
29/05/2025
No cerrado, 20 milhões de hectares de vegetação nativa foram atingidos por incêndios que começaram em áreas desmatadas, entre 2003 e 2020 —uma área equivalente a mais de 24 milhões de campos de futebol.
Os dados são de um estudo feito pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com instituições estrangeiras, que aponta que o fogo colocado em área desmatada se espalha por uma região de mata nativa igual ou maior ao local que se pretendia queimar.
A mata nativa afetada corresponde a 1,3 vezes o tamanho do território desmatado. "Esse efeito indireto do desmatamento, de potencializar a destruição do fogo, muitas vezes, não é contabilizado", afirma Ana Carolina Pessôa. Pesquisadora do Ipam, ela colaborou com o estudo que analisou áreas de cerrado dos estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
De acordo com o estudo, apenas 7% dos incêndios que começaram em área desmatada se mantiveram dentro dos limites da região convertida —e a maior parte do território atingido é de propriedade privada.
No total, foram 14,7 milhões de hectares queimados em áreas privadas, que perderam 27% de sua vegetação nativa em incêndios ligados ao desmatamento. Áreas públicas de uso sustentável aparecem em seguida, com 1,4 milhão de hectares atingidos. Terras indígenas, mesmo com baixos índices de desmatamento, também foram afetadas, com 1,2 milhão de hectares queimados relativos ao desmatamento.
O fogo é, geralmente, utilizado nas áreas com a vegetação derrubada para preparar o solo para plantio ou pasto. A pesquisadora lembra que o fogo é uma parte importante do ecossistema do cerrado, faz parte do ciclo do próprio bioma, com incêndios que surgem naturalmente e com práticas de comunidades tradicionais, que usam a queima de pequenas porções de terra no seu dia a dia.
No entanto, a frequência e a intensidade do fogo com origem antrópica, provocados por ação humana, alimentam as mudanças climáticas, acelerando a perda da biodiversidade, aumentando as emissões de carbono, o que torna o ambiente ainda mais propenso a novos focos de incêndio: "quanto mais fogo, mais fogo", diz ela.
O estudo considerou a área queimada relacionada ao desmatamento, que é todo o território atingido pelo incêndio: a zona desmatada e a vegetação nativa. Foram contabilizados os focos de fogo iniciados dentro, ou em até 1 km de distância da região desmatada, que ocorreram em até dois anos após a conversão da vegetação. Com dados que monitoram o desmatamento, o fogo e o uso da terra, os cientistas puderam rastrear o ponto de ignição das queimadas, explica Ana Carolina.
"No cerrado, é relativamente fácil mapear o fogo, mas existem desafios no controle. A região tem uma vegetação mais seca e mais aberta, por isso o incêndio se espalha muito rápido ."
Os dados da pesquisa, afirma, devem ser levados em consideração para fortalecer ações de combate ao desmatamento e também a elaboração de políticas públicas de prevenção de incêndios e manejo do fogo. "Além do desmatamento em si, que já é muito ruim para o ecossistema, ainda há o aumento do território impactado pelo fogo."
Segundo dados do BD Queimadas, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 2024 o cerrado registrou 81.432 focos de incêndio, um aumento de 60% em relação aos números de 2023.
Sobre o cenário do bioma, a pesquisadora chama atenção para urgência de ações de adaptação climática, uma vez que o ciclo natural do fogo no cerrado já foi alterado, e as comunidades tradicionais têm seu modo de vida ameaçado pelo agravamento da crise climática.
"O manejo do fogo deve considerar toda a particularidade não só no território, mas nas pessoas que vivem ali. Para trabalhar não só no combate, de forma responsiva, quando já existe um incêndio, mas de forma preventiva."
Fonte: Folha de S. Paulo

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