
25/03/2025
A Colômbia iniciou, neste domingo (23), a transferência de seu último chimpanzé em cativeiro de um zoológico de Pereira para um santuário no Brasil. A ideia é que o animal conviva com outros símios, depois de quase dois anos de solidão após a morte, a tiros, de dois de seus companheiros.
Yoko, de 38 anos, 60 quilos e quase sem dentes pelos maus-tratos que sofreu após ser comprado no mercado ilegal, viajará desta cidade na região cafeeira da Colômbia (centro-oeste do país) para Sorocaba, no interior de São Paulo.
Na jornada, batizada de "Operação Arca de Noé", Yoko será acompanhado pelo veterinário Javier Guerrero.
"É um chimpanzé muito humanizado, seu grau de amansamento é muito alto. Basicamente, se comporta como uma criança, o que não deveria ser assim, porque deveria se comportar como um chimpanzé", disse Guerrero.
Primeiro, uma aeronave da Força Aérea colombiana o levou até Bogotá. Em seguida, será transportado em um avião de carga até o Brasil, onde especialistas esperam que consiga ser aceito pelos outros primatas e se relacione com eles.
Yoko era o último grande primata vivendo em cativeiro na Colômbia. De acordo com a ONG internacional Projeto Grande Símio, a Colômbia se torna desta forma o primeiro país do mundo a ficar livre de grandes símios em cativeiro de maneira voluntária.
Sua partida "é profundamente simbólica", diz à AFP a senadora ambientalista Andrea Padilla, que o apadrinhou. "Estes grandes símios não têm porque estar no nosso país", opina.
Desde 2018, Yoko vivia no zoológico Bioparque Ukumarí de Pereira, aonde chegou após ser apreendido pela polícia enquanto era levado para a Venezuela. Ainda filhote, foi adquirido no mercado ilegal por um narcotraficante.
Em 2023, Chita e Pancho, uma fêmea e um macho, fugiram desse zoológico e foram sacrificados por autoridades a tiros, que justificaram a ação pelo risco que os bichos representavam para as comunidades vizinhas. O caso motivou protestos de defensores dos direitos dos animais.
Por ter sido criado como um ser humano e ter adquirido hábitos como assistir à televisão, Yoko tinha dificuldades de socializar com outros chimpanzés, contam seus cuidadores.
No entanto, tinha uma relação próxima com Chita, e por isso perdeu o vínculo com a própria espécie após sua morte.
Devido à criação que teve, Yoko gosta de frango e das frutas doces como bananas, mangas e uvas.
Nas mãos do traficante, cuja identidade não foi revelada, era alimentado com comida não saudável, o que lhe gerou problemas dentais. Como os humanos, os chimpanzés têm 32 dentes, mas restaram apenas quatro em Yoko.
Além disso, o ensinaram a fumar e o vestiam com roupas de luxo, por isso contraiu dermatite e perdeu parte da pelagem.
Na natureza, essa espécie originária da África vive entre 40 e 45 anos, e sob cuidado profissional pode chegar aos 60.
Como Yoko não viu chimpanzés em seus primeiros anos de vida, ele tem comportamentos e maneiras de se comunicar diferentes.
"Negaram a ele a possibilidade de ser um chimpanzé e crescer com sua família", lamenta a auxiliar veterinária Alejandra Marín.
César Gómez, biólogo coordenador de treinamento animal de Ukumarí, espera que Yoko encontre chimpanzés compatíveis com seu comportamento em Sorocaba.
"Podemos resumir Yoko como um indivíduo que não é um chimpanzé no sentido estrito (...) é um animal que se identifica muito mais com os seres humanos", explicou.
"Para lhes dar um exemplo, um sorriso é algo positivo, mas para os chimpanzés é algo negativo e esses tipos de situações comunicacionais Yoko não as entende", concluiu.
Ainda não está claro se Yoko foi adquirido em um criadouro ilegal na Colômbia ou se foi tirado de seu hábitat, na África.
O chimpanzé é considerado uma espécie em risco de extinção pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Os territórios em que habita ficam sobretudo em Guiné, Costa do Marfim e República Democrática do Congo.
Por excentricidade, chefões do tráfico colombianos adquiriram todo tipo de animais exóticos como animais de estimação ou para ter seus próprios zoológicos.
O caso mais conhecido foi o de Pablo Escobar, que chegou a ter elefantes, girafas, rinocerontes e cangurus, entre outros animais, em sua famosa Fazenda Nápoles.
Atualmente, os descendentes de um casal de hipopótamos que o barão da cocaína comprou se reproduzem sem controle em uma região do norte e do centro do país e representam uma ameaça para os ecossistemas, segundo especialistas.
Fonte: Folha de S. Paulo

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