23/07/2024
Em uma fazenda de 350 hectares, o atrativo principal é um tipo de areia que canta – e isso não é lenda! O lugar abriga também um ecossistema que visa preservar nascentes de rios, flora da mata atlântica e do cerrado, com produção orgânica de alimentos e uso de energia solar. Essa união de fatores positivo se destaca no roteiro turístico de Brotas, cidade paulista a 250 km da capital, famosa por seus rios e cachoeiras.
O Hotel Fazenda Areia que Canta é a parte mais visível dos projetos sustentáveis desenvolvidos na área pela família Farsoni. De origem italiana, os Farsoni chegaram ao Brasil em 1887 e fincaram raízes em Brotas. Trabalharam em diversas atividades até conseguirem sua própria terra, onde criaram gado, porcos, galinhas e cultivavam café, milho, arroz e feijão.
Hoje denominada Fazenda Tamanduá, a propriedade é administrada pela quarta geração da família, responsável pela criação do hotel que acaba de completar 30 anos. A nascente que dá nome ao empreendimento foi descoberta nos anos 40. Ela faz parte do aquífero Guarani e tem uma areia rara que, friccionada, emite sons semelhantes ao de uma cuíca ou ao canto de algum pássaro.
Muito branca e fina, a areia é formada por grãos de quartzo, material usado para produção de vidro. O fenômeno ocorre porque o fluxo potente da água em brotação faz os grãos girarem, causando um atrito entre eles, que se tornam arredondados e finos, como micro bolinhas de gude. Ao serem friccionados, produzem sons.
“Nós nadávamos muito nesse lago quando éramos crianças”, conta Evandro Farsoni, um dos três membros da quarta geração da família, que já prepara a quinta geração para assumir o negócio futuramente.
Foi a necessidade da preservação da nascente que acelerou vários outros projetos de conservação e sustentabilidade na “fazenda hotel”, como Evandro prefere chamar.
Começou com a limitação do número de pessoas que nadavam no local e a obrigatoriedade de uso de coletes de flutuação para que a areia não fosse pisoteada. A partir de 2000 foi proibida a entrada na lagoa, especialmente no olho d’água, onde a água brota. Há exceção controlada para uma pequena parte do lago para fotos de divulgação do local.
“Decidimos mudar o sistema: a pessoa vai vir, vai olhar a nascente, que não é uma piscina e por isso não se pode entrar”, diz Eloisa Farsoni, uma das irmãs de Evandro. “Se as pessoas quiserem nadar, temos outros lagos, rios e piscinas”.
O foco da família passou a ser a proteção dos mananciais ao redor da ‘Areia que Canta’ e das outras nascentes da fazenda. “Hoje estamos com quase 15% a menos de chuvas que tínhamos na década passada e isso interfere muito nas nascentes e queremos preservá-las”, completa Evandro.
A fazenda mantém de 20% a 25% de Áreas de Preservação Permanente (APP) próximas aos rios e Reservas Legais (LR) em terrenos de declividade. Por lei, não é permitida qualquer alteração nessas áreas, nem sequer retirar uma árvore.
Outra ação foi o plantio de 30 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica e do Cerrado. Entre as espécies plantadas estão jatobá, sibipiruna, cedro, cabreúva, angico, canafístula e ingá, “cada uma no seu lugar, de acordo com o tipo de solo necessário, como arenoso ou mais úmido”, explica Evandro. As novas árvores compartilham áreas com espécies centenárias, como dois jatobás na trilha para a Areia que Canta.
A partir de 2020, a fazenda passou a receber energia fotovoltaica e hoje conta com 320 placas em três parques solares que geram de 12 a 14 mil kilowatts de energia por mês, suficientes para abastecer de 80% a 90% do consumo do hotel.
Ao lado do restaurante, uma grande horta orgânica iniciada por Andrelina, única representante da terceira geração dos Farsoni, abastece a cozinha com grande variedade de verduras e legumes. Ainda hoje, aos 79 anos, é ela quem administra a horta e, para quem tiver sorte, prepara especialidades com o que colhe em um fogão à lenha na mini cozinha montada ao lado da plantação.
Há muitos anos, segundo informa Evandro, a fazenda já tem tratamento de água e esgoto e separa todo o material reciclável, que é retirado por um morador da cidade e enviado para reciclagem. O resto orgânico é entregue a um vizinho que cria porcos e outros animais.
Tudo o que o hotel necessita e não tem produção própria é adquirido de produtores locais, “para ajudar a gerar renda e a desenvolver o ecoturismo na região, contribuindo assim com a economia local”, afirma Evandro. A maioria dos 120 funcionários também é da região. Cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) de Brotas vêm do ecoturismo.
Hoje, a Fazenda Tamanduá produz eucalipto para uso no hotel e venda externa, cana-de-açúcar em área arrendada para uma usina, laranja e bovinos, tudo com minimização de uso de adubos químicos, uso de roçadeiras em vez de grades para reduzir impactos no solo e gado sem confinamento, para cria e recria.
A ideia de construir o Hotel Fazenda Areia que Canta nasceu da iniciativa de Andrelina e seu esposo José, já falecido, de atender melhor as pessoas que frequentemente visitavam o local para ver a nascente. O projeto começou em 1994 com um simples serviço de café, bolo e suco oferecido aos turistas que pagavam R$ 5 de entrada.
Três anos depois foi aberto um pequeno restaurante, ampliado mais tarde e hoje com capacidade para servir 400 refeições por período. Em 2000 foram inaugurados os primeiros 12 apartamentos para hospedagem. Hoje são 82, todos com amplo espaço e conforto. O hotel fazenda inclui salão de eventos, piscinas abertas, aquecidas e naturais, spa, salas de jogos, quadras esportivas, museu, capela e loja de produtos regionais.
A trajetória desde a chegada, há mais de um século, do primeiro Farsoni ao Brasil, Césare, que veio de Gênova aos 26 anos com esposa e dois filhos, a história cinco gerações da família e os 30 anos do hotel fazenda estão no recém-lançado livro “Areia que canta, 30 anos de histórias e memórias”, do escritor Carlos Minuano. O livro está a venda no hotel e na Livraria Capisce, em Brotas, que podem fazr envio pelos correios.
Fonte: CicloVivo
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