
12/08/2025
Um dos símbolos da Argentina, a geleira Perito Moreno permaneceu estável por cerca de cem anos, mas agora enfrenta um recuo que pode se tornar irreversível e preocupa os pesquisadores.
Patrimônio mundial da Unesco desde 1981, ela pode ter um destino semelhante ao de outras da região, como Upsala e Viedma, que também estão recuando rapidamente, seguindo um padrão global provocado pelas mudanças climáticas.
A geleira com cerca de 250 km² está no Parque Nacional Los Glaciares, na Patagônia, e é um dos destinos turísticos mais populares do mundo.
Em 2024, 706 mil ingressos foram vendidos para o parque, e os brasileiros representam a maioria entre os visitantes estrangeiros.
Ao longo do ano, quase 90% de todos os visitantes que chegam à cidade de El Calafate, a porta de entrada do parque nacional, vão até o Perito Moreno, segundo dados da Secretaria de Turismo do município. Os desprendimentos de gelo se tornaram atrações populares.
Historicamente, a geleira desafiou a tendência global de recuo. Os especialistas atribuem esse comportamento ao formato do vale onde ela está, que ajuda a manter um equilíbrio entre acumulação e derretimento.
Entre 1985 e 2005, ela teve mudanças menores que 1%, mas nos últimos anos a perda de gelo se tornou significativa, segundo o Inventário Nacional de Geleiras argentino, algo que os cientistas relacionam com os efeitos do aquecimento global.
Diferentes pesquisadores, por meio de sistemas de captura de imagem, apontam uma perda significativa. Segundo uma estimativa do glaciologista Pedro Skvarca, apresentada em uma conferência em maio, nos últimos sete anos, ela perdeu quase 2 km² de gelo.
Um estudo publicado nos últimos dias na revista Communications Earth & Environment, a partir de uma pesquisa liderada pelo geógrafo alemão Moritz Koch, alerta que esse enfraquecimento pode levar a uma perda de estabilidade estrutural da geleira.
O argentino Lucas Ruiz, também especialista em geleiras, observa que Perito Moreno não mostrou sinais de recuo até 2018, mas a situação mudou rapidamente. Desde então, a perda de massa está acelerando, e os eventos de desprendimento estão se tornando mais frequentes e maiores.
"Em geral, durante o inverno, ela começa a avançar lentamente até atingir o máximo de área e, no verão, o lado frontal recua até os dias ficarem mais frios, e assim sucessivamente, todos os anos", conta o pesquisador do Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas).
No inverno de 2018, ela fechou o fluxo de água e o nível do lago subiu. No entanto, após esse avanço, os especialistas começaram a notar mudanças, especialmente na margem norte. Em 2022, ela não conseguiu retornar à sua posição anterior, e isso se repetiu em 2023, 2024 e 2025. O lado norte, em especial, que é mais afastado das áreas turísticas, está encolhendo, relata o pesquisador.
A equipe de Ruiz começou a estudar não apenas o que estava acontecendo com a mudança na posição da frente da geleira, mas também a coletar informações sobre a velocidade, as mudanças na espessura, a quantidade de gelo e neve que derrete na superfície, a quantidade de neve que se acumula no topo.
"O que sabemos é que o clima mudou e há menos acúmulo de neve no inverno. Por outro lado, os verões têm sido muito quentes, especialmente os últimos, e isso favorece o derretimento. Portanto, da perspectiva das mudanças climáticas, o que se projeta para o futuro não favorece o ganho de massa e a manutenção da estabilidade da geleira", diz.
As temperaturas no verão têm aumentado, com uma elevação de 1,2°C nos últimos 30 anos, acelerando o derretimento do gelo. Embora as geleiras sejam dinâmicas, a taxa atual de recuo indica uma tendência preocupante, e os monitoramentos também apontam uma redução da espessura do gelo.
Conclua esta leitura acessando a Folha de S. Paulo
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