
06/11/2025
Era uma possibilidade e, agora, virou certeza. O planeta vai exceder o limite de 1,5°C de aquecimento global, o paradigma do Acordo de Paris. Ainda é possível terminar o século com os termômetros de volta à marca acordada há dez anos, mas essa é uma tarefa cada vez mais complicada.
Relatório anual do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), lançado nesta terça-feira (4), às vésperas da COP30, em Belém, mostra um mundo com metas climáticas mais frágeis e um cenário político complexo para o enfrentamento do problema. E, na descrição da ONU, "na direção de uma séria escalada de riscos climáticos e prejuízos".
As emissões cresceram 2,3% no último ano, alcançando um novo recorde, 57,7 gigatoneladas de CO² equivalente, e derrubá-las será um esforço sem precedentes.
As emissões em 2030 teriam que cair 25% em relação ao verificado em 2019 para segurar o aquecimento em 2°C no fim do século; e cair 40% se o objetivo fosse a marca original de 1,5°C. "Embora os planos climáticos nacionais tenham alcançado algum progresso, estão longe de ser rápidos o suficiente", afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma.
"Ainda é possível, mesmo que a margem seja pequena. Já existem soluções comprovadas. Desde o rápido crescimento das energias renováveis baratas ao combate das emissões de metano, sabemos o que precisa ser feito. Agora é o momento de os países se empenharem a fundo e investirem no seu futuro com ações climáticas ambiciosas."
O relatório aponta, no entanto, que apenas 60 signatários do Acordo Paris divulgaram suas NDCs (contribuições nacionalmente determinadas, na sigla em inglês) até 30 de setembro passado. Esse era o prazo pedido pela ONU para que os países divulgassem suas metas climáticas visando 2035.
Até a Europa, antes bastião normativo do setor, sofre para encontrar um denominador comum entre seus Estados-membros, mais preocupados em flexibilizar os acordos já existentes, pressionados por fatores da política e da economia domésticas.
Segundo os cálculos do Pnuma, a implementação de todas as NDCs reduziria as emissões globais verificadas em 2019 em cerca de 15% até 2035 —isso ignorando o fato de que os EUA abandonaram o tratado. Mais uma vez, o projetado está muito longe dos objetivos: a redução teria que ser de 35% para manter o planeta em 2°C; já o corte em 2035 deveria ser de 55% se a ideia fosse segurar o aquecimento em 1,5°C.
Os cenários pouco otimistas fazem o relatório concluir que a temperatura global excederá a marca de 1,5°C, mesmo que temporariamente. É o chamado "overshoot", termo que já frequenta o debate climático há anos, mas agora ganha especial atenção: se já era complicado não deixar os termômetros subirem, como será fazê-los descerem.
"Não se enganem, qualquer período de "overshooting" trará consequências dramáticas, com vidas perdidas, comunidades deslocadas e desenvolvimento revertido", declarou António Guterres, secretário-geral da ONU. "Temos, porém, soluções para tornar esse período menor e o mais seguro possível."
Pelas NDCs atuais, o mundo chegará a 2100 com um aquecimento global de 2,8°C. O cenário é melhor do que o verificado no ano passado, quando a projeção chegava a 3,1°C. A comparação, no entanto, é enganosa. Pelo menos 0,1°C de redução se deve a atualizações metodológicas e ao menos outro 0,1°C se perderá com a saída dos EUA do acordo. Ou seja, as metas, na prática, não estão fazendo diferença.
Ainda que as diferenças pareçam pequenas, estudos mostram que apenas uma fração de grau Celsius já faz enorme diferença na frequência de eventos climáticos extremos. O acréscimo na temperatura global de 0,3°C verificado de 2015 a 2024 tornou dez vezes mais prováveis as ondas de calor na Amazônia, por exemplo.
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