
18/11/2025
Os países desenvolvidos devem US$ 97,5 trilhões (R$ 516 trilhões) ao mundo por lançarem mais carbono do que teriam direito na atmosfera. É o que aponta um estudo produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento.
A pesquisa considerou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que a humanidade poderia emitir sem ultrapassar a meta de conter o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial, calculada em 2,7 trilhões de toneladas de gases pelo painel científico das Nações Unidas para o clima.
Em seguida, estimou quanto desse orçamento de carbono ainda estava disponível após 1990 e dividiu o valor entre todas as nações, de forma proporcional ao tamanho da população. Assim, foi definida uma cota de emissões para cada país: aqueles que rompem o limite entram no vermelho.
Para precificar a "dívida climática", o estudo se baseou no custo social do carbono. Essa métrica aponta que cada tonelada de CO2 gera US$ 417 em prejuízos econômicos e sociais causados pelas perdas e danos por eventos extremos, por exemplo.
Os Estados Unidos teriam direito a emitir 57,1 bilhões de toneladas de CO2 a partir de 1990, conforme sua parcela do orçamento global de carbono. O país lançou 183 bilhões de toneladas de gases na atmosfera, mais que o triplo do permitido no período, gerando uma dívida calculada em US$ 46,6 trilhões —a maior entre todas as nações.
O Japão ocupa a segunda posição do ranking, bem abaixo dos EUA, e deve US$ 9,4 trilhões. O Brasil aparece na terceira colocação, com uma "dívida climática" de US$ 8,7 trilhões.
Rodrigo Fracalossi, pesquisador do Ipea e autor do estudo, afirma que as nações mais desenvolvidas seguem como as maiores culpadas pelas mudanças climáticas. "Mas o Brasil é uma exceção importante, existe uma responsabilidade histórica em ser uma fonte do problema, principalmente por desmatamento."
Segundo a pesquisa, o país emitiu 59,1 bilhões de toneladas de CO2 desde 1990 e usou 160% do orçamento de carbono ao qual tinha direito, estimado em 36,8 bilhões de toneladas .
A China, maior emissora atual de gases-estufa, ainda não contraiu uma "dívida climática". A explicação para isso é que a enorme população do país, acima de 1 bilhão de pessoas, eleva o orçamento de carbono para 242,8 bilhões de toneladas, sendo que 78,6% dessa cota já foi gasta.
"Quanto mais tarde um país se desenvolve, menor o impacto das emissões, porque houve um aumento na eficiência energética ao longo do tempo", diz Fracalossi, que também é professor de relações internacionais na Universidade de Southampton, no Reino Unido.
O artigo sugere a taxação de bilionários e o desenho de um imposto mínimo sobre os lucros de empresas multinacionais para que os países possam quitar suas dívidas.
O pesquisador afirma que a maior contribuição do estudo é qualificar o debate sobre a justiça climática. "Uma coisa é discutir em termos gerais a injustiça, que é muito importante do ponto de vista puramente filosófico, mas quando se coloca um número e compara com o que está sendo prometido, dá um senso maior da escala do problema."
A COP29, conferência das Nações Unidas realizada em 2024, definiu a meta de mobilizar US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático aos países em desenvolvimento, com o objetivo de chegar a US$ 1,3 trilhão até 2035. O valor mais ambicioso equivale a 1,43% da dívida das nações desenvolvidas, conforme o estudo.
O tema segue como um entrave nas negociações, inclusive na COP30, que acontece em Belém.
De acordo com Fracalossi, a "dívida climática" não deve ser vista como uma punição, e sim como uma compensação. O Brasil, por exemplo, poderia quitar seu passivo ambiental ao promover o reflorestamento de áreas degradadas.
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