade, mas a solicitação foi indeferida.
O assunto foi retomado judicialmente em outubro de 2023, quando os órgãos estadual e federal ingressaram com nova ação civil pública pedindo a responsabilização da Usiminas, da VLI, da Ultrafértil – subsidiária da VLI – e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que autorizou a operação.
O objetivo da ação civil pública, segundo a petição inicial obtida pelo g1, é evitar a permanência do dano ambiental perpetrado no estuário, que é um bem da União e uma Área de Preservação Permanente (APP). O processo está em fase de instrução e ainda não há decisão.

A reportagem na íntegra pode ser lida no g1

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