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Poluição por metano obriga moradores de favela de São Paulo a mudar de rotina

25/03/2025

A placa desbotada indica que o prédio abriga a escola municipal Péricles Eugênio da Silva Ramos, em Heliópolis, na zona sul de São Paulo. Mas dois anos já se passaram desde a última atividade pedagógica no local, fechado após a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) identificar elevado acúmulo de metano (CH4) no solo.
No interior do imóvel, a vegetação avança sobre o terreno que os vizinhos dizem estar abandonado. O lixo espalhado pelo chão denuncia um cenário que se transformou em símbolo das consequências reais do segundo gás-estufa que mais contribui para o aquecimento global, atrás apenas do dióxido de carbono (CO2).
As primeiras informações eram de que a unidade ficaria interditada por 180 dias para uma reforma hidráulica. No período, os cerca de 600 alunos seriam provisoriamente realocados em um outro colégio a dois quilômetros de distância. Os seis meses, porém, foram sucessivamente prorrogados e o prazo deu lugar a um contexto de incertezas e indignação na comunidade.
Procurada, a Cetesb informou que realiza inspeções periódicas na região e que recebe relatórios regulares da Cohab (Companhia de Habitação Popular) de São Paulo, responsável pelo monitoramento. Esclareceu ainda que a reabertura da escola depende da implementação de um sistema de dissipação passiva de metano, uma vez que o mecanismo de exaustão atual é insuficiente.
O órgão também explicou que seria necessária a instalação de sistemas de dissipação passiva nos pisos térreos dos prédios do conjunto habitacional para garantir a segurança.
A DW também entrou em contato com a Cohab, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.
"Foi tudo da noite por dia", reclama a dona de casa Cinthia Cristina Vieira, de 45 anos, cujos filhos, Enzo Vieira e Lauryn Vieira, de 12 e 9 anos respectivamente, estudavam na escola. "As professoras pegaram as coisas às pressas, não deu tempo de tirar nada de lá", lembra.
A mãe conta que os alunos foram transferidos para o CEU (Centro Educacional Unificado) Meninos de maneira improvisada. As salas tiveram que ser rapidamente divididas e muitas não tinham nem sequer ventilador. Também não havia carteiras suficientes para os estudantes, e o espaço para as refeições era apertado.
O processo de adaptação foi particularmente difícil para Enzo, que tem autismo. O jovem chegou a enfrentar episódios inéditos de surtos nervosos, em meio à transição, que Cinthia considerou inadequada. "Eles estão na CEU Meninos há dois anos sem nenhum tipo de previsão de retorno", afirma.
Após tanto tempo de indefinição, a assistente administrativa Ana Paula Almeida cansou de esperar por uma resposta. Ela decidiu transferir o filho Bernardo Almeida, 11, para um colégio ainda mais distante. "As condições de estudo ficaram muito precárias", critica.
Por meio da Secretaria Municipal de Educação, a Prefeitura de São Paulo afirmou ter feito adequações na CEU Meninos para receber os alunos da escola Péricles Eugênio da Silva Ramos, mas não respondeu se há previsão para a reabertura do colégio fechado há dois anos.
O caso ilustra o impacto desigual de desequilíbrios ambientais causados por ação humana. Heliópolis é a segunda maior favela de São Paulo e a sexta do Brasil, com 55.583 habitantes no Censo de 2022, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A organização social Unas Heliópolis e Região contabiliza uma população ainda maior, de cerca de 200 mil, com base em números de atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e da subprefeitura local.
Como muitas outras pelo país, a favela cresceu de maneira exponencial e desordenada ao longo das últimas décadas. Próximo ao poluído rio conhecido como córrego dos Meninos, conjuntos habitacionais pintam o horizonte com prédios coloridos, que formam contraste com instalações industriais. É ali que fica também a escola municipal fechada desde 2023.

Esta reportagem na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo

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