
20/02/2025
O mês de janeiro de 2025 foi o mais quente da história, segundo dados do programa de observação Copernicus. O Brasil vem sofrendo os impactos de ondas de calor severas desde o início do ano, com termômetros registrando recordes históricos em diversas regiões. Em uma situação na qual todos somos prejudicados, as crianças sofrem particularmente, por serem especialmente vulneráveis ao calor extremo. No Rio Grande do Sul, o jeito de minimizar esse impacto foi adiar a volta às aulas, ferindo um direito das crianças, uma vez que as escolas não têm infraestrutura adequada: faltam áreas verdes, oferta de água e outras soluções que ajudem a amenizar o calor e criar resiliência climática.
A exposição a altas temperaturas pode causar danos duradouros à saúde e ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, como dificuldades de aprendizagem, baixa qualidade do sono e efeitos negativos para a saúde mental e o comportamento. Para bebês e crianças pequenas, o calor é ainda mais perigoso, pois seus corpos, por serem menores, se aquecem mais rapidamente e transpiram menos, liberando menos calor. Além disso, elas também têm mais dificuldade para procurar ambientes frescos e menos autonomia para se hidratarem.A pesquisa “O acesso ao verde e a resiliência climática nas escolas das capitais brasileiras”, realizada pelo Instituto Alana em parceria com a Fiquem Sabendo, a partir de dados levantados pelo MapBiomas, traz informações sobre o acesso à natureza em 20.635 escolas públicas e particulares, de educação infantil e fundamental, nas capitais brasileiras.
O estudo — que apontou que cerca de 370 mil alunos estudam em instituições localizadas em áreas de risco hidrogeológico — revelou que, em uma a cada três capitais, pelo menos metade das escolas ficam em locais que apresentaram desvios de temperatura considerados altos, ao registrarem pelo menos 3,5ºC a mais de temperatura de superfície em seu território do que a média urbana. Ou seja, são escolas localizadas em ilhas de calor.
A falta de natureza e a urbanização desenfreada são fatores que contribuem para essa situação: a pesquisa mostrou que 78% das escolas mais quentes não têm área verde no lote ou têm menos de 20% de cobertura vegetal. O cenário se agrava na educação infantil, com 43,5% das escolas sem áreas verdes. Ao todo, 20% das escolas nas capitais também não têm praças e parques no entorno de 500 metros, impactando diretamente mais de 1,5 milhão de alunos.
Embora a intensidade do calor seja influenciada pela infraestrutura de cada escola, sempre há perda de aprendizado em um dia letivo sob calor extremo, pois a capacidade de concentração das crianças cai, e muitas vezes aulas são canceladas. Evidências também mostram que durante o recreio, quando a temperatura aumenta, as crianças diminuem a atividade física e procuram por sombra.
“Esse cenário que estamos vivendo, com ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, mostra que é essencial investir em políticas públicas de resiliência climática, que possam assegurar às crianças o pleno direito de conviver e aprender em ambientes saudáveis. Isso passa pela ampliação do contato com a natureza e por uma maior presença de verde nas escolas e em seus entornos”, afirma JP Amaral, Gerente de Natureza do Instituto Alana. “Temos sempre de ter em mente que as crianças e os bebês são especialmente vulneráveis aos efeitos da crise climática, e as desigualdades sociais também desempenham um papel central em como determinados grupos são particularmente afetados”.
Se as ilhas de calor e os danos causados pelas altas temperaturas afetam tanto escolas públicas quanto particulares, a falta de presença de natureza nas escolas é agravada pelas desigualdades raciais e econômicas, sendo maior para estudantes que vivem em favelas e comunidades urbanas, bem como para alunos negros. Cerca de 35% das escolas mais quentes são escolas negras (em que mais de 60% dos alunos se declara negro), enquanto apenas 8,6% são escolas brancas.
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