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Após seca e queimadas, moradores de quilombo no pantanal têm dificuldade para manter sustento

19/08/2025

O quilombo Águas do Miranda, em Bonito (MS), hoje com cerca de 35 famílias, se formou às margens do rio que dá nome à comunidade. A relação com a água vai além da paisagem, o rio é fonte de renda, com o turismo e a pesca artesanal, e os peixes são a base da alimentação local. No entanto, as secas severas e o fogo de 2020 e 2024 atravessaram a vida dos moradores que ainda tentam se recuperar dos prejuízos.
"Hoje, se alguém disser que vive da pesca está mentindo. O peixe tá escasso, e o turismo também caiu muito", conta Ivanice Rosa, 45, moradora da região há mais de 20 anos.
Ivanice, que vive com suas três filhas e três netas, é professora de educação infantil na escola que atende o quilombo. Ela já trabalhou como pescadora e piloteira e conta ter criado as filhas na beira do rio com o ex-marido. A família costumava acampar nas margens para aproveitar a pesca durante a noite.
O desmatamento e o assoreamento do rio, porém, fizeram com que a quantidade de peixes diminuísse e, com isso, o ganho de quem trabalha com a pesca foi menor ano após ano. O quadro se agravou após as queimadas do último ano, quando os moradores começavam a se recuperar dos prejuízos deixados pelo fogo de 2020.
Em 2024, o pantanal teve 2,6 milhões de hectares queimados, cerca de 17% da área total do bioma, segundo dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os números só ficam atrás dos incêndios de 2020, que queimaram 3,6 milhões de hectares.
A alternativa para quem mora no quilombo é complementar a renda com outro tipo de trabalho fora da comunidade. Para as mulheres, a situação é ainda mais complicada porque, muitas vezes sem renda própria, elas são as responsáveis por fazer a gestão dos recursos escassos.
Este é o caso de Eliane de Santos Ribeiro, 38. Dona de casa, ela mora na comunidade há 15 anos com o marido e os cinco filhos. Ela relata que, apesar da melhora do nível da água no rio, o ano todo foi de prejuízos.
"Foi ruim desde o começo do ano passado, e é com o trabalho no rio que entra dinheiro, entra um alimento. E, se não entra, a gente ainda tem conta para pagar: água, luz, aluguel", diz.
As mudanças no ambiente limitam a rotina dos ribeirinhos e levam à perda de espécies de plantas e animais com os quais convivem e utilizam para a subsistência, explica Zoraida Fernandez, pesquisadora em saúde pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Mato Grosso do Sul.
"O nível dos rios diminui e o acúmulo de matéria orgânica e das cinzas, produto das queimadas, acaba gerando contaminação das águas", diz.
A quantidade de oxigênio na água cai e, por isso, muitos peixes morrem. Com o curso d´água contaminado, aumenta o risco de contrair doenças gastrointestinais, o que deixa a comunidade ainda mais exposta à insegurança alimentar.
Zoraida ressalta a importância de ações do poder público que atendam as demandas das comunidades tradicionais, pois elas dependem diretamente das opções que o bioma oferece e, com a perda dos recursos naturais, as pessoas podem ser obrigadas a deixar suas casas, em busca de melhores condições de vida, "muitas vezes perdendo os seus costumes e até seu conforto".
Evanir Rosa Cardoso, 42, membro da associação de moradores da comunidade, conta que o marido, Ederson, pescador e piloteiro, precisou buscar trabalho fora do quilombo. "Ele largava do rio e ia embora sozinho, procurar serviço de construção para a gente poder manter a casa."
Na época de cheia, lembra, a família costumava se preparar para os meses em que a pesca artesanal fica proibida, durante a piracema, para proteger o período de reprodução dos peixes, de novembro a fevereiro —quando pescadores artesanais recebem o Seguro Defeso, benefício no valor de um salário mínimo.

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