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Empreendedora troca lixo por moeda verde, aquece comércio e já reciclou 690 toneladas de materiais

20/08/2024

Papel, plástico, metal. Todo esse material reciclável coletado por moradores e entregue em uma cooperativa é trocado por moedas verdes. Depois, esse dinheiro pode ser usado para consumo em comércios da cidade. E, após vender os recicláveis, a cooperativa compra de volta a moeda verde dos comerciantes. E, assim, um novo ciclo de sustentabilidade recomeça.
Essa iniciativa de incentivo à reciclagem já é realidade e acontece em Igarapé-Açu, no Pará. O projeto foi estruturado pela empreendedora social Carol Magalhães.
A moradora de 47 anos iniciou isso lá em 2018, com a fundação do Movimento Moeda Verde. A ideia surgiu após a empreendedora observar a situação crítica dos igarapés presentes na cidade, com muito lixo espalhado. Um projeto de troca de material reciclável semelhante, que conheceu em uma cidade do interior de São Paulo, também a inspirou.
"Eu via os igarapés na minha cidade muito sujos, de material reciclável mesmo, latinhas, e ia acompanhando com esse incômodo. Eu queria mostrar os igarapés que eu tinha nadado para a minha filha, na época com 3 anos, e eles não existiam, eles estavam muito poluídos e aquilo foi me dando uma tristeza", lembra Carol, em entrevista ao Terra.
A empreendedora então usou todo seu conhecimento, adquirido em uma carreira de mais de 20 anos na área de responsabilidade social, para tirar o projeto do papel. Carol, além de ser graduada em Administração de Empresas, é pós-graduada em Gestão Ambiental e mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, pela Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.
Inicialmente, ela lançou a proposta no Facebook e marcou um "Café com Ideias" com moradores da cidade -- que tem 35 mil habitantes, segundo o Censo 2022 -- para, juntos, elaborarem o Moeda Verde. As reuniões do projeto, que começou como um movimento popular, aconteciam nos quintais das casas das pessoas e a cada três meses era realizado um evento para a troca dos materiais recicláveis por moedas verdes.
"Nós fizemos o primeiro evento para apresentar o projeto para a cidade em 26 de outubro de 2018. Saímos de lá muito emocionados, foram mais de 3 mil pessoas, circulamos muitas moedas verdes", diz Carol, que também conta que precisou tirar dinheiro do bolso para dar o primeiro passo na proposta.
Com o passar do tempo, no entanto, os moradores começaram a pedir que as trocas acontecessem com mais frequência. Foi quando, em 2019, Carol criou um espaço para isso: a Central de Valorização de Resíduos de Igarapé-Açu. Anos depois, em maio de 2024, esse local se tornou a Cooperativa Reciclassu, que é administrada por mulheres.
Como funcionam as trocas
Para cada material reciclável coletado e entregue na cooperativa, o cidadão recebe uma moeda verde, conforme a seguinte tabela de preço, de agosto de 2024:
✔️ 6 kg de plástico = 1 moeda verde
✔️ 10 kg de papel/papelão = 1 moeda verde
✔️ 3 kg de ferro = 1 moeda verde
✔️ 500 gramas de alumínio = 1 moeda verde
✔️ 1 litro de óleo = 1 moeda verde
✔️ O vidro ainda não é trocado, mas a cooperativa é um ponto de acúmulo

Cada moeda verde, que existe em papel físico e é numerada para controle, equivale a R$ 1. Esse dinheiro pode ser usado nos comércios cadastrados na iniciativa. Atualmente, 52 estabelecimentos, de diferentes segmentos, já fazem parte do projeto. Carol comenta que até uma funerária participa da ação.
Com essa moeda em mãos, os comerciantes têm um prazo de 30 dias para fazer a troca com a cooperativa. "Eles ligam para gente, falam que estão com as moedas para resgatar e a gente vai até eles, leva o dinheiro e pega as moedas de volta", explica a empreendedora.
Segundo Carol, atualmente, a cooperativa fatura em torno de R$ 300 mil por ano, dos quais 30% desse valor é o lucro.
"A gente consegue agregar 30% de valor econômico em cima do material que está sendo vendido. Mas a gente precisa pagar as pessoas, manter a estrutura administrativa, tudo isso porque a conta é muito justinha. Esse lucro é da cooperativa, mas esse valor é reinvestido na própria cooperativa", diz.

A reportagem na íntegra pode ser lida no Terra

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