30/01/2025
A presença de lixo na costa amazônica tem alterado o comportamento de algumas espécies de aves, que passaram a utilizar plástico na construção de seus ninhos. Outro fator para esta ação anormal dos pássaros seria a escassez de matérias-primas naturais, como fibras, folhas secas, raízes de orquídeas e fungos rizomorfos (de aparência de galhos).
Os "ninhos de plásticos" encontrados no Amapá e no Pará são predominante azuis, o que chamou a atenção dos pesquisadores. Os estudos sobre o tema ainda não definiram o motivo da escolha da cor. A principal hipótese é alta disponibilidade de materiais de pesca, em sua maioria azuis, nas praias e nas áreas de mangues.
Raqueline Monteiro, do Iepa (Instituto de Pesquisa do Amapá), encontrou 12 ninhos de japiim (Cacicus cela) feitos a partir de plástico na praia do Goiabal, no município de Calçoene (AP), a cerca de 356 km de Macapá. Em algumas regiões, a espécie é conhecida como xexéu. Os mais recentes achados são dia 17 deste mês.
Ela investiga a poluição plástica na costa amazônica através do projeto Olamar (Observatório do Lixo Antropogênico Marinho), realizado também no Pará e no Maranhão, que conta com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e parceria de outras instituições educacionais.
"Verifiquei, junto com o nosso técnico do projeto, essa colônia de 12 ninhos de plástico. Vi que ficavam em um manguezal e eram praticamente todos feitos com linhas de pesca azul, material provavelmente oriundo da praia, que recebe muitos resíduos do mar", disse.
Monteiro relata que a região onde os ninhos foram encontrados é remota, o que gera alto custo logístico e financeiro para a pesquisa. Ela destaca que continuará estudando os mesmos pontos de coleta antes de partir para novas áreas da amazônia.
"A ideia é expandir a pesquisa, porque com a divulgação das mídias sociais, por exemplo, nós tivemos muitas notícias. Ocasionalmente, a gente recebe fotos de moradores identificando esses ninhos em áreas remotas da região da costa amazônica", diz.
"A disseminação desse tipo de conhecimento nos dá melhor abrangência da região, porque as questões logísticas e financeiras para fazer pesquisa na amazônia são bem complexas."
No estado vizinho, uma outra pesquisadora também investiga esse comportamento das aves em meio à poluição marinha. Adrielle Caroline Lopes, da UFPA (Universidade Federal do Pará), iniciou a observação ainda em 2021 e fez dela o tema do seu mestrado em oceanografia.
Lopes focou sua pesquisa na região de Salinópolis (PA), onde encontrou os primeiros ninhos com plástico feitos pela espécie japu-preto (Psarocolius decumanus). Há registros também em outras áreas da região, como na Ilha de Maiandeua, popularmente conhecida como Algodoal.
"No final de 2024, a gente ainda fez algumas coletas, apesar de eu já ter terminado o mestrado. Como eu pretendo entrar no doutorado com esse tema, fizemos mais coletas em Salinópolis e achamos novos ninhos [com plástico]", relata.
Segundo Lopes, alguns dos ninhos encontrados são compostos quase 100% por plástico.
"O japu-preto, apesar de não ser uma ave marinha, está nas nossas ilhas, utilizando apetrecho de pesca [nos ninhos]. Então, é um trabalho muito importante avaliar essa poluição plástica, porque provavelmente essa ave pode ser um bioindicador da poluição do ambiente", explica.
Apesar da semelhança visual nas fotos, as duas espécies de pássaros flagrados usando plástico nos ninhos diferem em porte. Segundo o biólogo Joandro Pandilha, pesquisador de avifauna amazônica na Unifap (Universidade Federal do Amapá), o japiim fêmea mede entre 22 e 25 cm com peso até 48 g, e o macho varia de 27 cm a 29,5 cm e pesa até 98 g.
Enquanto isso, o japu-preto possui medidas de 36 cm a 38 cm (fêmea) e de 46 a 48 cm (macho) e peso de até 360 g.
Pandilha ressalta que as aves correm risco de contaminação pelo contato com o material plástico e sua possível ingestão. Ele aponta também que o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), presente em áreas urbanas, é uma das aves que passaram a utilizar o plástico presente no ambiente na construção de ninhos.
"Diferentes espécies de aves têm utilizado cada vez mais materiais plásticos na construção de ninhos, em decorrência da escassez de matéria-prima natural, ou mesmo pela grande presença de plástico no ambiente urbano ou até mesmo em florestas, utilizadas como descarte de lixo", afirma.
"Esse material não faz parte da vida desses bichos e podem trazer riscos como contaminantes infecciosos para as aves adultas e filhotes, além de estresse e doenças, provindas principalmente dos microplásticos ou mesma pela ingestão ocasional de lixo presente nos ninhos", completa Pandilha.
Fonte: Folha de S. Paulo
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