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´Sumiço´ de pequenos animais que passam a vida enterrados entre os grãos de areia preocupa cientistas

25/03/2025

Talvez você já tenha se deparado com os carismáticos tatuís em algumas praias. Esses pequenos crustáceos da espécie Emerita brasiliensis pertencem à ordem Decapoda e passam a maior parte da vida enterrados entre os grãos de areia, na região de espraiamento, entre o ir e vir das ondas.
Apesar de sua importância ecológica, os tatuís são muito sensíveis a impactos ambientais e atividades humanas, sendo bioindicadores de qualidade ambiental. A queda no número desses animais tem sido observada em praias arenosas de várias partes do mundo ao longo das últimas décadas. Em alguns momentos, no entanto, seu reaparecimento é comemorado.
Como esses crustáceos possuem ciclos naturais de crescimento e reprodução que variam ao longo do ano e são influenciados por fenômenos climáticos, como El Niño e La Niña, surge a dúvida: até que ponto o desaparecimento dos tatuís é um processo natural ou um reflexo da degradação ambiental causada por ações humanas?
Algumas respostas podem ser buscadas no ciclo de vida desses animais. A forma clássica como os conhecemos, enterrados na areia, é chamada de fase bentônica. Mas, muito antes disso, os ovos carregados pelas fêmeas eclodem, gerando pequenas larvas. Elas são liberadas nas águas marinhas e passam por oito estágios de desenvolvimento, em até 90 dias, antes de retornarem à areia. Durante essa fase, são transportadas por correntes marinhas e marés, que funcionam como um conector entre praias diferentes.
Em Ecologia, os grupos geneticamente conectados, mas separados espacialmente por processos de dispersão, são chamados de “metapopulações”. Um dos modelos desse conceito é o “fonte-sumidouro”: algumas praias funcionam como fontes, fornecendo novos indivíduos, enquanto outras atuam como sumidouros, recebendo tatuís, mas sem condições de sustentar seu crescimento e reprodução. Isso explica porque o avistamento momentâneo de tatuís nem sempre representa uma presença efetiva.
Tatuís desempenham um papel relevante na cadeia alimentar. Apesar de enterrados, mantêm suas antenas filtradoras em contato com a água, de onde obtém nutrientes microscópicos e pequenas partículas orgânicas, além disso, são alimento para crustáceos maiores, peixes, gaivotas e outras aves costeiras. Por isso, são chamados de “elos tróficos”, que conectam o mundo microscópico a predadores de níveis superiores na cadeia.
Nosso grupo de pesquisa, apoiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), reúne laboratórios de ecologia e genética das universidades do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Fundação Oswaldo Cruz. Em uma revisão recente de 61 estudos publicados entre 1974 e 2023, identificamos seis principais fatores antrópicos que afetam o gênero Emerita no mundo: toxinas, microplásticos, pressões nas areias (como pisoteio e práticas de limpeza), variações na temperatura da água, alterações nos canais de descarga de água doce (geralmente por esgoto tratado) e modificações físicas na região da praia por obras de engenharia.
Portanto, a redução populacional dos tatuís pode ter múltiplas causas, como poluição, impactos diretos sobre a areia, até mudanças nas condições das águas e efeitos das mudanças climáticas globais. Essa revisão também revelou que os tatuís estão se tornando menos abundantes em várias regiões, incluindo México, Uruguai, Estados Unidos, Índia, Irã e Brasil.
Os tatuís são estudados no Estado do Rio de Janeiro desde os anos 1990. Suas populações são registradas desde a Baía da Ilha Grande e adjacências da Baía de Sepetiba, no litoral sul, passando pela região metropolitana e algumas praias da Baía de Guanabara, e estendendo-se até São Francisco de Itabapoana, no litoral norte.

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