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O experimento soviético que levou animais da América do Sul ao Cáucaso e acabou em desastre ambiental

21/11/2024

Em meados do século 20, o zoólogo russo Nikolai Vereshchagin embarcou em uma ambiciosa missão pela paisagem montanhosa do Azerbaijão e das vizinhas Armênia e Geórgia. Ele queria coletar todos os registros possíveis sobre animais que haviam desaparecido dessa região.
Ao longo da costa azeri do Mar Cáspio, as pinturas rupestres documentam uma savana de outro mundo, onde os seres humanos caçavam auroque (um bovino selvagem), gazelas e cabras.
Vereshchagin percorreu o Cáucaso em suas viagens e encontrou uma infinidade de sinais de mudança e danos, incluindo milhares de fósseis e fragmentos ósseos de animais perdidos, como mamutes-da-estepe e tigres.
Em 1954, Vereshchagin usou suas descobertas para escrever um relato sobre a evolução do Cáucaso ao longo de mais de 11 mil anos, primeiro devido a um aquecimento natural do clima e, depois, devido à “caótica atividade humana”.
Seu livro, Os Mamíferos do Cáucaso, foi recebido por seus superiores soviéticos como uma obra brilhante e "um tanto inusitada", não tanto como uma história autorizada, mas como uma colagem de fragmentos que conectavam dados paleontológicos antigos com histórias recentes de grandes caçadas lideradas por duques e czares depostos.
De uma perspectiva moderna, o livro se destaca por uma razão muito distinta. Seu autor não se limitava a registrar a história ecológica da região, mas estava, na verdade, mudando-a experimentalmente.
Vereshchagin tentou refazer os ecossistemas que documentava, substituindo as criaturas extintas da paisagem por animais importados em grande escala.
Seus esforços deixaram uma marca na região que ainda pode ser sentida hoje: o Azerbaijão e seus vizinhos têm populações prósperas e obstinadas de espécies invasoras.
As décadas posteriores aos anos 1930 foram um período de experimentos audaciosos nas áreas selvagens da União Soviética. Vereshchagin fez parte da equipe que liderou os esforços para reimaginar essas paisagens, fornecendo animais que poderiam ser caçados por sua carne e peles.
Além da caça, havia também um objetivo mais confuso: "enriquecer" os ecossistemas locais.
Os experimentos da chamada "aclimatação" de animais de um país para outro foram produtivos.
No Azerbaijão, nove espécies de mamíferos foram introduzidas, incluindo chinchilas de cauda curta dos Andes, cães-guaxinim da China e cervos-sika do Japão, além das doninhas-fedorentas, as famosas residentes de cheiro forte da América do Norte.
A maioria dessas espécies teve dificuldades para se estabelecer no cenário diverso do Azerbaijão, mas uma em particular prosperou.
Na década de 1930, Vereshchagin supervisionou pessoalmente a introdução de uma comunidade inicial de 213 roedores gigantes sul-americanos – conhecidos como ratão-do-banhado, nútria, caxingui ou ratão-d´água – cujas peles resistentes poderiam ser usadas para fabricar chapéus e adornos para casacos.
Sem saber, Vereshchagin e sua equipe trouxeram com orgulho ao Cáucaso um animal que, no século 21, seria reconhecido como uma das 100 piores g1espécies invasoras do mundo.
Hoje, 70 anos após a publicação de seu livro, é possível encontrar ratões-do-banhado,em quase todos os pântanos do Azerbaijão, afirma o pesquisador ecológico Zulfu Farajli.

Saiba mais no g1

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