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Como a seca ameaça a pesca do pirarucu na Amazônia

13/02/2025

A temporada de pesca do pirarucu, o maior peixe de escama de água doce do mundo e habitante da Amazônia, chega ao fim de um jeito anormal. Nunca os pescadores tiveram que estender o trabalho até meados de fevereiro e, ainda assim, retornarem com um carregamento abaixo do esperado.
O grupo de Raimundo Queiroz passou dois longos períodos nas águas tentando fisgar os mil peixes que tinha autorização para pescar, mas não conseguiu. Voltaram para casa, em Alvarães, Amazonas, com 911, e com a preocupação do que virá pela frente.

"A seca foi muito grande e quando o rio começou a encher foi de uma vez. A gente lutou muito, mas não conseguiu pescar toda a nossa cota", diz Queiroz à DW, ex-presidente da Colônia de Pescadores de Alvarães, que ajuda a garantir renda para quase 200 famílias da região, no médio curso do rio Solimões, e atual coordenador do Acordo de Pesca do Pantaleão.

Faz 25 anos que a relação dos ribeirinhos com o gigante da Amazônia precisou mudar, e Queiroz foi um dos que incentivaram a adaptação. Por causa da captura desenfreada no passado, o pirarucu entrou em risco de extinção e teve a pesca proibida. Só depois de muita ciência aplicada e cooperação, o peixe voltou a ser visto nos lagos amazônicos.
"Foi muito difícil, mas a gente entendeu que precisava fazer a preservação para que tivesse sempre peixe para trabalhar. O pirarucu voltou, mas agora a gente enfrenta um novo problema", afirma Queiroz.
Nos últimos dois anos, foi a água que faltou. A seca na Amazônia, onde está a maior bacia hidrográfica do planeta, foi extrema e levou alguns rios aos menores níveis já registrados. A história de sucesso que salvou o pirarucu precisa de novo se adaptar a um novo cenário.
Ana Cláudia Gonçalves percorre as comunidades no entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé, a 600 quilômetros de Manaus, e tenta acudir os ribeirinhos. Filha de pescadores, ela se transformou numa das figuras mais respeitadas da região pelo seu conhecimento tradicional e técnico.
"Todos os grupos assessorados por nós estão tendo dificuldades para pescar", diz Gonçalves à DW. Ela coordena o Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá e apoia 45 comunidades, três colônias e uma associação de pescadores.
Durante a seca, o mato cresceu muito nas áreas normalmente alagadas e, no período autorizado da pesca, por causa da vegetação alta, os barcos não conseguem chegar em alguns pontos. Segundo Queiroz, o pirarucu "se esconde" nesses espaços.
"Antes, a gente não conseguia pescar porque faltava material. Hoje, temos material, temos tudo, mas não conseguimos chegar nos lugares. A seca forte e o alagamento rápido demais está atrapalhando muito", diz.
A dificuldade se repete em outras regiões do estado. No curso do médio do rio Juruá, em Carauari, a seca também afetou profundamente a atividade dos pescadores. "O impacto está mais na logística de pesca e no transporte do peixe. Com a água baixa, muita gente não conseguiu a pesca", afirma João Campos-Silva, presidente do Instituto Juruá e pesquisador associado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A grandiosidade do pirarucu, que pode chegar a três metros de comprimento, contribuiu para que ele se tornasse vulnerável. A espécie também tem baixa taxa de fecundidade, respiração aérea e um hábito sedentário que facilita sua captura.
Já no fim de 1800, o pirarucu é listado como principal recurso pesqueiro da Amazônia. A superexploração levou o peixe ao risco de extinção – o que chegou a acontecer de fato em algumas regiões. Em 1999, sua pesca foi proibida no estado do Amazonas e, em 2004, a regra passou a valer nacionalmente, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
O cenário dramático desafiou cientistas e órgãos ambientais a experimentarem. Os primeiros testes de conservação aliado à pesca controlada surgiram com o Instituto Mamirauá, criado em 1999. O método científico foi desenvolvido com base no conhecimento tradicional: os pescadores contam os peixes adultos que sobem à superfície para respirar e, a partir do número obtido, planejam o quanto poderão fisgar. Todo esse processo é faz parte do chamado de manejo, ou gerenciamento da pesca.
Depois dos resultados promissores documentados por Mamirauá, o Ibama começou a liberar o manejo comunitário em 2005. A captura permitida é de no máximo 30% dos peixes adultos do total contabilizado nos lagos naturais onde os pescadores atuam.

A matéria na íntegra pode ser lida clicando no g1

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